31 de julho de 2006

Quanto mais antigo, melhor

Não tenho tido muito tempo para ir ao cinema. "Mea Culpa!" O trabalho não ajuda e consome o tempo livre na medida em que me demoro a conseguir descolar dele. Depois, além da vida pessoal, que estimo e que nem sempre quero que se confunda com serões passados no cinema, tenho ainda uma série de DVDs que se têm vindo a acumular lá em casa para (re)ver. Neste período de alguma exaustão - em que ainda me escapam "filmes obrigatórios" na sala escura como Carros, Profissão: Repórter, Diários da Bósnia ou até mesmo a "pipoca" deste Verão Os Piratas das Caraíbas II - há um vício que não me escapa: o gosto dos clássicos. Sim, aqueles a preto-e-branco, do período de ouro de Hollywood, com meios arcaicos quando comparados com as grandes produções de hoje, mas que mostravam o vigor de se estar a desbravar novos caminhos rumo a uma ficção capaz ainda de surpreender... Nesta caminhada de testar emoções (por, em alguns casos, ainda não existirem precedências), enterneço-me sempre com um filme de Hitchcock, Preminger, Ford e... Billy Wilder. É a ele que dedico este apontamento, pela forma como acreditava que os seus filmes eram feitos para a gestão de expectativas do público e por ter criado alguns dos mais poderosos documentos cinematográficos em cada estilo - O Crepúsculo dos Deuses no melodrama, Pagos a Dobrar no thriller, O Apartamento na comédia romântica ou Grande Carnaval na crítica social e no poder manipulador do jornalismo. Depois, há ainda aquela deliciosa "screwball commedy", com duas "drag queens" de se lhe tirar o chapéu: Jack Lemmon e Tony Curtis. Às voltas com os enganos e uma mítica Marylin Monroe. Quanto Mais Quente, Melhor é daquelas pérolas que não cansam. E que constituem uma alternativa imediata (quando adquirido o DVD) à ressaca de estar a falhar o compromisso de ir ao cinema todas as semanas. Os clássicos ficam... e eu com eles.

Pecad
o
do Dia: Luxúria

Num tempo em que a censura apertava, é de 1959 que estamos a falar, Billy Wilder usou este
entrave para trabalhar a ironia como arma e tornar uma comédia aparentemente inofensiva num jogo intenso de paradoxos sexuais, com críticas ainda às tramas de "gangsters" e a alguma repressão. Quanto Mais Quente, Melhor respira sexualidade (e sensualidade muito por culpa dos caracóis louros e das formas voluptuosas de Marilyn, sempre Marilyn...) por todos os poros, sem mostrar mais do que uma alça descaída, uma perna mostrada de relance ou um olhar. Quando Jack Lemmon e Tony Curtis se vêem forçados a vestirem-se de mulher para escaparem à morte, começa a montanha-russa de lugares em falso, sarilhos que Billy Wilder desmonta e gere com a mestria que poucos conseguem sem que pareça falso. Por isso, e por todo o "timing" perfeito nas doses de comédia, Quanto Mais Quente, Melhor (Óscar de Melhor Guarda-Roupa) vai para aquele lugar elitista das comédias perfeitas, cristalizadas no tempo, que não perdem uma gota de inventividade quase 50 anos depois. Afinal, as armadilhas que provocam o riso continuam a ser as mesmas. E Marilyn tem aqui a sua prestação mais memorável. * * * * *

1 comentário:

emot disse...

Quanto mais Quente, Melhor. Que delícia de filme! Até já o analisei no que diz respeito à "comicidade" numa aula... até isso teve piada.