26 de outubro de 2008

NA SALA ESCURA: A comédia quer-se negra?







IRA.
«Sabes o que aprendemos com isto? Não voltar a fazê-lo...» Chefe da CIA (J.K. Simmons)

Quando todos estavam à espera de ver os Irmãos Coen a ganharem juízo, impulsionados pela consagração (e os Óscares de «Este País Não é Para Velhos»), eis que a dupla resolve voltar às origens e abraçar novo exercício de comédia com travo negro. A diferença é que trazem consigo desta vez um elenco de luxo porque, de resto, a forma como as personagens são conduzidas para o abismo é igual a outras ocasiões.

E isso é um ponto contra DESTRUIR DEPOIS DE LER: trata-se de um mero exercício de estilo, voltar a apostar na fórmula dos perdedores que só se «enterram» mais quando tentam dar a volta e, acima de tudo, revela já algum desgaste nas ideias, até na forma como a comédia se dá a conhecer.

Pontos positivos? Também os há, nomeadamente ao nível das interpretações, com óbvios destaques para Brad Pitt (que incorpora muito bem a superficialidade de um personal trainer) e da excelente Frances McDormand (mais um Óscar para ela, por favor).

E, no fundo, apesar das fraquezas e de algum facilitismo no modo como toda a acção se desenvolve, o filme retoma o princípio de que os Irmãos Coen não conseguem fazer um mau filme.

O tom sarcástico, a inteligência dos diálogos, os twists melancólicos e a alma triste de todas as personagens não o permitem. O que se passa é que este é um filme «menos bom». A provar que o humor negro por si só não chega.

Outra crítica AQUI

DESTRUIR DEPOIS DE LER
De Joel e Ethan Coen (2008)
* * *
Mais um esforço dos irmãos Coen em revitalizarem o humor de dúbio sentido moral, o que neste caso ganha pela intrincada premissa de colocar dois trabalhadores de um ginásio, de perfil perdedor, a quererem ganhar milhões graças às supostas memórias confidenciais de um ex-agente da CIA. Pois, aqui nada é bem o que parece, o que não quer dizer que haja assim tantas surpresas. Apesar da inteligência e ironia dos irmãos Coen, esta fórmula já nós a conhecemos bem. Ao nível de «Crueldade Intolerável» e do remake de «The Ladykillers», este filme ganha pontos na aura de absurdo que atravessa a história e nos bem conseguidos desempenhos. Queremos mais para a próxima!

1 comentário:

innocent bystander disse...

E porque é que um filme que se chama BURN after reading se transforma em DESTRUIR depois de ler?