25 de julho de 2007

NA SALA ESCURA: Não há crimes perfeitos

IRA. «Mesmo um relógio avariado está certo duas vezes por dia.» TED CRAWFORD (Anthony Hopkins)
Já deve estar prestes a sair das salas, mas só agora me apetece falar dele. Porquê? Porque tive a oportunidade de o ver tardiamente e... gostei do que vi. Na longa senda do thriller, há muito que o cinema comercial tem explorado até à exaustão o modo como pode engendrar noções dramáticas fortes para daí extrair o efeito-surpresa que vai fazer perceber que no jogo do crime, como da justiça, nem sempre as coordenadas visíveis são as reais. Em RUPTURA, do credível Gregory Hoblit (que dirigiu esse ainda mais poderoso filme de tribunal, «A Raíz do Medo»), as cartas postas em cima da mesa são tão claras e simples que incomodam. O que esconde a personagem de Ted Crawford (Anthony Hopkins, com a sua pose ambígua de veterano), que mata a mulher a sangue frio, mas que ninguém consegue prová-lo realmente? Neste envolvente processo que põe em causa as certezas e as minudências da justiça, o segredo está em testar a personalidade do ambicioso Willy (Ryan Gosling), um advogado que sonha alto, mais do que perceber as reais motivações do suspeito. E é aí, na sua postura, que se vai dar a mais incisiva ruptura deste filme, longo e sinuoso, mas também mais amadurecido do que se poderia esperar. Sem grandes surpresas, a surpresa lá surge no final. Mas vem tarde... não é o mais importante. Até porque todos sabemos que não há crimes perfeitos. Principalmente quando envolvem consciências...


RUPTURA
De Gregory Hoblit (2007)
* * *
Bom exemplo do thriller de tribunal inteligente, este filme não se compadece com grandes rodeios na altura de se definir. A história de um jovem advogado que pensa ter o caso mais simples do mundo entre mãos tem motivos de interesse que cheguem: por um lado, um duelo de actores de se lhe tirar o chapéu, depois as múltiplas camadas dramáticas que tornam a obra permissiva a um segundo olhar. Se algo falha é mesmo por o filme incidir num género já demasiado gasto por tanta tentativa menor em querer surpreender. Neste ponto, RUPTURA está inocente de todas as acusações.

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