13 de julho de 2006

O "swing" de Sinatra a preto e branco

Há quantos anos morreu Frank Sinatra? Segundo o calendário há oito, apesar de continuar a marcar presença constante na minha aparelhagem, seja a cantar em tom gingão o tema "Jeepers Creepers" ou numa pose mais eloquente (e como ele sabia fazer essa pose!) com "(I've Got You) Under My Skin". Sinatra era o corpo e a voz de um "swing" cristalizado no tempo, com reminiscências às "big bands" de Count Basie (com quem chegou inclusivamente a trabalhar em diversas ocasiões). Soube utilizar a sua imagem como poucos, até no grande ecrã (chegou a ganhar uma estatueta dourada como Melhor Actor Secundário em Até à Eternidade), e apesar de nem sempre conseguir fugir ao reconhecimento do cantor que quer afirmar-se como actor, conseguiu um punhado de boas interpretações. A melhor revi-a ontem, num clássico de Otto Preminger, O Homem do Braço de Ouro, em que Sinatra não hesitou em testar o seu estatuto transcendente de estrela (apesar de uma vida marcada por vícios e suspeitas de ligação à mafia), interpretando o primeiro protagonista do cinema num papel assumido de toxicodependente. O resultado? Um conto negro de dimensão existencialista e apurado sentido de decadência emocional, em que Sinatra revela contenção e boa capacidade de gestão dramática. Quem diria que, além da sumptuosidade dos palcos, o cantor sabia evidenciar-se nos enquadramentos intimistas de uma câmara narcisista, como a de Preminger?

Pecado do Dia: Soberba

Defensor do pragmatismo em detrimento dos artifícios narrativos, Otto Preminger construiu a sua carreira com obras lineares mas polvilhadas com marcas de autor por todo o lado. Preminger tinha orgulho do seu estilo e da sua obsessão por contar uma história através do movimento e das expressões dos seus actores. O Homem do Braço de Ouro é um exercício de estilo fabuloso, com uma excelente fotografia, uso expressivo da banda sonora e muitos traços de "film noir". Mas é um conto profundamente triste, de um homem, Frankie (Sinatra) a tentar lutar contra o vício. A seu lado, está uma esplêndida Kim Novak (na pele de Molly) e cada plano de conjunto entre este par é de antologia. De 1955, este filme foi nomeado para três Óscares (incluindo o de Melhor Actor). Cena memorável: o momento em que Molly pede lume a Frankie e, com a luz da chama de um fósforo, apercebe-se que o amado voltou a cair no vício. * * * * *

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