30 de abril de 2009

Independência sempre

AVAREZA. «Através da invenção, da imaginação, da criação, torno-me mais autêntico que os pequenos burocratas.» WERNER HERZOG

Durante o período em que estive mais afastado das lides cinematográficas, começou mais uma edição do IndieLisboa. Um festival de cinema que já vale por si, não precisa de divulgação de alguém que não tem tempo para o explorar como devia.

Apesar disso, faço-o porque respeito a coerência do evento, a ebulição de ideias e a motivação para mostrar outros modos de pensar o cinema, seja longo ou curto, ficcional ou documental, português ou estrangeiro. Cabe tudo no IndieLisboa e ainda bem.

Por isso há que estar atento: até dia 3 de Maio, vale sempre a pena dar uma espreitadela porque há sempre coisas a descobrir. Este ano está-se a relembrar a obra de Werner Herzog, cineasta dúplice, caótico e certamente um dos que melhor define a independência que caracteriza o certame.

Em histórias minimalistas e projectos sempre pessoalíssimos, o seu cinema é um dos mais importantes sinais de que a ousadia merece o seu espaço. A dupla Herzog-Kinski marcou.

Além disso, a sua experiência no cinema documental também merece ênfase. Vai poder assistir-se ao seu primeiro documentário desde «Grizzly Man», ENCOUNTERS AT THE END OF THE WORLD, viagem que o realizador fez com o seu operador de câmara até à Antártica.

Mais uma meditação sobre a força da Natureza, a descobrir domingo, às 16h00, no Cinema São Jorge.

Esta é apenas uma sugestão, num programa gigantesco. Quaisquer destaques são redutores. O melhor mesmo é consultar a programação AQUI.

28 de abril de 2009

NA SALA ESCURA: Mais 3D, menos história












GULA. «Posso não ter cérebro mas tenho uma ideia.» B.O.B (Seth Rogen, na versão original)

Depois de uma pausa para descanso, eis-me de volta a reflectir sobre o cinema e os seus novos caminhos. É certo e sabido que o que aí vem passa cada vez mais pela profundidade, ou seja, por dar novo cunho ao olhar. As projecções 3D deslumbram, tal como, por exemplo, a perspectiva deslumbrou na pintura do Renascimento.

Não sei se será o fim do ecrã plano, até porque no passado houve outras experiências que não resultaram - quem esquece os óculos coloridos para ver o clássico «O Monstro da Lagoa Negra»?

No entanto, há um aperfeiçoamento da tecnologia (sim, ainda a precisar de óculos...) que, aliada à animação digital, permite criar um assombro e uma vivacidade que pode dar novo fôlego a um cinema dizimado pela multiplataforma de ecrãs, a cópia, a democratização dos filmes.

Sabe-se também que se testam já novas televisões e há experiências verosímeis que apontam para técnicas que permitem descolar os conteúdos visuais até 40 centímetros do ecrã. As potencialidades são imensas, mas o cinema deve avançar nesse sentido sem descurar o seu imenso património.

A mais recente animação da Dreamworks, MONSTROS VS. ALIENS, é um divertimento em grande, enaltecido por uma técnica aprumada e um conhecimento já muito confortável dos efeitos da tridimensionalidade no olhar de um espectador ávido de novas sensações.

Colorido e com personagens dinâmicas, o filme volta a colocar em alta a indústria da animação, que tem saído fortalecida pela capacidade em entreter não só os mais novos como os adultos. A Pixar ainda é rainha nestas experiências, mas esta paródia à ficção científica não tem nada com que se envergonhar.

Quanto muito, falta-lhe uma história mais coesa, alguma coerência nas suas personagens demasiado caricaturais, mas a vontade em convocar memórias ligadas à ficção científica permitem hora e meia do mais puro divertimento. O cinema também é isso!

Outra crítica ao filme aqui

MONSTROS VS. ALIENS
De Rob Letterman e Conrad Vernon
* * *

Temos uma mulher gigante a lembrar a heroína «série Z» de outros tempos; um insecto com reminiscências de «A Mosca»; um ser aquático muito próximo de «O Monstro da Lagoa Negra» e uma figura gelatinosa que é talvez a mais cómica de todas. Depois, há extraterrestres esquizofrénicos, um presidente dos EUA incompetente e a lembrar «Dr. Estranhoamor» de Kubrick. Sim, é nesta panóplia de lembranças que esta diversão animada ganha pontos. É mais um sucesso global, embora lhe falte uma história que prima pela originalidade. No entanto, a grande técnica 3D e o assumir de que aqui o que conta é mesmo o artificialismo absurdo do excesso dão força e graça a esta obra. Sim, MONSTROS VS. ALIENS é um filme engraçado.

9 de abril de 2009

CINEFILIA: As cinco promessas de Abril









SOBERBA. É um mês que se avizinha apinhado de estreias (há semanas em que o número de novos filmes ultrapassa a meia dúzia), o que não quer dizer que proliferem por aí as propostas com interesse. Há obras para todos os gostos, mas sente-se falta de um título mais forte. Ponto positivo? O novo cinema brasileiro e o português que não se rende aos lugares-comuns dão sinais de vida.

- UM AMOR DE PERDIÇÃO: A história de Camilo Castelo Branco é actualizada pela mão hábil de Mário Barroso. É certo que a ideia de ir às obras clássicas da literatura é uma aposta segura, mas capaz de resultados sofríveis, como o êxito de «O Crime do Padre Amaro». Não há esse risco por aqui. Basta ver o trailer para se perceber que o que se pretende é usar o património literário em nome de um experiente cinema, contido e inventivo. É bom recordar que Mário Barroso ofereceu-nos bons trabalhos como «O Milagre Segundo Salomé».

- A ORGANIZAÇÃO: É o tudo ou nada para o realizador Tom Tykwer em Hollywood. E é prometedor este filme em alta voltagem, porque mete um agente na caça a um banqueiro suspeito de crimes como lavagem de dinheiro e até terrorismo. Podia ser uma busca frenética para apanhar um outro Madoff, mas aqui, ao que parece ainda se vai mais longe. Clive Owen e Naomi Watts devem funcionar bem juntos.

- AUTOCARRO 174: O novo cinema brasileiro volta a mostrar o que vale e logo às ordens do experiente Bruno Barreto. Apesar de se basear na célebre tragédia que envolve o sequestro dos passageiros de um autocarro, cria um relato ficcional em torno de um órfão. Aqui não há heróis nem vilões. Apenas pessoas.

- HISTÓRIAS DE CABARÉ: É o filme transgressor do mês ou não fosse dirigido pelo independente Abel Ferrara. Ray Ruby's Paradise é um cabaret em Manhattan, espaço onde a falência figura no horizonte...

- APPALOOSA: É o regresso do também actor Ed Harris à realização. E logo a pretender ressuscitar o western. Só pela ousadia e pela sua interessante proposta anterior («Pollock») merece atenção. Além disso tem Viggo Mortensen, Jeremy Irons a fazer de mauzão e até uma perninha de Renée Zellweger. Alguém dará por ele?

7 de abril de 2009

OS MEUS POSTERS... O Padrinho (parte II)









































INVEJA. Este é o meu breve tributo aos 70 anos de Francis Ford Coppola, a comemorar este dia 7 de Abril. É certo que a carreira do gigantesco cineasta paralisou na década de 90, mas ninguém lhe retira o engenho e a força da trilogia «O Padrinho», «Apocalypse Now», «Drácula de Bram Stoker» ou «O Vigilante». O seu cinema é gigantesco. Seja na elaboração de obras-primas como de projectos falhados.

Os sete pecados de... Março 2009

IRA. Numa incursão insistente pelo género western deparei-me com um interessante filme em que a personagem determinante de toda a história é... uma arma. WINCHESTER '73 respira clássico por todos os poros e, além de uma realização dinâmica de Anthony Mann, há ainda planos ousados para o género do Velho Oeste e uma interpretação de James Stewart mais aguerrida do que o previsto. Nesta jornada pela posse da tal arma, há muitos que ficam pelo caminho. Mas no meio dos resistentes há uma mulher: a extraordinária Shelley Winters. Era bom que todos os filmes fossem assim: reactivos e muito interessados em reflectir sobre valores, sem com isso descurar a força artística que deve fazer mover um filme.

SOBERBA. Em cada ida ao videoclube, uma nova constatação de que devia ir mais vezes ao cinema... O que ficou por ver no grande ecrã? «Nós Controlamos a Noite», a interessantíssima obra de James Gray, que insiste em querer parecer-se com Scorsese ou Coppola, na forma como se deixa embrenhar no mundo do crime. Pois bem, a história está muito bem contada, tem as reviravoltas que se lhe pedia e duas interpretações estrondosas, tanto de Joaquin Phoenix como de Mark Wahlberg. Depois o cuidado no tratamento das imagens é profundo e há aqui uma mística muito pouco presente no moderno cinema norte-americano. Uma boa surpresa. Carregada de intensidade!

PREGUIÇA. No outro dia alguém me disse: os DVD piratas são melhores do que os originais. Pelo menos, não temos aqueles irritantes e obrigatórios vídeos a alertarem para o facto de nunca se roubar a carteira de quem está ao lado. É um pouco paradoxal, não? As cópias estão livres disso enquanto que quem paga do seu bolso por um DVD tem de aturar a lição toda... «O download é um crime». Sim, tudo bem. Mas parece que quem paga mais as favas é quem não o faz.

GULA. A moda dos DVD com jornal continua. Parece que «Expresso» e «Visão» se articularam para distribuir grande parte dos títulos de Almodóvar. Boa ideia! Até porque as edições a distribuir são cuidadas e apresentam capas muito bonitas.

AVAREZA. Sabemos que os multiplexes vieram para ficar e os cinema mais pequenos... estão a esforçar-se por sobreviver. Mas, ainda assim, convém ter algum cuidado. Poupar a todo o custo pode levar ao descontentamento do cliente: no outro dia fui ao Fonte Nova, cinema que prezo muito, mas quase tive de suplicar para me venderem um bilhete. Não estava ninguém na cabine. Tive de esperar cinco longos minutos para ser atendido... já na sala, as luzes demoraram uma eternidade a apagar e, no final, nem chegaram a acender já depois dos créditos terem terminado. Resultado? Foi uma saída às apalpadelas.

LUXÚRIA. Foi a desilusão do mês: o triângulo formado por Gwyneth Paltrow, Martin Freeman e Penélope Cruz prometia muito em «O Sonho Comanda a Vida», mas desemboca numa reflexão atabalhoada sobre o poder dos sonhos. Há um superficialismo bacoco no olhar desencantado da personagem de Freeman e Cruz não faz mais do que querer parecer uma musa de poucas falas. Já Paltrow safa-se às ordens do irmão, mas não chega para evitar o bocejo.

INVEJA. Diz-se que Zack Snyder fez um óptimo trabalho na aproximação do cinema à BD de «Watchmen». Os aplausos parecem ser mais que muitos. E eu que não arranjei um tempinho para o ver em sala...