25 de dezembro de 2006

Um Natal como peixe na água

Quando, neste período, se liga um canal de televisão (o electrodoméstico mais universal neste tipo de encontros familiares), o cenário nem sempre é o mais aliciante: filmes que repetem todos os anos desde que me lembro (tipo MÚSICA NO CORAÇÃO ou E.T. - O EXTRATERRESTRE), versões manipuladas de novelas já existentes (quem se lembrou de "Morangos com Açúcar - Férias de Natal"?), galas intermináveis com música ligeira portuguesa (quase sempre tão ligeira que nunca é levada à sério, nem pela plateia que está presente nos estúdios) ou uma muita rara emissão de circo de prestígio no segundo canal. Embrenhado que estou pelos prazeres da animação, este Natal, o pequeno ecrã pertence à SIC. Não só porque escolheu transmitir À PROCURA DE NEMO no dia de hoje, como o vai fazer num horário consensual: o início de tarde. Uma excelente medida de bom gosto, já recompensada pela exibição de outros filmes de animação. Neste caso, a aposta é imbatível: trata-se da melhor animação dos estúdios Disney dos últimos anos, que parece sintetizar na perfeição a tradição das fábulas clássicas da animação, com o prodígio visual das técnicas digitais de ponta, mérito da PIXAR. Sedenta de audiências, a SIC tem o trono garantido, porque não só À PROCURA DE NEMO deve juntar a família em volta da televisão, como transmite as emoções que todos temos nestes dias à flor da pele: estar mais próximos daqueles que nos ajudam a perceber o que somos.

Pecado do Dia:
Inveja

À PROCURA DE NEMO
SIC, 14.15 * * * * *
A Pixar promete ser para o século XXI o que a Disney foi para o século XX: ser o estúdio que dita as coordenadas em matéria de animação, conquistando milhões nas bilheteiras e dando excelentes lições de como contar uma boa história. Com uma diferença: depois de alguns percalços, a Disney continua a deter a Pixar, sinal de que quer continuar a reinar neste novo século, onde tanta animação parece querer despontar (muitas vezes, mais preocupada com os cifrões do que com a novidade). À PROCURA DE NEMO é por tudo isso o melhor exemplo de como a tradição só tem a ganhar com os novos tempos. É tão perfeita a alegoria das profundezas do mar, em matéria de organização sociológica, como o traço, o movimento dos peixes, a criação de ironias (os tubarões que querem ser vegetarianos...) e a procura consistente das dimensões moralistas da fábula. Nunca como nesta longa-metragem o património da animação se combinou tão bem com as tendências visuais de ponta... E tudo a partir de uma história simples, até nem muito criativa: limita-se a um peixe-palhaço que se separa do seu pai e vai parar ao aquário de um dentista. Resta a Merlin, o pai, seguir viagem e não desistir enquanto não consegue trazer de volta o peixe que dá nome a esta obra que foi um dos maiores êxitos de animação e Óscar de Melhor Filme do género.

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