30 de outubro de 2007

OS SETE PECADOS DE... Outubro 2007








PREGUIÇA.
É bom ver que o cinema português está aí outra vez em força, mas que os temas, os actores, os valores de produção, os tiques e os trejeitos são sempre os mesmos. JULGAMENTO é mais um retrato estereotipado da Guerra Colonial, enquanto CORRUPÇÃO vai evitar o visionamento de imprensa antes da estreia e João Botelho já afirmou que não vai assinar a direcção devido a imposições dos produtores. Parece que o cinema nacional quer chegar ao grande público, mas da maneira mais óbvia e telenovelesca. Não é por acaso que as televisões, atentas, estão a ajudar o financiamento destes projectos. Valha-nos isso! A boa surpresa do mês é mesmo a simplicidade afectiva de O CAPACETE DOURADO.

SOBERBA. A mudança dos canais Lusomundo para a marca desinspirada TVCINE a partir de 1 de Novembro tem bons e maus argumentos. A razão para a mudança deve-se à vontade de estrear sempre um filme em horário nobre distinto (21h00, 21h30, 22h00, 22h30). Muito bem, sim senhor, mas daí até tornarem quatro canais sem uma linha temática que os distinga torna-os numa oferta excessiva e desenquadrada. Aparentemente... resultado? Um filme pode aparecer em qualquer um dos canais, a qualquer hora, sem outro critério digno de registo. Depois, esta vontade «de agradar a toda a gente sem agradar verdadeiramente a ninguém» certamente que fará reduzir o número de exibições dos filmes clássicos. Algo que já se notara na recente renovação da grelha do Canal Hollywood. Por onde anda o cinema de John Ford, Ingmar Bergman, Eisenstein, Truffaut, Fellini ou Visconti? Nos escaparates da Fnac ou, quanto muito, num serão discreto da RTP2. Pelo sim pelo não, vou continuar a apostar no DVD.

GULA. Os esforços gastronómicos de Catherine Zeta-Jones em «Sem Reservas» são um doce e a actriz acerta no alvo na hora de se exibir como «chef» de um restaurante de prestígio em Nova Iorque. Depois, há ainda as divertidas sequências da protagonista desta comédia romântica ao cozinhar para o seu psiquiatra em vez de ficar sentada no divã.

INVEJA. Estou a ler com renovado interesse a compilação de textos de Woody Allen que surgiu com o título «Pura Anarquia». E o que se encontra aqui? A sua escrita compulsiva, cheia de armadilhas de linguagem, diálogos dignos da sua raíz na «stand-up comedy» e uma criatividade sem limites. Exemplos? A história do escritor convidado para criar obras literárias à pressão a partir de argumentos de filmes, ou da «babysitter» que decide escrever um livro a explicar os podres de um casal são de uma frescura humorística sem precendentes. Queremos mais, Woody!!

IRA. O capítulo final de Jason Bourne, em «A Supremacia», é o melhor plano de vingança em alta voltagem que vimos no cinema mainstream nos últimos tempos. Com planos de poucos segundos, agenciados com violência e a perícia de uma obra que se quer ofegante, tornam esta aventura numa perfeita jornada de acção. E a forma abrupta e seca como Matt Damon arruma os inimigos mete James Bond, Jackie Chan ou Van Damme num canto.

AVAREZA. A prova de que «com-poucos-meios-se-pode-ir-longe-do-mês» é mesmo a comédia «Um Azar do Caraças», que revê a comédia romântica colocando a premissa naquilo que costuma ser o final das histórias de amor. Depois, há um punhado de actores bem dispostos, reviravoltas realistas na acção e um grupo de personagens estranhas. Mas não tão estranhas quanto as da vida real.

LUXÚRIA. Em período de (re)descoberta da obra de Bergman em DVD, sublinho o confronto carnal entre o casal protagonista de DA VIDA DAS MARIONETAS. O filme começa com um crime e imagens avermelhadas, para depois se perceber de facto (e já a preto e branco) o que levou a personagem principal a assassinar uma prostituta e a possuí-la de seguida. Já disse que Bergman é exemplar a fazer-se passar por Freud no cinema?

OS MEUS POSTERS: A Máscara - Persona

























GULA.
Bergman tem um modo psicanalítico de ver a identidade e, em A MÁSCARA, eleva o seu carácter movediço ao extremo. O resultado é brilhante, mas há ainda o poder visual dos planos: o filme mostra o impacto do grande plano como marca de expressão e o preto e branco como recurso implacável na intensidade.

26 de outubro de 2007

NA SALA ESCURA: A comédia em dois actos







GULA.
«O casamento é como uma tensa e nada cómica versão de 'Everybody Loves Raymond', só que não dura 22 minutos. Dura para sempre.» PETE (Paul Rudd) in Um Azar do Caraças

Rir com gosto no cinema começa a ser muito raro. Ou os exercícios são comédias desbragadas e resvalam para o escatológico, ou tornam-se experiências monótonas e rotineiras.

O que se passa é que, de repente, temos em exibição duas comédias que, embora distintas, acabam por ser bons exemplos de como a indústria norte-americana não precisa de gastar balúrdios para acertar na fórmula do humor.


UM AZAR DO CARAÇAS (alguém aniquile quem se lembrou desta tradução estupidificante!) e SEM RESERVAS têm propósitos e targets distintos, mas mostram como a comédia está cada vez mais ligada aos afectos. O primeiro caso é uma inteligente versão de como uma relação pode começar pelo fim, enquanto o segundo é o modelo convencional da comédia romântica de traços dramáticos, cuja mais-valia é passar-se nos meandros do requinte gastronómico.

Tanto um, como o outro prometem abrir o apetite! E tirar a barriga de misérias depois de tantos tiros ao lado no registo da comédia.


UM AZAR DO CARAÇAS
De Judd Apatow (2007)

* * * *
Por que é que esta comédia funciona? Tem humor escatológico, caras pouco conhecidas, brinca com o tema sensível da gravidez e não inova ao nível das relações humanas. A verdade é que, embora não inovando, UM AZAR DO CARAÇAS inverte as coordenadas da comédia romântica e possibilita um toque realista e algo desconexo do amor e de outros sentimentos adjacentes. O par protagonista encaixa como uma luva e anda às turras com a vida real tal como nós. O resultado é genuinamente divertido e humanista, uma combinação em vias de extinção. A melhor comédia do ano!

SEM RESERVAS
De Scott Hicks (2007)

* * *
É um remake do filme Bela Marta (2001), mas funciona tal como funcionou, por exemplo, «The Departed - Entre Inimigos». Este drama que gira em torno de uma chef de cozinha que se vê a ser mãe à força e confrontada profissionalmente por um rebelde é uma espécie de «Ally McBeal» de avental ao peito ou um «Ratatui» em que quem percebe de iguarias é uma (ainda) charmosa Catherine Zeta-Jones. Com todos os ingredientes certos - até o cliché do amor contrariado funciona! - o filme quase que é enjoativo, mas termina na altura certa. Assim, é só um exercício simples e sensível onde se nota o dom do realizador de «Shine - Simplesmente Genial».

24 de outubro de 2007

O QUE AÍ VEM... Kantoku Banzai







AVAREZA.
«Uma coisa que odeio nos filmes é quando a câmara começa a andar em círculos sobre as personagens. Acho isso uma total falsidade.» TAKESHI KITANO

O cinema dentro do cinema já é por si um desafio suficientemente intrigante e uma premissa que convida à divisão de opiniões. Foi isso mesmo que conseguiu Takeshi Kitano com a sua mais recente obra KANTOKU BANZAI (ou na versão mais acessível em língua inglesa «Glory to the Filmmaker») na edição mais recente do Festival de Veneza.

E o que nos propõe o realizador de «Brother - Irmão» ou «Zatoichi» em mais um exercício em nome próprio (certamente a resvalar para o egocentrismo)? Uma sátira excêntrica em que o realizador faz de uma abstracção de si próprio como um realizador esforçado através de diferentes géneros para conseguir levar o seu mais recente projecto a bom porto. Começa a receber os louros por fitas de gangsters mas o que a sua personagem pretende é mesmo mudar de coordenadas artísticas.

Há quem diga que o filme deve ter funcionado melhor no papel do que no ecrã e que Kitano dispara em todas as direcções: tanto quer homenagear a ficção-científica quanto o cinema pessoalíssimo de Yasujiro Ozu.


Pode ser Kitano em versão «pop»? Arty? Os rótulos aqui são o que menos interessa. Quer-se é que o filme não demore muito a chegar...

21 de outubro de 2007

QUIZ: A que filme pertence esta imagem?









As respostas regressaram ao passatempo! Desta vez, tento complicar um pouco mais e avançar que esta cena é inesquecível para quem viu a obra em questão, mas desconhecida para quem deixou escapar o filme. E foram poucos os que o viram.


Solução do QUIZ anterior: Era, de facto, uma cena do filme IN AMERICA, de Jim Sheridan. Um dos seus melhores trabalhos, há que dizê-lo. No fundo, foi uma breve homenagem à sua passagem por Lisboa, a propósito do ciclo da Cinemateca.

CINEFILIA: O documentário quer ser cinema





SOBERBA.
«O documentário foi assunto e criou-se uma nova consciência da sua enorme riqueza, diversidade e potencialidades.» in Apresentação do DocLisboa 2007

Assim como a televisão foi hábil em usurpar o potencial narrativo do cinema - atente-se na nova gama de séries norte-americanas com meios e qualidade dramática dignos de longas-metragens de grande orçamento -, o cinema também começa a incluir outras formas de expressão e a projectar obras de cariz documental. O documentário é, hoje, norma na programação por cabo, mas muitos dos exemplares são meros «enlatados» com marca ausente numa enorme linha de produção. Porém, há cada vez mais casos de documentários que merecem ser vistos na sala escura e que fazem muito bem em tentar combater o espartilho do pequeno ecrã. Lisboa já tem o seu festival de prestígio neste campo - o DocLisboa está aí para as curvas com a programação a incluir obras de Michael Moore, Edgar Pêra e muitos outros autores do mundo inteiro. A grande maioria injustamente desconhecida. A propósito do DocLisboa, nada como recordar cinco boas obras que tiveram honras de estreia no grande ecrã:

- LISBOETAS: O documentário português mais bem sucedido de sempre - com uns impressionantes 30 mil espectadores em sala - é também um olhar a oscilar entre o realista e o poético para os novos rostos de Lisboa, com o que isso tem de bom e de mau. Sérgio Tréffaut é um humanista na sua forma de filmar.

- UMA VERDADE INCONVENIENTE: Houve um Óscar, agora um Nobel. Há quem tenha muitas dúvidas sobre as pretensões de Al Gore, mas o que é certo é que a sua aula de biologia e meteorologia, alertando para os problemas climatéricos, é eficaz e não compromete na mensagem. O bem do planeta justifica todos os potenciais oportunismos.

- OS FRIEDMAN: É capaz de ser um caso sobre de que forma as fronteiras dramáticas de um documentário se podem esbater. As imagens são de arquivo real e procuram entender o quotidiano familiar quando o pai é acusado de abusar crianças. Entre o choque e a repulsa, o filme convence.

- BUENA VISTA SOCIAL CLUB: Bela declaração de amor de Wim Wenders a Cuba. Terra de muitas desigualdades, mas também de muito ritmo. Conhecer personagens como Compay Segundo são um bálsamo e Wim Wenders é um mestre na arte de envolver a música com as histórias de vida dos seus cantores.

- NO DIRECTION HOME: Martin Scorsese a querer explicar-nos quem é Bod Dylan? Haverá combinação de génios mais prometedora? Não há, de facto, e o filme é uma biografia descomplexada que ajuda ainda a descortinar os meandros musicais dos anos 60.

18 de outubro de 2007

NA SALA ESCURA: A morte tem graça








INVEJA.
«O chá pode fazer muitas coisas, Jane, mas não pode ressuscitar os mortos.» Sandra (Jane Archer)


Que segredo têm os britânicos para fazerem rir? Um cinismo fora do comum. Uma imaginação politicamente incorrecta. Dizerem as maiores barbaridades com o ar de quem está a expressar a coisa mais inocente do mundo. E depois há ainda a argúcia, o sotaque, a postura superior e a vontade constante de se distanciarem da cultura mainstream norte-americana.

Basta pensar que criaram um género televisivo e onde, na verdade, são imbatíveis. A britcom é talvez o mais generoso formato de série criado e recriado pela BBC, canal de serviço público. A RTP devia ficar envergonhada e só perde se quisermos traçar a mais distante comparação.

Se já há décadas os britânicos não tinham concorrência em matéria de entretenimento humorístico para o pequeno ecrã, o cenário cinematográfico também se alterou a partir de 1994, ano em que Hugh Grant e Andie MacDowell viveram um estranho (e irresistível...) romance em «Quatro Casamentos e um Funeral». De um momento para o outro, e com muitas receitas de bilheteira para o comprovar, a comédia romântica britânica tornou-se uma indústria bem sucedida e criou um estúdio - a Working Title - que não tem abrandado na produção: «O Diário de Bridget Jones», «Notting Hill» ou «O Amor Acontece» são talvez os exemplos mais óbvios.

Mas qualquer um deles fica muito acima da mediania de Hollywood, especialista em produzir sucedâneos. É como disse Stephen Frears - cineasta inglês, não é por acaso - quando passou por Lisboa: «Em Hollywood fazem-se filmes como se fazem carros.» Há alguns topos de gama, mas há também muitos iguais uns aos outros.

MORTE NUM FUNERAL herda a grande maioria dos seus genes dramáticos desta herança inglesa de saber fazer rir. Embora seja uma co-produção anglo-americana, a sua génese é
very british.

E essa é a sua força motriz, auxiliada pela direcção de Frank Oz, nem por acaso o britânico experiente na matéria que, pelo caminho, dobrou também a voz de Yoda para a saga de George Lucas. E em que é que resulta esta nova comédia? Num olhar desempoeirado sobre a morte, que em vez de um ponto de chegada é apenas a premissa para reunir um naipe caricato de personagens e deixar desfilar um sem número de enganos narrativos, comédia física do melhor (Jim Carrey: a ver se aprendes alguma coisa), trocadilhos à inglesa e rir.

Rir da morte. Talvez o mais difícil, mas também o mais eficaz. MORTE NUM FUNERAL disperça-se a meio, hesita sobre como juntar os (poucos) fios do novelo, mas não precisa de mais. A sua mais-valia está nas peripécias dignas de sitcom e na ironia que destila no elenco. De resto, é de morrer a rir. Lugar comum que aqui encaixa como um luva. Ou um caixão.



MORTE NUM FUNERAL
De Frank Oz (2007)
* * * *

O genérico é prometedor: uma carrinha funerária segue por vários caminhos entrecruzados e perde-se num mapa urbano onde aparecem os nomes da equipa. E que equipa: Matthew MacFayden, Jane Archer, Andy Nyman, Ewen Bremmer e até Peter Dinklage revelam um timing cómico imbatível que faz o contraponto perfeito para o funeral de um intocável e prestigiado pai de família. Depois o que há? Um anão misterioso, um idoso com prisão de ventre, um homem dopado com droga alucinogénica, um hipocondríaco, uma viúva frígida. Gente normal é que não se vê nas redondezas. E ainda bem, porque assim a comédia funciona melhor. Exemplo da britcom certeira em registo de longa-metragem, o filme funciona em todas as frentes. E até as suas debilidades passam para trás das costas. Este é o funeral mais vivo de que há memória.

OS MEUS POSTERS: Até à Eternidade

























GULA.
2007 é já um dos anos mais negros em matéria de óbitos de vultos do cinema. Agora foi a vez da actriz Deborah Kerr. Quem é ela? A protagonista do beijo mais famoso do cinema: com Burt Lancaster, deitados à beira da praia, com as ondas a baterem. Foi em ATÉ À ETERNIDADE, de Fred Zinnemann. O tempo não esquece.

17 de outubro de 2007

Quem é fã de colecções, levante o braço!







SOBERBA.
«Este é o cemitério dos homens sem nome. Aqui enterrámos alguns bons amigos. E alguns bons inimigos também.» BILL (Burt Lancaster) em OS PROFISSIONAIS
.
Vejo os anúncios na televisão e mudo de canal. Leio os anúncios na imprensa e mudo a página. Ouço os anúncios na rádio e mudo de estação.

O problema é quando passo pelos quiosques... É das colecções que vos falo, em particular das colecções de DVD, essa «praga» que se apresenta sobre a forma de capas muito bonitas, sinopses que não comprometem e aquela selecção de filmes que estava mesmo a faltar para completar a videoteca lá de casa.

Depois de ter deixado escapar muitas colecções - com excepção da saudosa «Série Y» e «Clássicos Público» do jornal «Público» -, eis que decidi assinar uma com o selo de Planeta Agostini. Sim, essa mesma marca com nome alienígena, que também comercializa o «Dr. House» e afins.

A culpa é de «Cine Western», a mais bem feita selecção de filmes de cowboys que me lembro de ter visto aqui nas redondezas. E com um mérito: não tem nos seus 40 títulos nenhum filme que colida com os que já adquiri ao longo destes últimos anos. Depois, apresenta obras que sobressaem pela diversidade, de géneros, épocas e estilos - desde «O Pistoleiro do Diabo» a «Danças Com Lobos», «O Atirador», «Oiro», «Silverado» ou «O Homem Que Veio de Longe».

Nada de John Ford, Sérgio Leone ou Howard Hawks - o que apesar de ser uma falha estrondosa para quem quer ilustrar a História do Cinema, acaba por ser benéfica dado que são desses cineastas as obras no Velho Oeste que já marcam presença no meu portefólio.

E pronto: eis que caí na tentação das colecções, com direito a pipoqueira de brinde e tudo. E logo eu, que me esforcei por não comprar todos os filmes de 007 que o «Público» está a distribuir em edições cuidadas e com direito a caixa arquivadora e tudo!

O investimento está já a dar os seus frutos: vi OS PROFISSIONAIS, obra clássica de Richard Brooks, em que Burt Lancaster, Lee Marvin e Robert Ryan sofrem as passas do Algarve para resgatarem a rebelde Claudia Cardinale das mãos de um Jack Palance quase irreconhecível.

Excelente divertimento passado nos tempos em que a justiça se media à lei da bala. Agora percebo o prazer de ver um bom western: é concluir como a ordem das coisas se pode fazer em função de conceitos simples como um pedaço de terra.

Uma prova? Basta ver a resposta lacónica que Bill Dolworth (excelente composição de Burt Lancaster) dá, em «Os Profissionais», quando o inimigo Jesus Raza (Palance) lhe pergunta o que o levou a entrar no universo dos negócios obscuros. «O costume: foi dinheiro.» É por estas e por outras que os anti-heróis têm o dobro da piada dos «bonzinhos» moralistas.

13 de outubro de 2007

QUIZ: A que filme pertence esta imagem?










Nesta nova fase do QUIZ, o objectivo é recordar instantes maiores de filmes memoráveis. Pode não parecer imediato, mas quando se descobre o prazer é a duplicar...


Solução do QUIZ anterior: O instante apresentado pertence a uma das várias cenas familiares de AMARCORD, de Federico Fellini. Um olhar único sobre o quotidiano de uma aldeia italiana, ainda marcada pelas políticas de Mussolini.

O MAIOR PECADO DE... Matt Damon







PREGUIÇA.
«Zzzzzzz» in INTERNET REVIEWS

Já toda a gente sabe que Matt Damon é considerado o actor mais rentável da sua geração, combinando bons sucessos de crítica, interpretações que não comprometem e uma choruda prestação nas bilheteiras.

Se a reverência é agora reforçada graças ao megalómano êxito de «Ultimato», há que não esquecer que o melhor amigo de Ben Affleck já tem um Óscar de Melhor Argumento debaixo do braço (por «O Bom Rebelde»), duas nomeações para Melhor Actor e um currículo invejável que inclui trabalhos com Scorsese, Coppola, Spielberg, Soderbergh, Gilliam, Van Sant e... Billy Bob Thornton.

Bem, na verdade, este último - mais conhecido pelo seu trabalho como actor - criou, quanto muito, uma mancha negra numa filmografia invejável, dado que são muito poucos os «tiros ao lado» na carreira de Damon (talvez incluíssemos também aqui «Agarrado a Ti», dos irmãos Farrelly).

ESPÍRITO SELVAGEM quer ser um melodrama mas é demasiado enjoativo, quer ser western mas causa demasiados bocejos de monotonia, quer romantismo mas não existe a mínima química entre Damon e uma atabalhoada Penélope Cruz, ainda às voltas com um inglês macarrónico
.

Estreado em 2002, o filme passou tão despercebido que rapidamente se eclipsou porque, na verdade, tem muito pouco para contar. Passou directamente para o circuito DVD e não deixou saudades.

Afinal o que falha aqui? A fotografia é boa, Billy Bob Thornton vê-se que sabe o que são bons ângulos e escolheu os actores a dedo. No entanto, a história de John Grady Cole (um soturno Matt Damon, em registo de cowboy «pãozinho sem sal»), que deixa o Texas e dirige-se para o outro lado da fronteira em busca de aventura e se apaixona pela bela filha de um latifundiário mexicano tem muito pouco para surpreender.

E o pior de tudo é o ritmo: longo e dengoso, à maneira do pior preconceito em relação aos maus filmes europeus. A sorte de Matt Damon é que logo a seguir a este melodrama xaroposo, Soderbergh requisitou-o para se juntar à equipa de «Ocean's 11». E o nível regressou em pleno!
Críticas de fugir:
- JAM! MOVIES: O filme nunca encontra o seu ritmo.
- BOSTON GLOBE: Um caso de bonitas imagens que nem de perto se aproximam da profundidade do livro em que se baseia.
- FILCRITIC.COM: «Espírito Selvagem» lembra-me um mau comediante a contar uma piada.
- ATALANTA JOURNAL: A química entre Cruz e Damon dificilmente aqueceria uma lata de feijões.

11 de outubro de 2007

NA SALA ESCURA: Duas faces do terrorismo









IRA. «Por que é que sempre que alguém começa a falar de civilização, ouço o som de armas?» Fay Grim (PARKER POSEY)

São os dois filmes de origem norte-americana e reflectem à sua maneira as incongruências de um mundo menos seguro desde 11 de Setembro de 2001. Fariam sentido antes dessa data? Talvez, mas a sua pertinência e acutilância ficaria pela metade.

Fora isso, FAY GRIM e ULTIMATO pouco ou nada têm a ver. São de universos distintos, porque o primeiro é um filme de autor assumidamente marginal, feito com todos os tostões contados, enquanto o segundo é a sequela de uma sequela, com efeitos especiais de ponta e uma estrela que dizem ser a mais rentável do momento.

Pode parecer que estou a desdenhar ULTIMATO, nada disso. Até porque o resultado é superior a FAY GRIM, saudoso regresso às lides de Hal Hartley. Na verdade, o desfecho das peripécias de Jason Bourne é dos mais dinâmicos e bem trabalhados «blockbusters» dos últimos anos e só o seu excessivo efeito vertiginoso (e ilustrado por planos que se sobrepõem com uma duração inferior a dois segundos) pode cansar a pulsação do espectador.

Fora isso, cria um (anti)herói possível para os tempos que correm, onde a tecnologia pode ser ameaça e as autoridades tendem a exacerbar o seu poder controlador. E, no fundo, onde ninguém é inocente.

Por outro lado, FAY GRIM é uma sátira assumida que, no fundo, tem ponte de ligação a «Henry Fool», o anterior trabalho de Hartley. É certo que se perde em demasiadas ambiguidades narrativas e na vontade de querer disparar em todas as direcções do que na crítica ao terrorismo diz respeito. Mas não deixa de ser um delicioso retrato de espionagem, a lembrar as obras ardilosas de John Le Carré, que não se embaraça perante a falta de meios técnicos, e que conta com uma irresistível Parker Posey, que começa o filme como mãe desesperada e termina a fintar terroristas com a perícia das grandes espias.

Hartley sabe conduzir a história e tenta mostrar que o mundo de hoje está demasiado atento. Haverá ainda espaço para a espontaneidade? Jason Bourne parece também estar a precisar dela...


FAY GRIM
De Hal Hartley (2006)
* * *
Já há muito que se especulava sobre o último trabalho de Hal Hartley. Ele chegou com algum atraso às salas nacionais, mas não desiludiu. Trata-se de um engenhoso caso de espionagem que segue as peripécias de uma mulher (excelente Parker Posey) que tenta juntar os estilhaços deixados pela memória do marido desaparecido. O feito vai levá-la a Paris e a Istanbul, numa história com tantas reviravoltas quanto uma montanha-russa à séria. O realizador é bom gestor de planos e emoções, mas a história criada em estilo de farsa nem sempre se leva demasiado a sério. Um elogio que é também uma crítica.


ULTIMATO
De Paul Greengrass (2007)
* * * *
A saga de Jason Bourne fecha-se com a classe das grandes trilogias. Matt Damon fez bem em dizer que as aventuras do homem à procura da memória chegaram ao fim. E que fim! Jogo de acção em alta velocidade, que pode cansar o espectador, certamente rendido perante a eficácia das cenas de acção e a história bem explicada pela câmara frenética de Paul Greengrass. Já há muito que um filme de acção não preenchia tanto as medidas... Era bom, mas acabou-se.

10 de outubro de 2007

O QUE AÍ VEM... Ensaio Sobre a Cegueira







INVEJA.
«Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.» in LIVRO DOS CONSELHOS
Vai ainda demorar uns bons pares de meses para podermos ver o que é que o realizador de «A Cidade de Deus» fez com o património literário de José Saramago.

No entanto, e tendo em conta a obra anterior de Fernando Meirelles, tudo leva a crer que a escolha do brasileiro foi certeira. Se é que é possível traduzir a alegoria de ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA em imagens.

Vamos acreditar que sim, até porque a obra é imbatível nas suas repercussões sociais e emocionais (superior, por exemplo, a «As Intermitências da Morte», que também é capaz de dar um bom filme). O que esperar desta produção valiosa de 2008? Arrojo visual e um elenco de luxo que inclui a excelente Julianne Moore, Mark Ruffalo, Gael García Bernal e Sandra Oh (a médica oriental de «Anatomia de Grey»).

Boa combinação de actores para um orçamento de 25 milhões de dólares. Alguém imaginou todo este investimento em torno de uma obra literária portuguesa? Esperamos para ver o resultado e fazemos figas para que dê certo...

CINEFILIA: As cinco promessas de Outubro








SOBERBA. Retomo aqui o espaço de previsão do que o mês cinematográfico pode ter de melhor para oferecer, ainda que já estejamos a um terço de Outubro. Digo «pode» porque alguns deles apenas se baseiam em estimativas e boas críticas, embora a ambiguidade de um filme é também o que torna tão interessante. O Outono chegou e com ele um abrandamento aparente - até ao Natal, refira-se! - dos «blockbusters».

- A VIDA INTERIOR DE MARTIN FROST: Não se tem falado de outra coisa até porque Paul Auster veio cá de propósito mostrar que este é um projecto da sua inteira responsabilidade. Se se tiver em conta a sua realização «Lulu on The Bridge» há uma certeza - este é um filme para admiradores do solipsismo ficcional de Auster. A produção, essa, é de Paulo Branco.

- A ESTRANHA EM MIM: Começa a fazer-me comichão a obsessão de Jodie Foster por papéis intensos, de mulheres que gostam de vestir as calças. Porém, neste caso, em causa está um plano de vingança, muita disruptura psicológica e uma realização expressiva de Neil Jordan.

- UM AZAR DO CARAÇAS: Apesar do desastrado título português de «Knocked Up», esta comédia norte-americana foi a surpresa do Verão pela combinação sensível entre o romance e o jogo de enganos. Uma mulher (a nova coqueluche Katherine Heigl) engravida após uma noite sem sentido com um homem que nada tem a ver com ela. Será «Um Amor Inevitável» do século XXI?

- O ESCAFANDRO E A BORBOLETA: O filme de aura mais independente do mês vem da França e tem assinatura de Julian Schnabel, o mesmo de «Antes Que Anoiteça». Um caso de persistência até porque reflecte sobre um editor perdido num corpo paralizado.

- A OUTRA MARGEM: Promete ser o «ovni» do mês, que pode funcionar muito bem... assim, como uma boa obra de Almodóvar... ou muito mal e tornar-se num filme xaroposo. A história é a de um travesti (o quase irreconhecível Filipe Duarte) que ganha novo fôlego quando faz amizade com uma criança que sofre de síndrome de Down.

8 de outubro de 2007

OS MEUS POSTERS: O Meu Pé Esquerdo

























GULA.
Depois de Paul Auster, é a vez de Jim Sheridan vir a Portugal inaugurar uma retrospectiva da Cinemateca. Toca a marcar nas agendas: 5ª feira, às 21h00, o realizador de O MEU PÉ ESQUERDO vai falar sobre este filme. E o que há para dizer? Que é um tocante melodrama com o memorável Day Lewis.

5 de outubro de 2007

NA SALA ESCURA: Um futuro previsível








PREGUIÇA.
«-Consegues ver coisas antes delas realmente acontecerem? -Só no meu futuro. Contigo, não.»

Que o universo de Philip F. Dick é rico em teorias futuristas, abordando também as repercussões morais de uma série de hipótseses, não há dúvida.

Que as suas histórias são quase sempre excelentes filmes, também não. Mas há excepções e, infelizmente, NEXT - SEM ALTERNATIVA é um deles.


Assim que a história se desenrola, percebemos que as premissas são claramente «Dickianas», até porque o protagonista tem a capacidade de prever o futuro dois minutos antes de ele suceder. Interessante, mas em várias cenas refutável... Depois, percebemos que Lee Tamahori tem a sensibilidade de um elefante obeso numa loja de porcelanas chinesas para dirigir tudo com as doses mínimas de originalidade.

Apesar de bater tudo certinho, de ter Julianne Moore empenhada a fazer de agente policial irredutível, apesar dos efeitos especiais, apesar de dinâmico, NEXT - SEM ALTERNATIVA é formatado pela estrutura das séries televisivas que hoje abundam as televisões, não tem uma ideia gráfica verdadeiramente surpreendente e depois... bem, depois há Nicolas Cage a ser uma sombra de si próprio, com um corte de cabelo ridículo a não ajudar.

Pressente-se que há aqui muitas ideias desperdiçadas pelo rolo compressor do dinheiro. O filme é feito inteiramente a pensar na lógica industrial, o que corrompe o que quer que seja que escape a essa formatação. Valha-nos um ou outro momento de distorção temporal, a sequência de acção passada no bosque, o teste das perversões cronológicas a que Chris, o protagonista, é várias vezes sujeito.

No entanto, brincar com o tempo não chega. Ainda para mais se, na estrutura do filme, nenhum segundo sai fora do sítio. Resultado final? O inesperado pode ser previsível.

NEXT - SEM ALTERNATIVA
De Lee Tamahori (2007)
* *
Foi um dos grandes fracassos de bilheteira deste Verão (custou mais de 70 milhões de dólares, rendeu pouco mais de 15 milhões) e percebe-se porquê: Lee Tamahori não sabe aproveitar o património literário que tem em mãos e constrói um filme tão certinho, tão certinho, que raramente surpreende. Depois temos Nicolas Cage a dar mais um passo em falso, numa interpretação tão forçada e sem chama que constrange. Resta-nos uma Julianne Moore empenhada e uma Jessica Biel interessante para colmatar as falhas. O que não chega neste jogo de coordenadas temporais: o futuro está logo ali, mas há que saber agarrá-lo. Esta foi uma enorme oportunidade desperdiçada.

4 de outubro de 2007

QUIZ: A que filme pertence esta imagem?









Eis um novo desafio: a que obra pertence este instante? É só puxar pela cabeça... ou melhor, pelas memórias cinéfilas.

Solução do QUIZ anterior: Os três filmes venceram Óscares de Melhor Maquilhagem.
1) ED WOOD
2) O LABIRINTO DO FAUNO
3) DICK TRACY

NA SALA ESCURA: Rebelde em busca de causa







AVAREZA.
«Ele é só exterior e ela é só interior.» JORGE CRAMEZ (realizador) in PÚBLICO

O filme chegou de mansinho às salas, ainda que a sua história se imponha com violência, porque as suas personagens gritam por dentro e mostram que a passagem para a idade adulta é um terreno movediço feito de encruzilhadas, reviravoltas emocionais e longos silêncios de uma espontaneidade que quer ficar amadurecida.

No entanto, O CAPACETE DOURADO é talvez um dos mais interessantes «pequenos filmes» nacionais que ousaram tentar a sua sorte no meio dos blockbusters de fim de Verão.

Dirigido por Jorge Cramez, habitual anotador dos filmes de Teresa Villaverde (que até faz uma perninha no ecrã), o filme desenrola-se com simplicidade, porque é de vidas simples que se trata. Simples, mas com marcas, daquelas profundas à maneira dos «rebeldes sem causa» dos tempos de James Dean.

A abordagem é assumida mas transfigurada por uma série de boas ideias cinéfilas. Mais do que uma mera história de amor proibido, O CAPACETE DOURADO é um bonito hino à inocência dos sentimentos, à rebeldia e à descoberta do primeiro amor.

Com planos muito belos (como a sequência do «bailado» de motas ao som de música clássica ou a reconversão em câmara lenta do momento de discoteca alucinante), a obra é resultado de um cuidado trabalho cénico, que aproveita ainda um punhado de bons actores como secundários - por aqui passam, além dos protagonistas Eduardo Frazão e Ana Moreira, Rogério Samora, Rita Blanco, Maria João Luís, Alexandre Pinto (que incorpora particularmente bem a sua personagem) ou Alexandra Lencastre.

O filme é indicado para todos aqueles que afirmam que o cinema português perdeu a inocência.


O CAPACETE DOURADO
De Jorge Cramez (2007)
* * * *
Com o selo Clap Filmes, este singelo romance não é à sua história de amor simples que deve a sua maturidade. É ao punhado de boas ideias visuais que o seu realizador consegue transpor para o grande ecrã. Além disso, Cramez usa e abusa da (boa) música para ilustrar um conto de dois jovens que se amam e curam as feridas vividas em corpos inocentes, numa história baseada num conto verídico de consequências bem mais dramáticas. O realizador optou pelo final feliz, aberto. E não é que convence?

2 de outubro de 2007

Morrer numa terra cheia de vida







AVAREZA.
«E se Deus me desse um claro sinal de que existe? Tal como fazer um depósito generoso em meu nome num banco suíço!» WOODY ALLEN

Nos últimos anos, o cinema com sotaque espanhol tem sobressaído para lá das ficções de cordel de Pedro Almodóvar. Se, por um lado, os cinéfilos começaram a prestar mais atenção à produção sul-americana – casos de México, com a revelação de Gael García Bernal em «Amor Cão» ou «O Crime do Padre Amaro», ou Argentina, nas deambulações emotivas da realizadora Lucrecia Martel –, a própria indústria espanhola tem procurado reinventar-se com géneros de pouca tradição.

Os exemplos sucedem-se e vão do musical, no delicioso «O Outro Lado da Cama», à sátira desbragada aos western-spaghetti¸ como sucedeu no recente «800 Balas».

Em MORRER EM SAN HILÁRIO, é a farsa de tónica quase medieval ao culto dos mortos que domina, centrando a acção numa pacífica aldeia – a que dá título ao filme e que é descrita como um lugar onde ninguém sabe bem onde fica mas que se acaba sempre por ir lá parar – que se encontra na penúria devido aos «tempos modernos».

A razão para a depressão dos seus habitantes deve-se ao facto de, desde a invenção higiénica das agências funerárias urbanas, a principal fonte de rendimento, que são os faustosos funerais e cultos sepulcrais, se encontrar votada ao abandono e em plena decadência. A chegada de um misterioso forasteiro, Piernas Gierman (Lluís Homar), a este território inóspito permite à população recordar velhos tempos ao preparar, por engano, o seu enterro.

Com um ponto de partida rebuscado como este, MORRER EM SAN HILÁRIO já tem o mérito de, pelo menos, merecer a descoberta
(a fita, apesar de ter despertado a atenção em Espanha, estreou-se no mercado nacional directamente para DVD, numa edição sem extras além do trailer). Porém, vai muito além por tirar o melhor partido do defunto por antecipação que é, afinal, um delinquente vítima de uma troca de identidade.

E por descrever a rotina da bizarra população com um peculiar sentido de acutilância satírica a lembrar as pormenorizadas narrativas queirosianas.

O resultado final não pretende ser tão sério quanto o tema que convoca, explorando o ritual da morte nas múltiplas vertentes sujeitas ao riso sem desembocar nas armadilhas do humor negro mais primário.

A cena em que o protagonista contempla a janela do quarto onde vai ficar hospedado até à data combinada para a morte chegar, com uma vista para o adorado cemitério local, demonstra que a realizadora catalã Laura Mañá soube tirar partido da prometedora premissa da história para a articular com noções cinematográficas interessantes.

MORRER EM SAN HILÁRIO não é, contudo, isento de fragilidades, até porque decide apostar, perto do final, por um registo mais dramático (que colide com o tom satírico erigido anteriormente). Mas deixa no ar a forma como se pode aligeirar um tema que, por exemplo, a multipremiada série «Sete Palmos de Terra» explorou numa outra componente mais densa e tradicional. Na verdade, a morte pode ter graça. A população excêntrica da bizarra aldeia de San Hilário agradece.