31 de agosto de 2007

Férias para longe daqui

SOBERBA. É oficial: estou de férias. E vou para longe daqui. A imagem pode lembrar os ambientes western de um qualquer clássico americano, mas é o Pantanal brasileiro. É para lá que vou e é por isso que faço um intervalo nos filmes. Estou com sede de descoberta, supresa, realidade. E esta é sempre mais poderosa do que a ficção.

30 de agosto de 2007

Prado Coelho vai lembrar-me Woody Allen

INVEJA. «EPC era um pensador no sentido que me é mais querido: demasiado superficial para muitos dos seus colegas universitários (que lhe apontavam a falta de 'obra') e demasiado intelectual para muitos dos seus leitores de jornal (que o acusavam de excesso de academismo).» JOÃO MIGUEL TAVARES in Diário de Notícias
Neste Verão que já se revelou demasiado gélido para a cultura mundial (as mortes de Bergman e Antonioni assim o comprovam), eis que um dos vultos mais respeitados e criticados da cultura nacional conhece um fim. O que é mais estranho nisto tudo é que eu também o conheci, superficialmente é certo, na relação distante entre professor-aluno de uma turma de cem alunos ainda confusos sobre o que querem do futuro. Porém, Eduardo Prado Coelho tinha o dom de parecer o velho amigo lá de casa, o tio culto que aprecia frivolidades, o intelectual que gosta de se aproximar do senso comum. As suas aulas de Cultura Contemporânea foram das mais livres e espontâneas que tive em todo o curso, porque Prado Coelho dava-as em jeito de conversa, testemunho intimista ou pedagogia dissimulada pelo conforto das palavras. E é assim que o recordo: de alguém muito conhecedor, mas também muito afável, bem disposto e nada hermético. No final da cadeira, o exame era um trabalho de tema livre para explorar, em jeito de recensão. E eu, claro, com o bichinho do cinema já a fazer-me cócegas pelo corpo, tinha de desembocar em Woody Allen. E escolhi uma das minhas obras preferidas que, sem o saber, colavam na perfeição com o rasto que EPC deixa em todos nós: AS FACES DE HARRY. Para quem sabe de que filme se trata é a história cómica de um escritor que se vê confrontado (literalmente) com as personagens dos seus livros - que são abstracções da sua experiência. Como se sabe, EPC vivia para os livros e também terminava sempre uma conversa a recordar um excerto de um romance, a citação de um ensaio sobre o estruturalismo ou a mera crónica encontrada no jornal lido durante a manhã. É isso que recordo de EPC: a palavra. E o seu confronto com ela. Talvez um dia publique aqui a minha dissertação sobre AS FACES DE HARRY, dado que a conservo comigo. Ou talvez não. O que sei é que sempre que pensar em EPC me vou lembrar de Woody Allen e das suas neuroses literárias. A cultura nacional está mais pobre. Intelectualmente, mas também em emoção.

28 de agosto de 2007

OS MEUS POSTERS: Queres Ser John Malkovich?

GULA. Se quisermos falar em «posters» inventivos, então o de QUERES SER JOHN MALKOVICH? está no pódio. Não só em termos visuais, mas também dramáticos. Até 1999, era impensável o surrealismo invadir assim o cinema comercial americano. Ainda bem que assim foi!

26 de agosto de 2007

CINEFILIA: Os pinguins estão na moda

INVEJA. Estamos nos últimos dias de «silly season», é certo - apesar de ainda não ter tido as férias que ando a suspirar há meses (a seu tempo...). Por essa razão, o cinema de animação volta a lançar as suas maiores apostas. Ainda não vi «Ratatui», o último prodígio da Pixar que dizem ser imperdível, mas reparei na estreia discreta de DIA DE SURF. Uma animação com pinguins surfistas que confirma a minha teoria de que os pinguins estão na moda. Querem uma prova? Tudo bem, eu dou cinco...

- DIA DE SURF: Esta animação perde em comparação com «Happy Feet» mas não por muito. Em jeito de falso documentário, o filme segue os passos de Cody, um pinguim que dá nas vistas com uma prancha. Divertido q.b.

- BATMAN REGRESSA: Já não é recente esta aventura negra de Tim Burton em que Michael Keaton era o homem-morcego e Michelle Pfeiffer a saudosa Catwoman. Porém, o responsável pelo salutar tom gélido do filme era Danny DeVito, o estranho vilão chamado justamente Pinguim.

- MADAGÁSCAR: O filme promete mais do que cumpre e, no meio desta saga de personagens de um Zoo em desespero com o habitat, quem sobressai é o grupo de pinguins que está sempre pronto para a acção. Na versão portuguesa, foram os Gato Fedorento que lhes deram voz. Boa escolha!

- HAPPY FEET: Novo regresso ao universo dos pinguins, em jeito de comédia musical. Tudo porque um pinguim, que não sabe cantar, aprende a seduzir através de um contagioso jogo de sapateado. O filme destronou «Carros» e levou o Óscar de Melhor Filme de Animação para casa.

- A MARCHA DOS PINGUINS: Belo documentário transformado em peça de ficção poética dado os diálogos inseridos para ilustrar o ciclo de vida da espécie do pinguim-imperador. O resultado final é tão enternecedor quanto inesquecível. Óscar de Melhor Documentário.

24 de agosto de 2007

QUIZ: O que têm em comum estes filmes?

Pela ausência de respostas ao passatempo anterior, das duas uma: ou os meus poucos leitores foram a banhos e não ligaram nenhuma ao desafio ou, finalmente, consegui criar uma combinação de imagens tão rebuscada que ninguém lá conseguiu chegar. E este? Será que alguém atinge a lógica por detrás destas três histórias?

Solução do QUIZ anterior: nos três filmes, cantores pop/rock têm uma pequena participação.
1) PLENTY - UMA HISTÓRIA DE MULHER com Sting
2) O TERCEIRO PASSO com David Bowie
3) NOIVA PROCURA-SE com Mariah Carey

Os extremos tocam-se no cinema francês

AVAREZA. «Faço filmes para saber por que razão os faço. O desejo é o único motor.» CÉDRIC KAHN

Na apresentação à imprensa francesa de SINAIS VERMELHOS, em 2004, houve quem lhe tenha feito a pergunta: afinal, como é que escolhe os seus filmes? Conhecido por evitar rótulos e tentar criar um equilíbrio na gestão dramática sem se afastar das faixas mais largas de público, Cédric Kahn foi sucinto na resposta: «Faço filmes para saber por que razão os faço.» O conceito, embora lacónico, é entendido melhor para quem vê de rajada as suas duas melhores obras que a Atalanta Filmes decidiu compilar num só DVD. O já referido «Sinais Vermelhos» e «O Tédio» (este último produzido por Paulo Branco) são antagónicos nas histórias que apresentam mas próximos no modo como filmam personagens em situações extremas e como deixam perceber que, acima de tudo, é o pulsar emocional que move esta promessa do novo cinema francês. Não só porque aglutina o virtuosismo da mais autoral obra europeia, como consegue criar um efeito viciante e sensual nas imagens que agencia com perícia (reflexo dos seus primeiros passos na montagem televisiva). Nem sempre muito razoáveis, mas sempre justificáveis. Algo que fortalece a ideia para um cinema que não tem outro objectivo além de ser testemunhado com intensidade. Em «Sinais Vermelhos», é a tradição dos policiais de Claude Chabrol e a envolvência clássica do suspense de Alfred Hitchcock que, imediatamente, vêm à memória assim que se assiste às primeiras coordenadas da acção: Antoine (um excelente Jean-Pierre Darroussin) e Helène (Carole Bouquet) decidem, numa noite de Verão, ir buscar os filhos à colónia de férias. O trânsito obriga a seguir pela estrada nacional e, à medida que Antoine se deixa dominar pelo álcool nas paragens que vai fazendo, a sua vida ganha tanto em expiação de comportamentos mal resolvidos quanto em complicações. Helène acaba por abandonar o carro e seguir viagem sozinha, só que a notícia de que um criminoso anda em fuga na região vem adensar uma estranha jornada nocturna, filmada em tempo real e com poucas rupturas cronológicas. Com «Sinais Vermelhos», Cédric Kahn testa as convenções do thriller e mascara-o de road movie intenso, com direito a um twist quando a acção nem sequer precisava dele para ser igualmente poderosa. Já com «O Tédio», a similitude nas deambulações do protagonista são um dos poucos pontos de contacto com a obra anterior, dado que o dilema de Martin (Charles Berling), professor de Filosofia que anda à procura de um sentido para a vida, se acentua assim que decide seguir o rasto de um misterioso pintor de nus femininos. Após a morte súbita deste, Martin envolve-se com a sua musa, Cecilia (a estreante Sophie Guillemin), uma jovem de apenas 17 anos que o transporta para uma rotina de puro desfrute carnal. Entre a pureza e a indiferença, ela torna-se uma obsessão que o leva a questionar as suas teorias afectivas. Brusco, «O Tédio» é a espaços vazio, mas consegue reforçar em cada cena as suas motivações dramáticas. Acima de tudo, é mais uma experiência-teste do cineasta. Como realizador de contrastes, Cédric Kahn tem, por isso, lutado contra ideias pré-concebidas até na elaboração da sua carreira – ao ponto da sua última obra (também já editada em DVD) ser a de um conto infantil delicodoce, «O Avião», em que um jovem crê que o seu brinquedo preferido contém a alma do pai falecido num inesperado acidente.

22 de agosto de 2007

NA SALA ESCURA: O monstro chegou à cidade

IRA. «Cada filme tem o seu género, e eu parto dos códigos de um género para acabar por destruí-lo, fugindo dele, porque o que me interessa realmente é falar da sociedade coreana.» BONG JOON-HO, Realizador

A tradição do cinema de monstros é tão velha quanto King Kong, isto para dizer que tem acompanhado desde sempre o cinema, evoluindo em verosimilhança e acção à medida que os efeitos especiais permitem testar novas fórmulas. Porém, é também um género pouco dado a histórias densas, de complexidade moral, dado que quase sempre o enredo é apenas um ténue e superficial suporte para fazer brilhar criaturas bizarras. Como se sabe, o cinema oriental é muito prolífico nos filmes de monstros, desde que Godzilla chegou à cidade em 1954, defrontando, a partir daí, os mais rebuscados vilões em dezenas de filmes de espírito «série B». No entanto, a ideia de que um filme de monstros é um mero rol de cenas de acção para exibir técnicas digitais de ponta, relegando uma boa história para segundo plano, tem excepções. E THE HOST - A CRIATURA é uma delas. Com origem na Coreia do Sul, o filme é um bálsamo de inventividade e de completa noção de até onde pode ir o bom espectáculo de terror. Ao contar, com ironia pouco subtil quanto à crítica da omnipotência norte-americana, o surgimento de um monstro criado a partir dos esgotos (e formado pela mistura de substâncias químicas deitadas para o rio), o realizador Bong Joon-Ho é simples e muitíssimo eficaz, oscilando as cenas de terror clássico com o rumo de uma família descoordenada e de poucos meios. O motor da história é simples: quando vem à superfície (numa impressionante sequência de acção vertiginosa), a criatura faz uma série de vítimas e leva consigo de volta para o esgoto uma criança adorável. Depois de receber um sinal de que ainda está viva, o pai da mesma reúne a família hóstil mas unida para seguir o rasto da menina e aniquilar a bizarra criatura, com um visual a lembrar o ser alienígena que atormentou Sigourney Weaver por quatro vezes. E é no retrato complexo dessa família que Joon-Ho vai concentrar energias e explorar ao máximo até que ponto a vontade permite alcançar objectivos. No meio, há muitos sustos, imagens coerentes da besta à procura de próximas vítimas, uma crítica à (falsa) obsessão das autoridades pela higiene e... um longo esgar mordaz perante as forças norte-americanas. No final, o que fica é uma imensa aventura, uma jornada louca e um novo retrato de resposta a Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos. E fica também um sinal de esperança: afinal ainda há filmes de monstros que conseguem surpreender sem desvirtuar o poder e o imaginário do cinema.

THE HOST - A CRIATURA
De Bong Joon-Ho (2006)
* * * *
Depois de uma passagem marcante pelo Fantasporto (recebeu prémio e tudo), este enorme sucesso da Coreia do Sul ganhou um passo firme nas salas de cinema nacionais. E ainda bem: a história é voraz e enérgica, a criatura é filmada com convicção e ataca em óptimas sequências de acção, a família desmembrada é deliciosamente afoita e... o final não vai ser o esperado. Ao condensar todas as emoções em quase duas horas, o filme é uma imensa montanha-russa, algo lacónica mas bastante funcional. Será que um filme de monstros pode ser um dos filmes do ano? Pode e THE HOST - A CRIATURA é-o certamente. Hollywood está atenta e, tão devoradora quanto a besta retratada, já comprou os direitos para realizar uma sequela. A surpresa, esssa, não será certamente a mesma. Obrigatório ver!

20 de agosto de 2007

O QUE AÍ VEM... Sweeney Todd

INVEJA. «Sempre gostei de personagens estranhas.» TIM BURTON

Se há dupla que tem funcionado no cinema comercial é a que se criou entre Tim Burton e Johnny Depp. Cada vez que cineasta e actor se voltam a reunir uma promessa fica no ar: filme negro, quase gótico e... profundamente irónico. Logo depois da reconciliação de Burton com o cinema familiar em «Charlie e a Fábrica dos Chocolates», vamos ter de esperar ainda uns bons meses para vermos SWEENEY TODD, o musical macabro de Stephen Sondheim que parte do serial killer Benjamin Barker, já adaptado anteriormente para cinema e televisão. Porém, a visão curiosa de Tim Burton (alguém duvida de que ele é dos mais geniais realizadores contemporâneos?) será como nova e as peripécias do barbeiro de ímpetos nefastos tem tudo para triunfar a nível artístico. Pistas? As presenças de Helena Bonham Carter, Sasha Baron Cohen («Borat») e Alan Rickman no elenco e o rigor plástico do costume (a imagem de cima não parece retirada da animação «Noiva Cadáver»?). Agora é só esperar até 2008...

19 de agosto de 2007

OS MEUS POSTERS: Belleville Rendez-Vous

GULA. Enquanto ainda não consegui ver «Ratatui», o novo prodígio animado da Pixar, eis que regresso a um outro tipo de desenho, europeu, tradicional e deliciosamente poético. O francês BELLEVILLE RENDEZ-VOUS é um conto quase sem palavras, uma banda sonora vaudeville e uma história primorosa sobre a jornada de uma idosa em busca do seu neto ciclista.

16 de agosto de 2007

Elogio do Serviço Público

INVEJA. «Por detrás de um homem está sempre uma mulher. E logo atrás dela está a mulher dele!» GROUCHO MARX
Por vezes, há que dar a mão à palmatória. Embora a programação cinéfila esteja muito afastada da RTP2 (quem gosta de cinema não esquece os saudosos ciclos «5 Noites 5 Filmes»), estes meses de Verão têm sido salvos na grelha dos quatro canais pela sessão dupla que a RTP2 exibe todos os sábados e que, em Agosto, inclui sempre um filme dos Irmãos Marx. Neste sentido, a aposta é certeira e, de vez em quando, lá parece que se vislumbram umas nuances de Serviço Público. Apesar do conceito ser ambíguo e demasiado abrangente, certamente que nele está incluído o humor físico de Groucho, Chico ou Harpo Marx. Por isso, atenção: no próximo sábado (dia 18), há que ver, a partir das 22.40, o memorável UM DIA NO CIRCO, em que as célebres personagens voltam a perverter tudo à volta graças ao aproveitamento do ambiente e das rotinas circences. Mas a RTP2 não fica por aqui: exibe logo de seguida, «A Rainha Margot», o bonito épico francês sobre a união entre a católica Rainha Margot (Isabelle Adjani) e o protestante Henri de Navarre (Daniel Auteuil) que, de tão política, vai gerar intrigas palacianas que culminam com a morte de milhares de protestantes. E assim fica completo mais um bom serão cinéfilo, quando apenas a RTP Memória parece ser cada vez mais o canal dos clássicos. Senhores directores de programas da RTP: vocês têm tratado minimamente bem o cinema comercial no canal 1, até «ousam» (e bem) exibir filmes antes do horário ingrato das 23.45, têm resistido e sabido gerir a nova febre das séries televisivas. Mas falta algo: um maior acompanhamento da multiplicidade de filmografias, apostar em documentários para cinema, recordar clássicos europeus e orientais. Sei que não se muda uma programação da noite para o dia. Mas certamente haverá muitos curiosos em ter um cinema que escape ao Jackie Chan, às comédias tipo «Beethoven» (que passaram tantas vezes que a fita deve estar gasta!) ou aos thrillers e filmes-catástrofe do costume. Ainda assim, registo o facto de terem dado uma ligeira reviravolta na programação para exibirem num sábado à noite (na RTP2) o clássico Blow Up, para recordar o cinema de Antonioni. Vocês às vezes até acertam!

14 de agosto de 2007

QUIZ: O que têm em comum estes filmes?

Com o comentário do «Inútil» vejo um progresso: acertou parcialmente no desafio anterior. Parcialmente! Por isso, volto a insistir no Quiz e a requintá-lo com um desafio ainda mais complicado. Os outros foram canja...

Solução do QUIZ anterior: os protagonistas dos três filmes chamam-se John.
1) John Smith (Brad Pitt) em MR. E MRS. SMITH
2) John S. Bottombly (Henry Fonda) em O ESTRANGULADOR DE BOSTON
3) John Smith (Bruce Willis) em O ÚLTIMO A CAIR

NA SALA ESCURA: Quem dobrou os Simpsons?

INVEJA. «Não acredito que estou a pagar algo que podia ver de graça na televisão!» HOMER SIMPSON sobre o «Hitchy and Scratchy Movie» que inicia o filme.
Quem ousou fazer uma dobragem da primeira longa-metragem dos Simpsons? Desculpem-me entrar logo assim a matar, mas é que fiquei estarrecido quando vi Homer Simpson a falar em português no trailer deste filme que... não é para crianças. Repito: Não é para crianças!! Quem ainda hoje confunde a animação de Matt Groening com os filmes animados da Pixar e afins é porque nunca perdeu mais do que cinco minutos a ver um episódio de uma das mais importantes séries animadas de todos os tempos. Ela que até já fez 18 anos de exibição!! As crianças que vão ao engano devem ignorar muita coisa, mas se há algo que define Springfield e os seus idiossincráticos habitantes é que eles são politicamente incorrectos. É por isso que se vê no filme Bart a embebedar-se, Homer a fazer uma alusão à masturbação ou haver algumas referências a armas de destruição maciça. As piadas fazem sentido no cômputo geral do filme, mas ver crianças na plateia a rirem-se sem perceberem 80% do que se lhes passa à frente no ecrã revolta. Fora isso, o filme dirigido por David Silverman é um bálsamo, um último esforço para revitalizar a série e actualizá-la, mostrar o que vale junto do público. O que é certo é que a animação (tradicional, sim, ou não fosse essa uma imagem forte da saga) é um dos maiores sucessos do Verão e não desvirtua nem um pouco o sentido original da série televisiva. Os Simpsons é mesmo aquele divertimento que nos acompanha há anos e anos e que não queremos que acabe nunca. Pelo que, dado o sucesso artístico e de bilheteira deste filme, só resta uma pergunta: no meio de tanta sequela desinteressante, para quando a continuação dos Simpsons no grande ecrã?


OS SIMPSONS - O FILME
De David Silverman (2007)
* * * *

Já não era sem tempo. Se este filme tem um defeito é por que é que nunca tinha sido feito antes. Senão vejamos: a história da cidade de Springfield à beira do colapso ambiental é arrojada, as personagens não se descolam do que conhecemos na série, o filme homenageia os trejeitos de todas elas (só é pena não ter explorado mais o cinismo de Mr. Burns...), as piadas sucedem-se a um ritmo e com uma relevância difícil de encontrar no grande ecrã e... o tempo passa a correr. Com tudo no sítio certo e uma trama semi-apocalíptica (não é nesse clima que vivemos hoje em dia, assim que se abre a página de um jornal?), o filme é já um marco e, certamente, um dos filmes de 2007. Matt Groening sabe o que faz. Ou não estivesse a sua série há 18 anos com exibição ininterrupta.

12 de agosto de 2007

O MAIOR PECADO DE... Wim Wenders

PREGUIÇA. «Esta é uma perda secante de celulóide.» GREENWICH VILLAGE GAZETTE
Numa altura em que Wim Wenders já era a referência que ainda é hoje, eis que dá um tiro no pé de grandes dimensões. Quando todos estávamos ainda a digerir o peso musical e narrativo do belíssimo documentário sobre Cuba («Buena Vista Social Club»), eis que o cineasta de «Paris, Texas» aceita o repto de dirigir um filme escrito por Bono dos U2 e produzido por Mel Gibson (que faz uma perninha como actor, mas bem podia ter evitado mais uma mancha no seu currículo). MILLION DOLLAR HOTEL - O HOTEL foi vaiado em festivais de cinema porque é, realmente, tão pretensioso no seu estilo quanto vazio de conteúdo e estilisticamente limitado. É daqueles filmes que parece tão cool e convencido de si mesmo, que cai por terra devido ao vazio de emoção. Bono pode ter jeito para criar canções «orelhudas», mas quanto à escrita para cinema deixa a desejar... Num futuro não muito distante, várias personagens bizarras (e desinteressantes) cruzam-se num hotel manhoso de Los Angeles. Porquê? Porque sim, até porque há um filho de um famoso milionário que morre em circunstâncias misteriosas. O caso policial passa para trás das costas e Wenders prefere seguir a relação sem um pingo de autenticidade entre uma Milla Jovovich desajustada e o tonto criado por Jeremy Davies (a roçar o insuportável). Chega de mau gosto? Não, há ainda uma simulação de um suicídio em câmara lenta para mais tarde não recordar. O que vale é que já ninguém se lembra deste filme. Só das duas penosas horas que dura.

CRÍTICAS DE FUGIR
- DIÁRIO DE NOTÍCIAS: Talvez quando Wim Wenders passar de moda volte a fazer bons filmes.
- TORONTO STAR: Se querem ver um bom filme de Wim Wenders, experimentem os anjos de «As Asas do Desejo».
- CINEMA 2000: O resultado é um embaraçoso videoclip, cujas intenções «piedosas» não faz desaparecer a sensação de que as personagens que habitam o Million Dollar Hotel são «freaks».
- CITYSEARCH: Um caso de poesia sem sentido.

OS MEUS POSTERS: Paris, Texas

GULA. Sobre Wim Wenders eis que recordo um singelo poster que reflecte a melhor obra da sua carreira. A sobreposição de imagens confere autenticidade a PARIS, TEXAS, sobre um homem à procura de coordenadas da mulher que ama. Ela é uma bela e também perdida Nasstasja Kinski e a cena da cabine do clube nocturno é das coisas mais tocantes que já vi.

11 de agosto de 2007

Ganhar asas num trapézio

SOBERBA. «Deixa-te estar sozinho! Deixa as coisas acontecerem. Mantém-te sério! Olha mais do que uma vez! Mantém o teu espírito. Mantém a distância. Mantém a palavra!» CASSIEL (Otto Sander) em «As Asas do Desejo»

A imagem é do clássico de Wim Wenders AS ASAS DO DESEJO, mas não é sobre este maravilhoso filme que quero centrar o meu texto. Ou melhor, parto dele para chegar a uma outra experiência, sentida na pele há dois dias. Decidi ir ver o espectáculo de circo aéreo OLA KALA, do grupo francês Les Arts Sauts, em exibição numa tenda arredondada gigante, estrategicamente localizada no Centro Cultural de Belém. Se bem se recordam, no crepuscular filme de Wenders, um anjo desejava ser humano e, por entre simples reflexões sobre o prazer de ser humano, deixa-se deslumbrar por uma trapezista de sorriso plácido e cabelos encaracolados. No fundo, ele é um ser transcendente, ela é o elo realista da história. Pois bem: no espectáculo de novo circo a que assisti, são os trapezistas que parecem anjos, lá no alto, por entre uma bruma cénica, que levitam entre acrobacias mais intensas e místicas do que os banais números dos espectáculos circenses de Natal. O grande mérito de OLA KALA é fazer-nos acreditar de novo no poder ilusório, testar convenções espacio-temporais e assumir a extrema beleza que é testar as leis da gravidade como se fosse a coisa mais singela do mundo. Depois há a música, possante e incisiva, onde predominam as cordas e as ambiências rítmicas (neste espectáculo, até a banda levita... literalmente!), que ilustra e aprofunda os vários números que se sucedem sem pressa. Sem cair no niilismo sensível dos shows do grupo De La Guarda, este é um momento de novo circo (essencialmente, pensado) que incide sobre a estética do movimento aéreo, com diversas acrobacias relacionadas com o voo e com a queda... a 12 metros do chão. A produção do OLA KALA descreve-o na perfeição: «Os corpos substituem as palavras e formam uma linguagem própria que tem o trapézio como suporte.» Sim, aqui não é possível falar. O corpo deixa passar todas as emoções, dita o ritmo e gere um momento de suspensão da rotina. É também por este silêncio que me lembrei de AS ASAS DO DESEJO. Dos instantes de paixão entre o protagonista e a bela trapezista, sendo que ele a visitava diariamente ao pequeno circo onde actuava, deixando-se comover pela sua vulnerabilidade. E isso bastava.

PS - Apesar do espectáculo valer a pena, deixo um aviso: paguem os bilhetes com dinheiro se chegarem depois das 20h00. É que a bilheteira oficial fecha, todo o CCB fecha e... não há Multibanco ali nas redondezas (dá para acreditar!!!!????). Resultado: andar a passo apressado até aos Pastéis de Belém (!!) para levantar dinheiro e andar tudo de novo até ao recinto. Às vezes, parece que vivemos na província. Então quando se fala de cultura...

O QUE AÍ VEM... Indiana Jones IV

GULA. «Não faço de duplo. Só corro, salto e caio. Depois de 25 anos de carreira, sei exactamente o que faço.» HARRISON FORD

A imagem foi tirada no dia 21 de Junho e é a prova de que vai mesmo haver um novo capítulo da saga Indiana Jones. Há quem defenda que a trilogia bastava, mas Hollywood está mais atenta às sequelas e não poderia perder a oportunidade de actualizar o maior herói do cinema de aventuras das últimas décadas (não, Jack Sparrow, não chegaste lá...). Com rugas no rosto, ar cansado, Harrison Ford volta a vestir a pele do arquéologo e a encontrar-se com o par romântico do primeiro filme: a doce Karen Allen. De resto, que se sabe mais? Muito pouco. Apenas que será novamente dirigido por Spielberg, que chega aos cinemas para o ano e que a revelação Shia LaBeouf (o impetuoso protagonista de «Transformers» e «Paranóia») fará de seu filho - e, certamente, vai assegurar a continuação da saga no futuro, quando o Indiana Jones original sofrer da próstata e do reumático... Mais nomes do elenco (muito coeso por sinal)? Cate Blanchett, Jim Broadbent e John Hurt. A maior ausência é mesmo a de Sean Connery, como pai de Indy. Porquê? Porque o actor disse estar muito feliz a gozar a sua reforma. Resta saber se a aura de aventura se vai manter e se o público do século XXI ainda não esqueceu a personagem do chapéu e chicote.

QUIZ: O que têm em comum estes filmes?

Resposta certa e... rápida quanto ao Quiz anterior! Ainda não foi desta que consegui ficar sem resposta. Mas, pronto, sou insistente e estou confiante quanto a este desafio. Pista: não é fácil...

Solução do QUIZ anterior: As três actrizes venceram um Razzie de Pior Actriz.
1. SHARON STONE por O Especialista
2. DEMI MOORE por G.I. Jane
3. LIZA MINELLI por Arthur 2 - On the Rocks

10 de agosto de 2007

QUIZ: O que têm em comum estes filmes?

Sou persistente e vou refinando ainda mais a lógica por detrás do passatempo. Desde já aplaudo quem acertou no anterior... Mas este é bem mais complexo. Alguém acerta?

Solução do QUIZ anterior: Os três filmes contam com uma minúscula participação de Madonna.
1) FUMO AZUL
2) SOMBRAS E NEVOEIRO
3) 007 MORRE NOUTRO DIA

CINEFILIA: As cinco promessas de Agosto

SOBERBA. Depois de tentar criar roteiros semanais de sugestões, eis que a logística da manutenção deste espaço me pede uma reformulação, que seja menos exigente. Assim, no início de cada mês (desta vez um pouco já fora de tempo), deixo de antemão os cinco projectos mais estimulantes a terem direito a estreia nos cinemas. No final do mês, haverá uma surpresa... Esta nova estrutura não proibe que, esporadicamente, apareçam ciclos temáticos para recordar a obra de alguém - já o fiz com Bruce Willis ou Quentin Tarantino, por exemplo. Mas deixemo-nos de rodeios. Embora «silly season», Agosto ainda apresenta bons projectos que convém não perder:

- JYNDABYNE: Boa promessa do novo cinema americano independente, o filme é dirigido por Ray Lawrence, que nos ofereceu a supresa chamada «Lantana», já há uns anos. Aqui, o estilo intimista e assombroso prossegue, quando três amigos descobrem um corpo a flutuar no rio. Já estrou.

- O SABOR DA MELANCIA: Quem viu «Adeus, Dragon Inn» sabe o que esperar sobre este filme do realizador chinês Tian Bian Yi: tudo! Ao que parece, trata-se de uma singela história de amor e uma fábula que funde pop, sexo e melancias sobre uma jovem que descobre que o seu vizinho é actor de filmes para adultos.

- SICKO: Alguém ainda tem paciência para aturar os projectos panfletários de Michael Moore? Apesar das devidas distâncias eu tenho e é com curiosidade e muitos pés atrás que se aguarda a sua última denúncia (que até gerou polémica devido a uma passagem de Moore por Cuba), desta vez ao sistema de saúde norte-americano.

- RATATUI: Última animação da Pixar sobre um rato com dotes de culinária. Dizem que é um bom regresso ao humor para todas as idades, embora tenha decaído um pouco nas bilheteiras norte-americanas. A culpa? «Transformers», «Harry Potter V» e «Shrek 3».

- MUITO BEM, OBRIGADO: Insólito projecto francês, já chegou às salas nacionais. De contornos «kafkianos» assumidos, o filme narra uma espiral de acontecimentos absurdos depois de um homem se meter em problemas com a polícia. Soa bem, não é?

9 de agosto de 2007

Terror estilizado ou com estilo?

IRA. «Ela foi boa durante meses... até que perdeu mesmo a cabeça!» MICK TAYLOR (Josh Jarrat)
Já repararam que todos os meses estreia um filme de terror? Sem a mínima chama, é sempre aquele título que descarto na altura de saber o que vou querer ir ver. É preconceito, mas é também muita desilusão na sala escura. Clássicos, clássicos, só mesmo «O Exorcista» ou «O Projecto Blair Witch». O que se encontra depois são sucedâneos de sucedâneos, algo sem o mínimo cariz original. Como qualquer regra tem excepção, o último filme de meter medo que me lembro de assistir no cinema foi mesmo WOLF CREEK. Há aqui uma atmosfera densa e um fundamento verídico (será mesmo?) que recordam «O Massacre no Texas», uma estética visual alusiva a «O Projecto Blair Witch» e perseguições na auto-estrada próximas de «Um Assassino Pelas Costas». Será que no meio de tantas referências o filme de terror ainda consegue ter uma identidade? WOLF CREEK pode ser a resposta certa pela habilidade como controla (sem evitar) os chavões do filme de terror «série B» e é um dos raros casos que consegue superar a sua linha narrativa pouco estimulante, apostando essencialmente no registo emocional e na capacidade de nunca dispersar o efeito realista da história, capaz de levar o espectador a sentir-se «na pele» das vítimas. Rodado com pequenas câmaras digitais (para, mais uma vez, salientar a proximidade com os protagonistas), WOLF CREEK começa por relatar as semanas de férias de três amigos pelas planícies australianas. Pelo caminho, há uma expedição à terra que dá nome ao filme, apresentada como a região que contém a maior cratera da queda de um asteróide no mundo. Tudo parece correr pelo melhor (os sustos só começam mesmo com quase uma hora de acção já decorrida), até que o carro deixa de funcionar, os relógios param e o céu começa a ficar mais escuro nesta zona desértica, assim como as motivações desta primeira longa-metragem de Greg McLean… Adiantar mais seria trair os alicerces deste thriller psicológico que avança para territórios grotescos e nos apresenta um dos mais surpreendentes vilões dos últimos tempos – a surpresa anterior neste campo tinha sido, provavelmente, a criatura alada de «Jeepers Creepers». Porém, a figura de Mick Taylor (John Jarrat) convence pelo modo como capta o espírito de uma certa mentalidade australiana perdida no tempo, onde nem falta uma irresistível alusão a «Crocodilo Dundee». Mas nada de «luvas de pelica», porque WOLF CREEK é um conto de terror que não se retrai em chocar o espectador. E logo no início deixa-se o aviso: »Todos os anos desaparecem 30 mil pessoas na Austrália. Dez por cento delas nunca chegam a aparecer.» No final, «espremendo-se» o filme não sai sumo, mas uma enorme dose de hemoglobina.

4 de agosto de 2007

OS MEUS POSTERS: Jackie Brown

GULA. Graças a «À Prova de Morte», criei uma secção, dedicada ao potencial que os posters têm enquanto obras de arte e fonte de lembranças cinéfilas. O primeiro poster a entrar na galeria dos melhores posters de sempre (para mim) é o de JACKIE BROWN. Porquê? Porque revela a essência do filme numa imagem negra ou não fosse esta obra uma homenagem ao blaxploitation.

NA SALA ESCURA: Tarantino parte a loiça

IRA. «Lembras-te quando disse que este carro era à prova de morte?Bem, não estava a mentir. Este carro é 100% à prova de morte. Mas para o poder usufruir tens mesmo de estar sentada no meu lugar.» STUNTMAN MIKE (Kurt Russell)


Depois de ter derramado sangue a rodos, aproveitando pelo caminho para homenagear os filmes de samurais, o western ou a acção desregrada, eis que Quentin Tarantino volta a hesitar em trazer novo cinema dramaticamente responsável e cede à perversão, à homenagem a géneros esquecidos e desdenhados, à coolness. Na verdade, o realizador de «Cães Danados» continua a não querer ser levado a sério, ou melhor quer ser levado a sério explorando temas marginais e resgatando-os do esquecimento. Se a homenagem às sessões de cinema grindhouse é uma boa ideia, por outro lado fica a sensação que Tarantino é mesmo o espírito cinéfilo voraz e inconsequente que não consegue dar um passo em frente. Sou da opinião que o mais interessante e ousado realizador da sua geração se encontra num impasse: como criar uma obra genuinamente sua sem perder o espírito transgressor? Como tal, e perante a ausência de resposta, o realizador diverte-se a desmontar chavões de subgéneros relegando para depois (nunca?) uma investida mesmo séria num território verdadeiramente original, só seu. E isso nota-se neste novo À PROVA DE MORTE: o filme funciona muito bem para manter a mística do cineasta revisitador e desbragado, mas não avança um milímetro numa mudança, numa jogada mais arriscada dentro dos contornos da sua carreira de 15 anos. É diversão negra, novamente com conversas a oscilar entre o kitsch e a perversão deliciosa, sem esquecer as referências a marcas e acontecimentos que remetem, por exemplo, para o diálogo inicial de «Cães Danados» sobre Madonna ou o sentido das gorjetas. Sem querer ser um road movie, acaba por sê-lo, a lembrar a obra de estreia de Steven Spielberg («Duel») ou, levemente, um outro filme de Kurt Russell, embora este mais sério e realista, «Avaria no Asfalto». O que fica depois de À PROVA DE MORTE? Uma lembrança de que uma boa história nas mãos de Tarantino pode transformar-se em outra coisa qualquer e nunca se sabe que desenlace a história vai ser... Nada é esquemático, apesar do filme se reger no seu todo pelo estilo que quer convocar. E isso nota-se num dos seus pontos mais inventivos: as imperfeições intencionais da imagem, os planos sobrepostos, o grão na fita, o corte abrupto entre os planos. Como bom filme que respeita a aura «tarantinesca», traz para a colecção de personagens bizarras mas inesquecíveis - onde já estavam A Noiva, Mr. White ou Mr. Pink, Vincent Vega, entre outros - o Stuntman Mike, excelente reabilitação artística de Kurt Russell (que insiste em acumular obras de culto no currículo, muitas das quais por «culpa» de John Carpenter). Embora caloroso e assumidamente «série B», o filme só falha por seguir demasiado à risca aquilo que se espera de uma obra de Quentin Tarantino. Isso pode ser uma enorme qualidade, mas para um realizador tão ousado, não faltará um bocadinho de amadurecimento? É assim tão difícil escapar aos vícios do estilo de homenagem? O próprio Tarantino não se deve preocupar muito com a resposta.


À PROVA DE MORTE
De Quentin Tarantino (2007)

* * * *
Enquanto se aguarda com expectativa a segunda parte do projecto Grindhouse (pela mão do «amigo» Robert Rodríguez), Tarantino chegou primeiro e partiu a loiça toda. O seu filme quer prestar homenagem aos road movies marginais e convoca uma personagem bizarra que se assume como vilão para uma história que tem pouco para contar, além de explorar as suas personagens femininas, com diálogos dengosos, que se vão tornar em vítimas perfeitas nas garras de um vilão que é um imenso cromo. Muito cool e assumidamente ligeiro, o filme convence pela sua aura retro, pela banda sonora novamente espantosa, pelas inúmeras piscadelas de olho à cultura pop dos últimos anos e por um cinema de acção desregrado e inconsequente. Tarantino, quando é que cresces? No caminho, continuamos a ser «putos reguilas» contigo...

3 de agosto de 2007

QUIZ: O que têm em comum estes filmes?

Mais uma vez fui apanhado! Pelo comentário recebido no anterior Quiz (tu, João, estás sempre em cima do acontecimento...) começo a perceber que não é fácil despistar quem insiste em ler o SIN CINEMA. Mas não desisto. Alguém adivinha esta relação?

Solução do QUIZ anterior: Os três filmes contam com banda sonora de Bernard Herrman (o clássico dos clássicos em momentos de tensão e suspense).
1) TAXI DRIVER
2) MARNIE
3)FAHRENHEIT 451

O QUE AÍ VEM... Nue Proprieté

AVAREZA. «A representação é
uma maneira de viver a insanidade de outra pessoa.» ISABELLE HUPPERT
Nos últimos tempos Isabelle Huppert anda mais distante do cinema, mas ainda consegue manter o ritmo de rodagem de dois filmes por ano. Depois de «A Comédia do Poder», NUE PROPRIETÉ foi o que a actriz francesa interpretou também em 2006. Estranhamente, e depois de se estrear em festivais como o de Veneza, por cá tem estado esquecido e tarda a sua estreia no grande ecrã. Melodrama familiar (território onde a actriz costuma ser mais exímia do que a maioria), conta a história de uma mulher divorciada, que tem de lidar com os dois filhos adolescentes, depois de decidir vender a casa para comprar uma mansão com o amante. Ao estilo francês, o filme conta ainda com Jérémie Renier (que deu nas vistas no recente «A Criança»). Porém, tendo em conta que «Manderlay» de Lars Von Trier foi lançado directamente para DVD - numa benesse da FNAC - não é de estranhar que igual destino caiba a esta obra do estreante Joachin LaFosse. Sinal de um enfraquecimento da Atalanta Filmes - a distribuidora mais aceitável em matéria de cinema europeu? Esperemos que assim não seja.

1 de agosto de 2007

Antonioni: morreu o cineasta da angústia

AVAREZA. «Quando dirijo um filme, nuca penso sobre como quero filmar algo. Apenas o faço.» MICHELANGELO ANTONIONI

Deve ter sido a semana mais negra do cinema na última década e... ainda vamos só a caminho da quarta-feira. Hoje, acordei ainda mais pobre do que ontem com a notícia da morte de Michelangelo Antonioni. É certo que o cineasta de BLOW UP já tinha 94 anos, padecia de doença e estava inactivo. Mas era outra poderosa referência que há muito cristalizara nas minhas noções cinéfilas. Espero que Woody Allen, Clint Eastwood, Martin Scorsese, Pedro Almodóvar, Wong Kar-Wai e Kusturica estejam de boa saúde... É que para referências já bastam as perdas destes dois últimos dias. E que dizer de Antonioni? Que era um instigador de novidade visual, o cineasta da angústia, o arquitecto de uma arrojada temporalidade? Isso já se sabe. Que deixa uma obra onde sobressaem títulos como BLOW UP, ZABRISKIE POINT ou PROFISSÃO: REPÓRTER (ainda há uns meses reposta em sala de cinema), também. Então o que falta? Mais uma absoluta vénia a esta personificada instituição italiana, nome em letras maiúsculas de um certo tipo de cinema de autor, lento e anguloso, que nos ajuda a perceber que o cinema pode ser mais do que a linearidade de clichés e que é muito mais do que razão. Sim, o que o cinema de Antonioni nos mostra é o ímpeto do instinto. E o cinema está mais pobre...