1 de abril de 2007

CINEFILIA: Itália como nos filmes

SOBERBA. «Fazer um filme é uma operação matemática. É como enviar um míssil para a Lua.» FEDERICO FELLINI
A propósito ainda de O CAIMÃO, de Nanni Moretti, em exibição nas salas escuras nacionais, lanço a outra novidade temática do SIN CINEMA: o roteiro semanal, que irá sempre que me aprouver com ciclos escolhidos a dedo. As obras apontadas têm sempre um denominador comum e estão disponíveis em DVD ou nas salas de cinema. Por isso, a primeira sugestão vai para o cinema italiano, com sete obras incontornáveis que atravessam a história recente cinematográfica do país, desde o realismo expressivo da década de 50, até à sumptuosidade de Visconti, à sátira intimista de Fellini ou à homenagem a Pablo Neruda. O cinema italiano é fecundo em mensagens, em cenas antológicas e é, a par da indústria francesa, a que melhor soube actualizar-se, acompanhando as exigências dramáticas do espectador. À italiana, os filmes que marcam são símbolos expressivos de um tempo, sinais para uma possibilidade madura de cinema, profundamente popular mas com os traços do mais denso filme de autor. Eis a homenagem em sete capítulos definitivos...

AMARCORD * * * * *
Já foi reposto na sala escura há pouco mais de dois anos e voltou a chamar a atenção: esta ode ao provincianismo italiano no período de Mussolini contém todas as marcas de Fellini, principalmente o seu dom para a comédia genuína, brincando com os valores familiares e o despertar da inocência. Um imenso monumento ao cinema popular - termo que aqui é explorado no seu melhor sentido.

O LEOPARDO * * * * *
Visconti criou a obra mais poderosa dos anos 60, onde se descreve com mestria a decadência de um poder. «Algo tem de mudar para ficar tudo na mesma...» ouve-se a certa altura e foi isso que Visconti fez, construindo brilhantes sequências e destilando ironia palaciana com a subtileza dos grandes mestres. Alguém alguma vez esqueceu aquele serão de baile?

LA DOLCE VITA * * * * *
Entre os seus múltiplos méritos, este clássico de Fellini introduziu o termo «paparazzi» na gíria jornalística, descontruiu as rotinas nocturnas de Roma e imortalizou a Fontana di Trevi onde uma bela Anita Ekberg se banha com a classe das divas ancestrais. Outro toque imortalizante é o desempenho de Mastroianni nesta metáfora sobre as pequenas belezas da vida (e os seus paradoxos...).


UMBERTO D * * * * *
Na sua viagem à Itália em DVD, o realizador Martin Scorsese pára longo tempo em torno do cinema de Vittorio De Sica, o mais emblemático realista italiano. Neste caso, o cineasta mostra-nos a decadência material do protagonista Carlo Battisti e a sua longa jornada para manter a dignidade que lhe resta numa Itália no limiar da pobreza. O final é de antologia, assim como a personagem canina que nos desfaz em sensibilidade.


O CARTEIRO DE PABLO NERUDA * * * *
Filme construído em jeito de poema que chegou a ser nomeado para os Óscares principais em 1995. O seu protagonista, Massimo Troisi, morreu poucos dias depois da estreia em cinema de um imenso êxito popular pela forma afectuosa como descreve a envolvência de um homem simples pela poesia. Esta produção partilhada com a Bélgica e Espanha contém outro vulto insuperável do cinema italiano, e falecido no ano passado, Philippe Noiret.


A VIDA É BELA * * * * *
O mais belo filme de Roberto Benigni tem todos os ingredientes do filme de guerra que nos cola à retina: humor, tragédia e uma metáfora para a II Guerra Mundial que é também uma original lição de vida... A relação da personagem de Benigni com o seu filho é das coisas mais intensas que o cinema já nos deu. Talvez por isso a Academia se tenha rendido e atribuído a estatueta dourada para Melhor Actor e Melhor Filme Estrangeiro.


O CAIMÃO * * * *
Nanni Moretti quis fazer um filme político, de crítica à demagogia de Sílvio Berlusconi, mas o resultado não é o que se estava à espera: um melodrama em torno de um produtor de filmes série B, que se encontra no limbo do esquecimento e que vê o regresso possível com um argumento ambicioso de uma jovem realizadora... Uma crítica dissimulada à política, mas também um belo retrato do divórcio é o que Moretti nos tem para oferecer.

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