4 de outubro de 2007

NA SALA ESCURA: Rebelde em busca de causa







AVAREZA.
«Ele é só exterior e ela é só interior.» JORGE CRAMEZ (realizador) in PÚBLICO

O filme chegou de mansinho às salas, ainda que a sua história se imponha com violência, porque as suas personagens gritam por dentro e mostram que a passagem para a idade adulta é um terreno movediço feito de encruzilhadas, reviravoltas emocionais e longos silêncios de uma espontaneidade que quer ficar amadurecida.

No entanto, O CAPACETE DOURADO é talvez um dos mais interessantes «pequenos filmes» nacionais que ousaram tentar a sua sorte no meio dos blockbusters de fim de Verão.

Dirigido por Jorge Cramez, habitual anotador dos filmes de Teresa Villaverde (que até faz uma perninha no ecrã), o filme desenrola-se com simplicidade, porque é de vidas simples que se trata. Simples, mas com marcas, daquelas profundas à maneira dos «rebeldes sem causa» dos tempos de James Dean.

A abordagem é assumida mas transfigurada por uma série de boas ideias cinéfilas. Mais do que uma mera história de amor proibido, O CAPACETE DOURADO é um bonito hino à inocência dos sentimentos, à rebeldia e à descoberta do primeiro amor.

Com planos muito belos (como a sequência do «bailado» de motas ao som de música clássica ou a reconversão em câmara lenta do momento de discoteca alucinante), a obra é resultado de um cuidado trabalho cénico, que aproveita ainda um punhado de bons actores como secundários - por aqui passam, além dos protagonistas Eduardo Frazão e Ana Moreira, Rogério Samora, Rita Blanco, Maria João Luís, Alexandre Pinto (que incorpora particularmente bem a sua personagem) ou Alexandra Lencastre.

O filme é indicado para todos aqueles que afirmam que o cinema português perdeu a inocência.


O CAPACETE DOURADO
De Jorge Cramez (2007)
* * * *
Com o selo Clap Filmes, este singelo romance não é à sua história de amor simples que deve a sua maturidade. É ao punhado de boas ideias visuais que o seu realizador consegue transpor para o grande ecrã. Além disso, Cramez usa e abusa da (boa) música para ilustrar um conto de dois jovens que se amam e curam as feridas vividas em corpos inocentes, numa história baseada num conto verídico de consequências bem mais dramáticas. O realizador optou pelo final feliz, aberto. E não é que convence?

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