28 de fevereiro de 2008

OS MEUS POSTERS: Este País Não é Para Velhos

























GULA.
Neste pequeno interregno para retemperar forças, o cinema não pára. Por isso aqui vai: parabéns, irmãos Coen pelos Óscares e pela revisitação do western, que quero mesmo ver. Vocês é que têm razão: «Este País Não é Para Velhos»... nem para fracos. Por isso, prometo voltar já, já. Entretanto aos «fiéis», thanks for the support!

12 de fevereiro de 2008

NA SALA ESCURA: Alma (perdida) de viajante







AVAREZA.
«A felicidade só é real se for partilhada.» Christopher McCandless (no seu diário)

Quem gosta de viajar com a mochila às costas, quase à deriva, e para bem longe de tudo e de todos, embrenhando-se no espaço novo, à descoberta, deve ter sentido com mais força aquilo por que viveu Christopher McCandless, cedendo ao poder da vida em comunhão com a Natureza.

É disso que trata o livro homónimo de O LADO SELVAGEM («Into the Wild» no original), um retrato biográfico desesperado que Sean Penn bem soube recuperar, criando um intenso melodrama sobre alguém que quer fugir, até de si próprio
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Ninguém duvida que a tentativa de escape, evasão extrema,personificada por Christopher McCandless se deve a uma existência corrompida desde cedo, por divergências familiares e as aparências que nos podem forçar a sermos alguém que não queremos.

O que choca mais neste relato desesperado, e mais imponente por ser verídico, é mesmo o facto de ter sido protagonizado por alguém lúcido, inteligente, alguém que no despertar para a idade adulta sucumbe à imensidão que representa o sentido de responsabilidade que o contexto social nos impele a seguir.

Quem decide encontrar um atalho, e se rege por causas válidas mas desadequadas da realidade, tem de lutar contra a corrente, evitar olhar para o lado e abraçar o lado natural da vida. Que não é aprazível, como se pensa, mas austero, lacónico e brutal.

Talvez Christopher (que no filme é muito bem interpretado por Emile Hirsh) quisesse reduzir a sua condição de «bicho social» à sua base mais animalesca, mas cai na contradição de negligenciar o seu sentido de humanidade, a sua capacidade de pensar pela sua cabeça, e por consequência, pela dos outros. Há quem defenda que existimos por e pelos outros, pela capacidade de entrega, de sentir, de lembrar.

O (anti)herói desta história de libertação vive o paradoxo de, à medida que se afasta das amarras sociais, poder sentir-se mais puro, mas igualmente mais sozinho e vazio. Como encontrar o equilíbrio? Viver um dia de cada vez, pode ser uma resposta.

O que é certo é que este brilhante filme de Sean Penn consegue levantar muitas questões à custa de imagens poderosas, um sentido de narrativa apurada, que consegue não desvirtuar o que define a missão de um homem à procura do seu lugar no mundo. Mesmo que ele seja no espaço gelado e inóspito do Alasca...

O LADO SELVAGEM
De Sean Penn (2007)
* * * * *
Já se sabia que o talento de Sean Penn não se circunscrevia à interpretação (alguém duvida de que ele é um dos grandes nomes do actual cinema norte-americano?), até porque «Acerto Final» ou «A Promessa» tinham deixado perceber que o cinema de Penn é um cinema de causas e estilizado pela convicção de que o filme deve reflectir uma intenção. Ora, parece que é nesta bela e triste história de um jovem, a querer fugir da civilização e do passado, que Sean Penn acertou em cheio no estilo, criando uma obra árida, que se deixa contaminar visualmente pelas paisagens que convoca, e que passa a mensagem sem precisar de se perder em demasiadas palavras. Tudo bate certo aqui: desde a entrega do protagonista Emile Hirsh à banda sonora ou aos desempenhos secundários (Marcia Gay Harden, William Hurt, Catherine Keener e o veterano Hal Holbrook - nomeado para o Óscar de Melhor Actor Secundário - são irrepreensíveis...), há uma coesão nisto. Das mais arrebatadoras e impressionantes que o cinema norte-americano nos deu nos últimos tempos.

10 de fevereiro de 2008

Jornais a darem DVD volta a ser moda







GULA.
«O interesse no cinema reside no medo de morrer.» JIM MORRISON
O filão não é novo mas nunca esteve tão ao rubro como nos últimos tempos: com a quebra das tiragens, os jornais «deitam as unhas de fora» e aguçam o apetite dos portugueses para as borlas. Sempre que há um DVD de oferta, a edição esgota.

Essa máxima é bem visível no despique «DN» e «Correio da Manhã» às sextas, que oferecem DVD assim, sem mais nem menos.

Consta que o jornal centenário quer ganhar pontos neste dia da semana e, por isso, toca a distribuir DVD ao sábado (depois da compra do cartão à 6ª), que traz filmes memoráveis como «Sob Suspeita» ou «América Proibida» e esquecíveis como «Compromisso de Honra» ou «Golpe no Paraíso». Há que saber escolher...

A «Visão» não quis ficar alheada e também está a oferecer propostas interessantes sem subir o preço de capa. Já deu «Bouce - Um Acaso com Sentido» e «O Aviador», estando previsto ainda «O Fiel Jardineiro».

Mas... as melhores notícias ficam para o fim. Com o bom gosto do costume, o «Público» vai lançar a colecção mais importante deste «campeonato».


OK, não é de graça, mas reúne 25 obras-primas de 25 grandes cineastas, trazendo um livro dedicado a cada um dos realizadores e a promessa da qualidade «Cahiers du Cinéma». Boa aposta, ainda que o preço sejam os habituais 9,90 euros. Percebe-se, a qualidade paga-se, quando para mais vão passar por aqui Kurosawa, Scorsese, Leone, Truffaut ou Kubrick.

No entanto, a abrir as hostes está a obra-prima de Charles Chaplin, «O Emigrante», com o preço de lançamento de 3,99 euros. O melhor fica para o fim, de facto... Mas será que falta muito para nos darem dinheiro para levarmos connosco filmes em formato digital?

9 de fevereiro de 2008

OS MEUS POSTERS: Blade Runner

























GULA
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Numa altura em que só se fala da edição que faltava em DVD do clássico BLADE RUNNER, descobri este curioso poster de um filme que aproximou a ficção científica do caos e nos mostrou como o futuro se pode tornar um quebra-cabeças para a identidade. Há espaço para o humano? Sim, mas é uma espécie em vias de extinção.

QUIZ: A que filme pertence esta imagem?









De volta ao passatempo, nada também como regressar às memórias do cinema a preto e branco, nebuloso, com o som a colocar-se no seu lugar, tendo sido uma invenção recente. Alguém acerta neste desafio? É bom estar de volta...

Solução do QUIZ anterior: Com uma resposta certa, sim trata-se de uma cena de CAFÉ E CIGARROS de Jim Jarmusch.

3 de fevereiro de 2008

Primeiras ilações sobre os Óscares 2008







SOBERBA.
«O Óscar e eu temos algo em comum.»
John Wayne


Ver uma cerimónia dos Óscares é quase como ver um jogo de futebol do Benfica nos tempos mais recentes: toda a gente diz mal, refere as regras viciadas do jogo, insulta os protagonistas acusando-os de apenas marcarem presença devido ao cheque no fim do mês e fica insatisfeito com o resultado.

No entanto, continua religiosamente a seguir os 90 minutos, faz insultos, surpreende-se e solta impropérios quando não concorda com quem dirige o jogo.

Ver uma cerimónia dos Óscares é um ritual, uma «noitada» motivada pela ilusão de se estar mais próximo do cinema mainstream e dos seus protagonistas.

Este ano, porém, as coisas podem ser diferentes: os argumentistas insistem numa greve que faz sentido e reclamam «o seu», expondo as fragilidades de eventos que dependem de histórias, piadas e um fio condutor do qual só questionamos quando ele pode falhar.

Segundo consta, a Academia já está a preparar um «plano B» caso as coisas se mantenham no estado em que estão, criando uma cerimónia mais modesta. Sinal dos tempos modernos...

Quanto à categorias propriamente ditas, este é um daqueles raros anos em que ainda não vi os principais nomeados, ou pelo menos a maioria deles. Ainda assim, é talvez das edições mais sólidas dos últimos anos, atendendo-se a um reflorescimento do bom cinema de autor em Hollywood. Senão confirme-se: entre os cinco nomeados a Melhor Filme, não há nenhum grande épico, com excepção do romântico «Expiação» e do mais comercial «Michael Clayton».

Entre os realizadores estão nomes como os irmãos Coen, Paul Thomas Anderson e Julian Schnabel. O cinema independente também está mais forte do que nunca, como se comprova com as nomeações do filme «Juno» e do seu realizador Jason Reitman.

A nível de interpretações, a categoria de actores - Daniel Day-Lewis, Johnny Depp ou Tommy Lee Jones comprovam-no - parece mais forte do que a de actrizes. De resto, as categorias técnicas impressionam pouco, Michael Moore lá conseguiu que o seu «Sicko» figurasse na categoria documental, o Cazaquistão consegue chegar-se à frente e ser nomeado no Melhor Filme Estrangeiro e, na animação, está o único vencedor certo, certo desta edição: o soberbo «Ratatui», da omnipresente Pixar, que insiste em não dar um passo em falso.

Apesar de haver ainda muita coisa por ver, não resisto a palpites. Acertarei uma?

- MELHOR FILME: Este País Não é Para Velhos
- MELHOR REALIZADOR: Joel e Ethan Coen
- MELHOR ACTOR: Johnny Depp em
Sweeney Todd
- MELHOR ACTRIZ: Julie Christie em
Away From Her
- MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO: Javier Bardem em
Este País Não é Para Velhos
- MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA: Amy Ryan em
Gone Baby Gone
- MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL: Ratatui
- MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO: Este País Não é Para Velhos
- MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO: Ratatui
MELHOR FILME ESTRANGEIRO: Katyn (Polónia)