11 de agosto de 2006

Na Pré-História já existiam épicos

Comprovei recentemente que há ainda uma série de obras preciosas inexistentes em DVD em edição portuguesa (Ed Wood, de Tim Burton onde estás?). Um fenómeno que tende a ser colmatado por editoras que se preocupam em fugir às estreias obrigatórias e a repescar clássicos esquecidos pela fita falível do VHS. A Atalanta Filmes e a Costa do Castelo têm pregado boas surpresas, revelando estarem atentas ao cinema que se fez e se vai fazendo de vários estilos e nacionalidades. Descobri recentemente na FNAC, uma edição especial do clássico A Guerra do Fogo, de Jean Jacques Annaud, obra europeia de 1981 (!?) que é ainda um excelente exemplo de como o cinema se consegue metamorfosear e quebrar barreiras espacio-temporais, neste caso específico atravessando a linha cronológica das eras e fazer o espectador recuar 80 mil anos. O resultado, asseguro, continua a ser surpreendente. Como a descoberta de que com duas pedras (ou um pau, um tronco e um monte de caruma) se consegue criar fogo.

Pecado do Dia: Inveja

A ideia de Annaud, que se iniciou no cinema com menos de 20 anos e que sempre
demonstrou vontade em experimentar novas tonalidades visuais e dramáticas, é de génio, tão ambiciosa quanto inverosímil para o início da década de 80, segundo os produtores que demoraram a avançar com o projecto. Por isso, só se pode sentir inveja de Annaud que constrói, nesta odisseia Pré-Histórica algo bizarra mas muito emocionante, uma espécie de "cinema-verité", se é que se pode assumir como realista a visão dos homens de há 80 mil anos com base essencialmente em relatos científicos. A Guerra do Fogo funciona e faz-nos acreditar no cinema como manual de História, capaz de partir de uma aventura entre três amigos de uma tribo que vão à procura da chama, uma ferramenta tão útil quanto as armas de caça ou as peles dos animais para criar vestuário. A fluidez com que Annaud gere a ficção com o documento científico é de louvar, ainda para mais em quase hora e meia sem diálogos. Mas para quê, se tudo se pode expressar com um gesto, um som ou um jogo de planos? O DVD recentemente lançado, que resulta de uma parceria entre a FNAC e a Costa do Castelo, possui ainda extras a reter como o "trailer" e um documentário sobre o fenómeno de um pequeno filme europeu estranho, que acabou por ser um êxito mundial em 1981 e conquistou até o Óscar para Melhor Maquilhagem. O resto é História. * * * *

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