9 de agosto de 2007

Terror estilizado ou com estilo?

IRA. «Ela foi boa durante meses... até que perdeu mesmo a cabeça!» MICK TAYLOR (Josh Jarrat)
Já repararam que todos os meses estreia um filme de terror? Sem a mínima chama, é sempre aquele título que descarto na altura de saber o que vou querer ir ver. É preconceito, mas é também muita desilusão na sala escura. Clássicos, clássicos, só mesmo «O Exorcista» ou «O Projecto Blair Witch». O que se encontra depois são sucedâneos de sucedâneos, algo sem o mínimo cariz original. Como qualquer regra tem excepção, o último filme de meter medo que me lembro de assistir no cinema foi mesmo WOLF CREEK. Há aqui uma atmosfera densa e um fundamento verídico (será mesmo?) que recordam «O Massacre no Texas», uma estética visual alusiva a «O Projecto Blair Witch» e perseguições na auto-estrada próximas de «Um Assassino Pelas Costas». Será que no meio de tantas referências o filme de terror ainda consegue ter uma identidade? WOLF CREEK pode ser a resposta certa pela habilidade como controla (sem evitar) os chavões do filme de terror «série B» e é um dos raros casos que consegue superar a sua linha narrativa pouco estimulante, apostando essencialmente no registo emocional e na capacidade de nunca dispersar o efeito realista da história, capaz de levar o espectador a sentir-se «na pele» das vítimas. Rodado com pequenas câmaras digitais (para, mais uma vez, salientar a proximidade com os protagonistas), WOLF CREEK começa por relatar as semanas de férias de três amigos pelas planícies australianas. Pelo caminho, há uma expedição à terra que dá nome ao filme, apresentada como a região que contém a maior cratera da queda de um asteróide no mundo. Tudo parece correr pelo melhor (os sustos só começam mesmo com quase uma hora de acção já decorrida), até que o carro deixa de funcionar, os relógios param e o céu começa a ficar mais escuro nesta zona desértica, assim como as motivações desta primeira longa-metragem de Greg McLean… Adiantar mais seria trair os alicerces deste thriller psicológico que avança para territórios grotescos e nos apresenta um dos mais surpreendentes vilões dos últimos tempos – a surpresa anterior neste campo tinha sido, provavelmente, a criatura alada de «Jeepers Creepers». Porém, a figura de Mick Taylor (John Jarrat) convence pelo modo como capta o espírito de uma certa mentalidade australiana perdida no tempo, onde nem falta uma irresistível alusão a «Crocodilo Dundee». Mas nada de «luvas de pelica», porque WOLF CREEK é um conto de terror que não se retrai em chocar o espectador. E logo no início deixa-se o aviso: »Todos os anos desaparecem 30 mil pessoas na Austrália. Dez por cento delas nunca chegam a aparecer.» No final, «espremendo-se» o filme não sai sumo, mas uma enorme dose de hemoglobina.

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