31 de dezembro de 2006

CINEFILIA: A Europa à procura de um lugar na animação

... E, subitamente, o SIN CINEMA tenta re-inventar-se de novo, quando ainda há bem pouco tempo sofreu um "lifting" para melhorar a leitura dos poucos (mas fiéis) "pecadores das imagens". A mudança, desta vez, que coincide com a entrada em grande em 2007, prende-se com uma renovação de conceito: criar ciclos semanais, apostando no facto da semana ter tantos dias quanto o número de pecados. Assim, tentarei passar a sugerir um tema que se estenderá por sete pecados visuais e uma análise mais profunda do tema escolhido. Nesta primeira abordagem "SIN CINEMA - 7ª arte como 8º pecado capital", o destaque vai inteirinho para a animação de raíz europeia, a propósito da estreia de ARTUR E OS MINIMEUS, de Luc Besson. O filme estreou-se como promessa infantil de Natal e impressionou à partida pelos valores de produção envolvidos - nada mais nada menos do que 65 milhões de euros!! As receitas, até ao momento, têm estado aquém das expecativas, até porque o "target" da obra (com vozes de Madonna, Freddie Highmore, Robert DeNiro ou Snoop Dogg) parece demasiado abaixo das produções da PIXAR, que se esforçam por criar histórias e estéticas visuais que possam ser consumidas tanto pelo avô como pelo neto. Com um brilhante tratamento digital na animação (embora combine também uma acção em imagem real), ARTUR E OS MINIMEUS carece, ainda assim, de algo mais do que a componente de fábula fantástica. A dinâmica das personagens é pobre e o sentido de humor poderia ser também mais apurado... Um chavão que, na verdade, se constata nas mais recentes tentativas do cinema europeu em fazer sombra ao apogeu norte-americano na matéria. O que se passa nas duas indústrias é, essencialmente, um défice de boas histórias e o caso europeu revela-se ainda mais vulnerável quando tenta compensar fracas premissas dramáticas com projectos oníricos de pouca densidade... Exemplos? SONHO DE UMA NOITE DE SÃO JOÃO, obra que se estreou no ano passado e que, acima de tudo, tem o mérito de representar a entrada de uma produtora luso-galaica, a Dygra Filmes, no território lucrativo das longas-metragens de animação digital (está, entretanto, a ser preparada uma nova obra em torno do herói Viriato). Aos poucos, a animação alarga-se a cada vez mais espectadores, mas nem sempre o excesso de oferta é proporcional à qualidade dos resultados finais. Nisso, os Estados Unidos continuam a liderar a técnica e o engenho narrativo. Nós, europeus, lá vamos tentando fazer frente e à procura da nossa "Amélie Poulain" animada...


ARTUR E OS MINIMEUS * *
Pecado:
Soberba
Luc Besson deixou no ar a hipótese de se retirar do cinema, mas voltou atrás para realizar a trilogia que escreveu primeiro em livros. O primeiro filme ainda se encontra em exibição nas salas e foi apresentado como a grande promessa deste Natal. Acima de tudo, trata-se de um enorme fogo-de-artifício visual, com belíssimas imagens digitais, uma história enternecedora de seres mágicos que habitam um jardim. Fora isso, sente-se que há muito dinheiro para uma fábula demasiado infantil. Realce-se, contudo, o regresso de Mia Farrow.

SONHO DE UMA NOITE DE SÃO JOÃO * *
Pecado: Preguiça
Produção luso-galaica já disponível em DVD, esta obra onírica cumpre todos os requisitos do filme europeu de animação pouco convincente: animação a precisar de ser afinada, má gestão dramática, infantilização das personagens e um universo mágico muito acentuado. Trata-se das aventuras de uma jovem por um mundo de fantasia, de forma a poder recuperar a crença do pai cientista no seu trabalho. Vale, sobretudo, pelo esforço.

BELLEVILLE RENDEZ-VOUS * * * *
Pecado:
Gula
O cinema de animação europeu não tem nada a perder com a noção de autor. Que o diga Sylvain Chomet, criador de um dos mais estimulantes filmes animados dos últimos anos, capaz de restituir um classicismo francês não só na história como no traço. As peripécias de Madame Souza para recuperar o seu neto, raptado na América, são deliciosas e revelam um imaginário visual (e musical) único. Nomeado para o Óscar de Melhor Filme de Animação.

A SUSPEITA * * * *
Pecado:
Avareza
No campo da animação com bonecos de espuma e movimento "stop motion", nós por cá (ou melhor o hercúleo trabalho de José Miguel Ribeiro) demos nas vistas com esta curta-metragem de pouco mais de 20 minutos sobre um crime "à la Hitchcock" que decorre numa viagem de comboio. Perfeccionismo artístico e boa criação de personagens, num filme vencedor do Cartoon D'Or, recentemente lançado em DVD.

PINÓQUIO 3000 *
Pecado:
Luxúria
Em filme infantil, não há certamente um explícito pecado de luxúria. Esta escolha vai para o olhar lânguido da fada desta versão futurista do conto de Carlo Collodi, que é mulata, tem formas voluptuosas e fala com sotaque crioulo... (!?) Quem se lembrou desta e de outras deturpações não tem qualquer sentido crítico e o filme falha em todas as frentes. A versão de Benigni é... (custa dizer) melhor!

O SALTA-POCINHAS * *
Pecado: Inveja
2005 foi um ano com muitas estreias de animação europeia e esta... foi só mais uma! Produção belga que se limita a retirar fórmulas de outras fábulas já existentes vai, inclusivamente, repescar a figura medieval de O Salta-Pocinhas (por cá bem melhor imortalizada em livro por Aquilino Ribeiro), a raposa espertalhona que promete salvar o reino de uma conspiração. Resta, apesar de tudo, um bom sentido de ironia para compensar uma animação digital ainda muito presa a arquétipos.

VALIANT - OS BRAVOS DO POMBAL * * *
Pecado: Ira
Por ser um filme passado na II Grande Guerra, esta obra britânica tem talvez as cenas mais agressivas dos exemplos mostrados. Mas não deixa de ser uma longa-metragem infantil bem intencionada, que recorda a importância dos pombos-correio nos cenários de batalha. De todos os sete filmes, é talvez o mais aproximado dos padrões americanos, quer pela animação mais descomplexada, quer pelo moralismo e as peripécias bem imbricadas na história. Contudo, fracassou nas bilheteiras.

1 comentário:

home design disse...

nice post bro, keep posting