11 de março de 2009

NA SALA ESCURA: Os nomeados que faltavam









SOBERBA. «Não estou assustado. Não estou assustado com nada. Quanto mais sofro, mais amo. O perigo apenas faz crescer o meu amor.» MICHAEL (David Kross) em O Leitor

No meio do rebuliço dos Óscares, houve a necessidade de descobrir a totalidade dos nomeados para as principais categorias de forma apressada, a tempo da cerimónia. Na altura, não houve oportunidade para escrever sobre os três visionamentos, mas aqui se fecha o ciclo dedicado às estatuetas douradas deste ano.

O que se pode desde já assegurar é que a colheita foi boa.

Os principais nomeados são bons filmes, de géneros distintos e com valores de produção igualmente antagónicos. Se houve filmes mais académicos como «O Estranho Caso de Benjamin Button» (ainda assim, o meu favorito para os principais prémios) ou «O Leitor», também se procurou dar espaço ao cinema de tom político, caso do interessante «Frost/Nixon».

O cinema-surpresa veio com o óptimo trabalho de Gus Van Sant, «Milk», e principalmente com «Quem Quer Ser Bilionário?», a euforia do ano, sintoma também de que há vontade por parte da Academia em olhar para outras cinematografias e até para outras culturas (a Índia está na moda!).

O único verdadeiro perdedor dos cinco foi «Frost/Nixon». Coube-lhe a ele sair de mãos a abanar do Kodak Theatre, mas teve a vantagem de evidenciar que há ainda interesse em ir à história recente da política norte-americana para daí construir uma forma de cinema madura e inteligente. Além de grandes composições entre a dupla de actores, o filme mostrou que Ron Howard até tem algum talento para lá da sua veia académica e comprometida.

Já «O Leitor» representou a consagração de Kate Winslet, finalmente Óscar de Melhor Actriz. Delicada e novamente extraordinária, a estrela de «Revolutionary Road» entrega-se como nunca a uma história sobre memórias mal resolvidas e o poder da palavra. Não só de honra como da escrita.

Por fim, «Milk» é um sintoma de que Gus Van Sant nunca se cansará de experimentar. Desta vez num tom menos introspectivo, traça um tocante e bem documentado retrado de Harvey Milk, naquela que é uma das mais impressionantes composições de Sean Penn. Quem não deve ter achado graça nenhuma foi Mickey Rourke, que viu o Óscar que lhe era prometido ir parar às mãos do actor de «Mystic River». Foi o único twist da noite.

O LEITOR
De Stephen Daldry (2008)
* * *
Desde que se estreou na realização de longas-metragens com «Billy Elliot», Stephen Daldry tem sido sempre nomeado para o Óscar de Melhor Realizador. Aconteceu com «As Horas» e agora com este seu novo trabalho sensível, que regressa às marcas da Segunda Grande Guerra, com o centro da acção na Alemanha. É certo que no filme se fala em inglês, que Ralph Fiennes parece nunca encontrar o seu lugar na história e que há alguma falta de ritmo na segunda parte. No entanto, «O Leitor» começa muito bem e enaltece-se graças à entrega de Kate Winslet e ao jovem actor alemão David Kross. A relação carnal é particularmente bem dirigida e a história que a suporta tem um peso que é de assinalar. Daldry é um artista sensível e preocupado com o sentido das imagens.

MILK
De Gus Van Sant (2008)
* * * *
O realizador que gosta de experimentar procurou desta vez traçar um drama com pretensões documentais sobre a figura de Harvey Milk, primeiro político assumidamente homossexual a chegar a um lugar de relevo nos Estados Unidos. Para lá do discurso sobre a igualdade, o filme impressiona pelo extraordinário trabalho de montagem, o tom elaborado dos planos (há cenas que se vêem apenas a partir do reflexo de um espelho, que são de cortar a respiração) e os actores. Aplausos para Sean Penn, cada vez mais extraordinário. Já o argumento, complexo mas muito bem articulado, foi também premiado com um Óscar.


FROST/NIXON
De Ron Howard (2008)
* * *
Transformar uma célebre entrevista num filme é um desafio interessante para qualquer realizador. Rapidamente se podia tornar num projecto monótono ou vazio. Ron Howard aceitou o repto de colocar de novo frente a frente Nixon (Frank Langella) e o jornalista David Frost (Michael Sheen) e não se saiu nada mal. O tom é acutilante e bem contextualizado, se bem que seja uma adaptação de uma estrutura já existente, a peça teatral feita até com o mesmo par protagonista. No entanto, é um sinal de cinema de confronto de valores que também faz falta.

Sem comentários: