11 de abril de 2008

NA SALA ESCURA: Prós e contras de ver a 3D







SOBERBA.
«O palco não é mais do que uma plataforma para sapatos» BONO VOX
À entrada são distribuídos uns óculos de aspecto cómico, que são também uma evolução face aos de cartão sempre que um novo eclipse se torna alvo de atenção mediática. Já sabemos ao que vimos: ver um concerto dos U2 sob vários pontos e com a particularidade de sentir uma emoção redobrada pelo facto do espectáculo ter sido filmado a três dimensões.

O efeito de U23D é surpreendente... mas a espectacularidade de imagens com um ângulo profundo impressionante esgota-se em pouco mais de 15 minutos
.


Porquê? Pelo facto deste ser um concerto com um alinhamento que já conhecemos de cor - alguém não sabe já de trás para a frente os temas «Beautiful Day», «One» ou «With or Without You»? Pois é, cada gesto, cada ímpeto de Bono Vox é repetido como todas as outras vezes, apenas desta vez os movimentos transcendem os limites tradicionais do enquadramento.

É óbvio que há momentos que impressionam, até porque U23D também não facilita em matéria de potência sonora... mas um concerto é um concerto, uma experiência que é irrepetível quando se está no meio da multidão.

Visto no conforto de uma cadeira de cinema perde-se a espontaneidade, até porque os ângulos de visão não são escolhidos por nós... Ver um concerto implica autonomia, percebi isso também.

É esse o defeito de ter um DVD de um concerto: está tudo facilitado, programado. Não há a emoção do instante, o desconhecimento do alinhamento, a voz que falha, o «encore» esperado. É já tudo entregue numa bandeja. E nem a força de uma filmagem a três dimensões consegue tornar a experiência revigorante!


U23D
De Catherine Owens e Mark Pallington (2007)
* *
Enquanto experiência inovadora, prefiro a de BEOWULF, por exemplo, em que o pendor fantástico da história ganhava fôlego com a profundidade que os óculos a três dimensões permitem. Na faculdade, o professor da disciplina de Filmologia, o também cineasta José Mário Grilo não se cansava de repetir que o espectador quando vai ao cinema coloca uns «óculos» e deixa-se submergir por uma acção pensada e escrita por alguém. Anula-se por duas horas que seja... Ora neste filme-concerto o acto de colocar óculos é literal, mas ainda algo desconfortável. É certo que a profundidade, o lado vivo do que se passa em palco surgem refrescados, mas não chega. Até porque, em última instância, este é apenas mais um concerto dos U2. Que não arrisca um milímetro que seja.

Sem comentários: