8 de novembro de 2008

OS SETE PECADOS DE... Outubro 2008







IRA.
Continuo a deliciar-me com o western, o género por excelência norte-americano, que coloca as suas personagens em missões espinhosas enquanto exibe as dores de um país ainda à procura de uma identidade. Recentemente revi a relação agitada entre John Wayne e a glamourosa Marlene Dietrich em «Oiro», mas fiquei mais suspreendido com JUBAL, obra em que Glenn Ford representa um homem do qual sabemos pouco que, ao chegar a uma pequena comunidade, rapidamente ganha a atenção do futuro patrão e da mulher deste. O desempenho de Valerie French é ousado para a época, mas mostra que as missões no Velho Oeste são também dominadas por mulheres. Femininas, submissas e símbolo da família. Neste caso particular, há uma ousadia a reter, elevando esta obra de Delmer Daves a um outro patamar da tradição dos sexos. Só é estranho ninguém ter dado por este filme... Clássicos esquecidos só dão prazer redobrado quando são descobertos.

GULA. Acabo de vir da Fnac onde voltei a sucumbir à loucura do consumismo. Alerta: fãs de Woody Allen fujam das lojas de DVD. Motivo? O lançamento de dois packs cujas obras ainda não estavam editadas em português. São os casos de «Bananas», «Alice», «Setembro», os hilariantes «O Herói do Ano 2000», «O Agente da Broadway» e «Nem Guerra Nem Paz», «Sombras e Nevoeiro» e «Crimes e Escapadelas». O que fica a faltar ver nas lojas? A dupla «As Faces de Harry» e «Celebridades» e os mais atrasados - mas obrigatórios - «A Rosa Púrpura do Cairo», «Zelig», «Os Dias da Rádio» e o felliniano «Recordações». O que é certo é que já faltou mais ter a obra integral do mestre... que é tão amigo do cinema quanto inimigo da carteira!

AVAREZA. A surpresa cinematográfica do mês vai para uma obra sublime, que revela maturidade no modo como imbrica personagens e situações, explorando ainda a morte num contexto multicultural. «Do Outro Lado» é um dos mais sensíveis melodramas que conseguimos encontrar nas salas e a prova que faltava do talento único de Fatih Akin.

LUXÚRIA. O casal de amantes interpretado por George Clonney e Frances McDormand em «Destruir Depois de Ler» é a surpresa extra-conjugal do mês, graças ao lado caricatural de dois perdedores. Ele é um homem inconstante cujo hobby é correr (como que a fugir de si próprio...), ela uma mulher solitária que sonha ter dinheiro para ganhar literalmente uma cara nova. Juntos formam um delicioso par, dos mais hilariantes do novo cinema. Ainda por cima com o selo dos irmãos Coen.

INVEJA. Susan Sarandon passou por cá, no âmbito do Lisbon Film Festival. Foi uma visita há muito esperada, com a mais-valia de representar uma escolha que não se esgota na referência do cinema, mas também nas suas convicções políticas. Frases sonantes? Dizer que não votaria em Hillary Clinton só «porque ela é uma vagina». Ui! Sarandon nunca foi de meias-palavras. Talvez seja por isso que todos a adoramos.

PREGUIÇA. Ainda em matéria de política, esperava-se muito de Oliver Stone e da sua visão de George W. Bush, agora que o presidente dos Estados Unidos está de saída, deixando para trás um país à beira da ruptura financeira. «W» é um retrato a espaços irónico e mordaz, mas fica a meio caminho de conseguir criar um ponto de vista. É certo que rejeitar maniqueísmos pode parecer boa opção, mas nem tudo é defensável nesta figura bem interpretada por Josh Brolin. O que passa no final é que a experiência tem pouco para oferecer além de algumas boas ideias e se deixa levar por um certo oportunismo político.

SOBERBA. A renovada «Premiere» chegou finalmente às bancas e rapidamente ocupou um lugar que esteve demasiado tempo por preencher. Com um excelente papel e capa, só fica a faltar novidades nos seus conteúdos, uma escrita mais apurada e de melhor sentido crítico. Outro ponto fraco no novo número? Escolherem uma imagem desfocada. Algo que já foi ultrapassado na bela homenagem ao 007 que domina o segundo número. Longa vida para a revista é o que se deseja. E que continue a querer sempre ser melhor.

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