26 de junho de 2007

CINEFILIA: Junho 2007 - 4ª semana

SOBERBA. Esta é uma semana que fica desde já marcada pela presença de Roger Corman, esse vulto da «série B», de clássicos como A FOICE E O PÊNDULO ou A MÁSCARA DA MORTE VERMELHA, que está hoje e amanhã de passagem pelo Museu do Cinema. Agenda: dá-me uma abébia e deixa-me ir vê-lo à Cinemateca. Vá lá...

- SHREK 3: A trilogia fica, para já, completa com o regresso do ogre verde desesperado com a ideia de ter de ser rei... e pai. Embora já pouco surpreendente é o êxito deste verão e um prodígio de animação. Em exibição em todas as salas (às vezes em duplicado!).

- OS PISTOLEIROS MALDITOS: Pois é, Roger Corman vem mesmo cá, inaugurar o ciclo que a Cinemateca agendou até ao fim de Julho. E vai introduzir o visionamento deste clássico de western distorcido. Para ver obrigatoriamente, esta terça, às 21h30, no Museu do Cinema.

- THE BIG SLEEP/À BEIRA DO ABISMO: O TCM é um canal discreto (exibe só à noite, durante o dia é ocupado pelo Cartoon Network) da TV Cabo, mas merecia mais atenção. Na próxima 2ª feira (dia 2), às 21h40, passa este clássico movediço com o par Bogart e Bacall.

- CHARLIE E A FÁBRICA DOS CHOCOLATES: Tim Burton é recomendável todo o ano, mesmo nesta versão «chocolate nada light», com um Johnnie Depp impagável na pele do alucinado Willie Wonka. O filme tem uma belíssima edição em DVD. Muito açucarada.

- AS LIÇÕES DO CINEMA: Sim, regresso à universidade e às aulas de Filmologia com este livro, que me ofereceram há dias. João Mário Grilo, professor e cineasta, condensou as suas aulas numa singela obra literária, com preço apetecível: 8 euros. Só para (pseudo) cromos!

24 de junho de 2007

O MAIOR PECADO DE... Robert Rodriguez

PREGUIÇA. «Fica demonstrado que muito poucos estão imunes ao efeito corrosivo que a tecnologia exerce sobre a história, as personagens e o seu sentido.» WALTER SHAW, «Film Freak Central»

Toda a gente conhece o início impressionante da carreira de Rodriguez como realizador: juntou uns trocos, depois de aceitar ser cobaia para um novo medicamento em estudo, e com os meios mais amadores criou o mítico EL MARIACHI. Com uma valorizável dinâmica, sopro latino e muitas ideias para o novo cinema de acção. Hollywood resgatou-o e, ao aproximar-se de gente tão transgressora quanto Quentin Tarantino, criou o seu próprio nome no cinema comercial. A propósito da estreia para breve de GRINDHOUSE, a meias com Tarantino é altura de recuperar o seu ponto fraco. E aí, não há duvidas: SPY KIDS 3 é mesmo o mais bizarro pela combinação de efeitos especiais a três dimensões com mais um gasto capítulo de uma família de heróis, liderada por dois irmãos que se julgam muito espertos. Mas que são meras caricaturas. E aqui nada bate certo: Banderas é mais canastrão do que o costume, a animação 3D é excessiva e desproporcionada e, depois, há um vilão absurdo: Sylvester Stallone em dose tripla. Se o primeiro capítulo desta trilogia era arrojado, o segundo foi só tolerável e humoristicamente satírico. Já o terceiro... uma imensa desilusão. Em boa hora Rodriguez descobriu o potencial de SIN CITY. Aí sim, a erupção visual faz sentido!

CRÍTICAS DE FUGIR:
- Toronto Star: Rodriguez extravasou as suas habilidades com este filme.
- Reel.com: «Game Over.»
- Boulder Weekly: Um perdedor em toda a linha... Se Stallone já era mau por si, Rodriguez oferece-nos três!
- Chicago Tribune: Enquanto os aspectos visuais ganharam peso, a história perdeu-o de todo.

22 de junho de 2007

«Citizen Kane» ainda é o melhor de todos

SOBERBA. «Realizar filmes é o refúgio perfeito para os medíocres.» ORSON WELLES

É uma lista e exclui todos os filmes para lá dos americanos. Mas não deixa de despertar a curiosidade pela ambição. Dez anos depois da primeira publicação, eis que o prestigiado American Film Institute actualizou a sua lista, incluiu obras recentes como TITANIC (73º) ou TOY STORY (100º), mas voltou a dar o primeiro lugar a CITIZEN KANE - O MUNDO A SEUS PÉS, de Orson Welles. Vá lá: ainda existe algum equilíbrio... Eis os primeiro 20, que, curiosamente, apesar de em posições distintas, já constavam da lista anterior (os novos filmes inseridos incluem O SENHOR DOS ANÉIS: A IRMANDADE DO ANEL ou SEXTO SENTIDO).

1. CITIZEN KANE
2. O PADRINHO
3. CASABLANCA
4 . O TOURO ENRAIVECIDO
5. SERENATA À CHUVA
6. E TUDO O VENTO LEVOU
7. LAWRENCE DA ARÁBIA
8. A LISTA DE SCHINDLER
9. VERTIGO
10. O FEITICEIRO DE OZ
11. LUZES DA CIDADE
12. A DESAPARECIDA
13. GUERRA DAS ESTRELAS
14. PSICO
15. 2001: ODISSEIA NO ESPAÇO
16. O CREPÚSCULO DOS DEUSES
17. A PRIMEIRA NOITE
18. O GENERAL
19. HÁ LODO NO CAIS
20. DO CÉU CAIU UMA ESTRELA

Alguém falou em «sexploitation»?

LUXÚRIA. «Prefiro ir jogar às cartas se não tiver uma mulher com mamas grandes nos meus filmes.» RUSS MEYER

«O filme que está prestes a ver não é uma sequela de Valley of the Dolls. É totalmente original e não tem nenhuma relação com pessoas reais. Vivas ou mortas. Aborda, tal como Valley of the Dolls, o mundo muitas vezes diabólico do espectáculo, mas numa época e contexto diferentes.» O aviso é feito logo nos primeiros frames de O VALE DAS BONECAS II, num genérico tão estranho quanto sugestivo. Que é como quem diz, o espectador está prestes a entrar no universo bizarro e kitsch de Russ Meyer. Famoso pela abordagem despudorada da sexualidade, com protagonistas femininas de saias curtas e seios enormes, Meyer ficou para a história do cinema como um dos seus grandes iconoclastas, que viu a sua oportunidade de brilhar com filmes Série B à medida que o soft core foi ganhando espaço nas salas escuras, nos oscilantes anos 70. Agora que o projecto GRINDHOUSE, de Tarantino e Rodriguez, se aproxima dos cinemas nada como recordar a génese de um estilo cinematográfico aparentemente menor que inspirou esta dupla revivalista. Dentro da cinematografia desbragada de Russ Meyer, onde abundam histórias desconexas, com apetência pelo mau gosto, insinuações de orgias, droga, música pop-rock com o glam à espreita e sempre uma extensa colecção premeditada de clichés, o culto foi-se solidificando com o tempo, como é habitual quando se fala na fronteira entre o genialmente satírico e o puro lixo – num estatuto comparável aos esforços que John Waters tem tentado recuperar, como em Um Filme Indecente. A sua perversão cinéfila já foi apelidada de sexploitation e deu frutos em títulos como Faster Pussycat Kill! Kill! ou no título recentemente lançado em DVD (numa edição de dois discos), O VALE DAS BONECAS II. Livremente baseado na obra literária «The Valley of the Dolls», da autoria de Jacqueline Susann, este musical mascarado de comédia sexual, com reminiscências do cinema negro de Roger Corman, da literatura pulp, dos filmes blaxploitation e até de uma certa encenação descabida “à la Ed Wood”, é um caso de puro delírio visual, onde a história é um pretexto primário para fazer mover (literalmente) os protagonistas. Ao descrever as peripécias de uma girl band por Los Angeles, que depois se transforma numa conquista por uma herança, Russ Meyer não se esforça minimamente por dar espessura ao trio protagonista: prefere mostrá-lo (segundo a sua célebre montagem de mudança de plano “num abrir e fechar de olhos” para criar ilusão de movimento). Seja frente ao espelho a mudar de roupa ou nos lençóis com uma companhia inusitada, o que se pressente é o reflexo da subcultura hedonista dos anos 70, motivada pela mediatização do cinema pornográfico nas grandes salas. Talvez por isso O VALE DAS BONECAS II respire sexualidade por todos os poros e culmine numa tragédia de inspiração shakesperiana, dando novo vigor ao conceito de liberalização fílmica, com direito a inúmeras cenas de antologia (a do revólver na boca de uma das personagens é uma delas). Antigo fotógrafo da Playboy, Russ Meyer resolveu arrastar a nudez para o cinema e dar-lhe um tratamento (pseudo)artístico. Falecido em 2004, o seu percurso irregular (ensinado em muitas universidades de cinema e prestes a ser adaptado ao grande ecrã pelo realizador Rob Cohen) é bem recordado nos extras que complementam o DVD de O VALE DAS BONECAS II. Além de testes de gravação com os actores, depoimentos, galeria de imagens e trailers, esta edição é rica em documentários, como aquele em que o elenco refere as suas cenas preferidas e tenta classificar O VALE DAS BONECAS II. A resposta mais assertiva ilustra a ambiguidade da obra: um “rock-horror-exploitation-musical”.

O QUE AÍ VEM... Grindhouse

IRA. «Apercebi-me de que nunca tinha feito um filme 'exploitation' antes.» QUENTIN TARANTINO

Amigos de longa data, Quentin Tarantino e Robert Rodriguez levaram essa amizade ao extremo e uniram esforços para criar um projecto duplo cinematográfico em que pudessem aglutinar o gosto comum por obras kitsch, revivalistas de uma aura cinéfila transgressora, típica dos anos 70, com muita violência, sangue e mulheres insinuantes como protagonistas. Entre o terror e a sátira de culto, GRINDHOUSE divide-se em dois: PLANET TERROR é a homenagem de Rodriguez aos filmes de horror exagerados, ao passo que DEATH PROOF leva a que Tarantino retome a sua linha cinéfila plena de referências, com Kurt Russell à frente do elenco. O projecto oscilou entre os aplausos e os apupos no recente Festival de Cannes e até desiludiu nas bilheteiras norte-americanas, levando os produtores a apostar na separação das duas obras, comercializadas individualmente. Por cá, as estreias também vão ser distintas, mas certamente se irão encontrar mais tarde numa luxuosa edição em DVD. Há já quem salive...

19 de junho de 2007

A Cinemateca rejuvenesceu

GULA. «Cinemateca Júnior vai aproximar jovens do cinema.» JOÃO BÉNARD DA COSTA à Agência «Lusa»
Quem é fã da Cinemateca levante o braço... Sou, mas gostava de ser muito mais fiel e de ter tempo e disponibilidade para ver sessões quase diárias. Depois da polémica em torno da sucessão de Bénard da Costa, eis que o Museu do Cinema de Lisboa dá provas de vitalidade. Além da já anunciada vinda de Roger Corman a Lisboa a 25 de Junho e do regresso das «Sessões na Esplanada» sob o signo da praia (temas a que espero regressar em breve), eis que há dois meses abriu um novo espaço, inteiramente dedicado aos mais novos. A Cinemateca Júnior é uma segunda Cinemateca que não só capitaliza as instalações do Palácio Foz (apontando armas ao público escolar) como procura fidelizar desde muito cedo as crianças para os clássicos do cinema e as tecnologias inerentes à arte da imagem. Uma prova do bom gosto em torno do projecto? Eis que na Feira do Livro deste ano, foram-me oferecidas duas obras do óptimo catálogo da instituição que traziam consigo um delicado envelope com um taumatrópio. Sabem o que é? Viram A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA? Pois é, trata-se da brincadeira óptica de ter um recorte em papel com um pássaro desenhado de um lado e uma gaiola no verso que, ao girar, transmite a ilusão de que o pássaro se encontra dentro da gaiola. Uma partida ao olhar simples e eficaz, em linha com uma boa gestão de marketing. Segundo a explicação dada, o taumatrópio foi inventado, em 1826, pelo inglês Dr. John Ayrton Paris e foi o primeiro brinquedo de ilusão de óptica. Só um «cheirinho» para o que nos espera na Cinemateca Júnior, onde já passaram DUMBO ou KING KONG e que, no próximo fim-de-semana (sexta e sábado, entenda-se) apresenta, pelas 11h00, os dois capítulos de A IDADE DO GELO. Para refrescar a ideia de ser criança.

18 de junho de 2007

CINEFILIA: Junho 2007 - 3ª semana

SOBERBA. Depois de uma tentativa algo frustrada para criar uma espécie de «Ro7eiro», eis que resgato a secção, embora menos ambiciosa. Aqui ficam as cinco sugestões mais aliciantes da semana neste novo espaço, «Cinefilia»:
- PARIS JE T'AIME: O DVD das minúsculas histórias dirigidas por um punhado de realizadores prestigiados, como os Irmãos Coen, Walter Salles ou Gus Van Sant. Já está à venda.
- O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO: Para os apreciadores de relíquias cinéfilas, a Cinemateca passa esta segunda-feira (dia 18), às 22h00, o épico irrepreensível de D.W. Griffith.
- LADY CHATTERLEY, de Pascal Ferran, parece que restitui a aura romântica (e menos carnal) da obra literária de D.H. Lawrence. As críticas são boas e está num cinema perto de si.
- MÉLO é o próximo filme que a RTP2 exibe pelas 00h45, no próximo sábado, a propósito do ciclo que a estação mais pública da TV dedica ao cineasta francês Alain Resnais.
- MÁXIMO DEZ UNIDADES já se estreou nas salas nacionais há duas semanas, mas quem viu diz que Brad Siberling dirige com mestria Morgan Freeman e Paz Vega. Recomenda-se.

17 de junho de 2007

NA SALA ESCURA: Do frio chega a boa nova

GULA. «Já alguma vez tiveste um orgasmo, Alex? Para mim, é uma versão muito inferior ao que sinto quando tenho a boca cheia de neve.» LINDA (Sigourney Weaver), «BOLO DE NEVE»


Sempre que vejo uma imensa paisagem branca num filme, o meu baú mental de recordações cinematográficas vai logo buscar a imagem de uma Frances McDormand grávida, a andar desajeitada por entre flocos de neve a investigar um corpo misterioso, que a obrigou a sair da cama mais cedo. Quem viu FARGO, o delicioso conto negro passado na imensidão alva do gelo pela mão (e engenho) dos irmãos Coen, dificilmente se esquece. O mesmo se passa com a mansão perdida no gelo de SHINING ou com o dinheiro encontrado num avião abandonado em O PLANO. Quase sempre, histórias passadas na neve são sinónimo de bom prenúncio para o mistério... mas também para o drama. Lembro-me de O FUTURO RADIOSO, de Atom Egoyan, sobre um acidente que envolve o despiste de um autocarro escolar... Agora, tenho mais um belo filme a juntar ao lote e que fui ver, por acaso, com a minha mãe a pedir companhia para um serão diferente. Lá fui, bem a medo porque os nossos gostos costumam divergir, mas desta vez ela acertou em cheio. BOLO DE NEVE, nomeado para o Leão de Ouro do último Festival de Berlim, um discretíssemo melodrama passado num Canadá gelado, onde, após um trágico acidente em que circulava Alex (Alan Rickman) morre a filha de uma mulher que ele vem a descobrir sofrer de autismo. É então que entra em cena uma esplendorosa Sigourney Weaver (já com algumas rugas, é certo, porque a idade não perdoa) com um dos seus papéis mais exigentes, que nos dá a conhecer uma mulher que vive para o imediato e que só conta com as pessoas quando precisa delas. Entre os dois surge uma relação de cumplicidade e assim, desta forma simples, se dá uma lição de vida. Sem se precisar de grandes exageros moralistas. Este é só um conto emotivo que satiriza ainda a vida preconceituosa nas pequenas comunidades. É pena que tenha sido visto por tão poucos...


BOLO DE NEVE
de Marc Evans (2006)
* * *
O que mais impressiona neste filme é a sua simplicidade, capaz de fazer transcender os habituais «casos da vida» a histórias genuinamente tocantes, mesmo focando o autismo e a perda como assuntos primordiais de análise. Além disso, o quase desconhecido Marc Evans tem muita habilidade na condução da história, dado que o espectador começa a ver o filme sem saber que cena lhe seguirá. Depois, há os grandes desempenhos: Alan Rickman é colossal na sua amargura pela perda de um filho; Sigourney Weaver humaniza de forma excepcional a autista que interpreta com estranha naturalidade; e Carrie-Anne Moss volta a mostrar a sua extraordinária beleza em prol de um desempenho ousado de uma mulher com uma mente demasiado à frente da consciência da comunidade onde está inserida. Cuidadoso nas suas motivações e muito absorvente, BOLO DE NEVE traz sensações positivas e é muito bem filmado.

16 de junho de 2007

O QUE AÍ VEM... My Blueberry Nights

AVAREZA. «Sem um piano não sei que postura ter, não sei o que fazer com as mãos.» NORAH JONES

É talvez a relíquia do ano... ou pelo menos a proposta mais surpreendente: o realizador Wong Kar Wai, especialista no romantismo intimista como o provou em DISPONÍVEL PARA AMAR e 2046, dirige a cantora de jazz Norah Jones num «road movie» ora melancólico ora delicodoce, MY BLUEBERRY NIGHTS, sobre uma jovem que é traída pelo namorado e que decide conhecer as entranhas da América, cruzando-se com gente do calibre de Jude Law, David Strathairn, Rachel Weisz ou Natalie Portman. O cinema oriental aproxima-se do norte-americano, numa obra que gerou vénias e apupos no recente Festival de Cannes, como qualquer filme de culto que se preze.

Comemorar 100 «posts» com... Tati

GULA. «A cor distrai o espectador.» JACQUES TATI
Este número pode não ter nada de especial... mas é redondo! O SIN CINEMA, por entre uma série de mudanças gráficas, novas secções, ameaças de abandono, chegou ao «post» número 100. Balanço? Continuo com o entusiasmo do primeiro número, há quase um ano (parece que já foi há uma eternidade!...), data que também tentarei não desdenhar. Muita coisa mudou. Já não ganho a vida só a escrever sobre cinema (para quem não sabe, tenho estado ligado à imprensa), aliás, já quase não o faço com o ímpeto de antigamente. Agora, o meu meio profissional é mais números e cotações de bolsa - um outro universo que me está a dar um genuíno gozo descobrir. Por isso, este blogue só ganha com isso: a vontade compulsiva e inevitável de escrever sobre cinema fica quase exclusivamente remetida a este espaço. Tudo bem, ainda tem pouca leitura (uma média de 20 visitas diárias), mas também gosto de o ter assim... Um espaço «cosy» para as pessoas que realmente importam. E tu és uma delas! «Thanks, for the support!» É que é mesmo estimulante poder ter um espaço aberto a quem for «masoquista» ou apenas curioso para falar do último filme que vi no cinema, criticar a indústria ou anunciar as minhas descobertas. E ontem fiz mais uma: vi A ESCOLA DE CARTEIROS, de Jacques Tati. Uma pequenina pérola de 12 minutos do mais belo e agitado humor que só o cineasta francês (já abordado anteriormente, aqui no SIN CINEMA) conseguiu construir, graças à mescla de humor físico e engenho cinematográfico. A premissa é simples: um grupo de carteiros aprende como ser mais veloz na distribuição para poder entregar a última encomenda a um avião que aterra junto à aldeia no final da jornada. E é assim que o carteiro-protagonista (Tati, quem mais?) se lança num jogo apressado onde tudo acontece. O resultado final é tão singelo quanto a simplicidade de que são feitas as obras-primas. Mesmo, minúsculas como neste caso (o filme é um dos extras do DVD HÁ FESTA NA ALDEIA, editado pela Atalanta Filmes).

O MAIOR PECADO DE... Johnny Depp

PREGUIÇA. «Peço-lhe para não ver esta obra para tentar que Hollywood deixe de fazer filmes como este.» MATT LAWRENCE, «Filmcritic.com»

Depois de ter alertado para o facto de JOHNNY DEPP já surpreender pouco no derradeiro capítulo de OS PIRATAS DAS CARAÍBAS, decidi resgatar uma secção criada há algum tempo cujo propósito é, exactamente, expor os «telhados de vidro» de actores e realizadores que muitos julgam intocáveis. E Depp é, sem dúvida, um dos mais promissores actores da sua geração que, ao aliar-se a realizadores como Tim Burton, raramente dá um tiro ao lado na carreira, feita de obras díspares mas onde o actor (que, para os mais esquecidos, se estreou na mítica série juvenil RUA JUMP 21) se esforça por criar uma composição sólida longe dos vedetismos de estrela - a sua reinvenção da imagem do pirata na célebre trilogia da Disney prova que o actor gosta de arriscar. Mas... já foi longe de mais! Exemplo mais palpável (há outras obras fraquinhas no seu currículo como UM HOMEM CHORA ou A NONA PORTA)? Um absurdo drama intimista em que uma mulher (Charlize Theron) suspeita que o marido pode ter sido dominado por um espírito alienígena ?! Sim, A MULHER DO ASTRONAUTA, obra de 1999, tem uma premissa tão absurda, quanto um desempenho de Depp sem a mínima chama, de olhar austero mas nem um pingo de veracidade. A expressiva Charlize lá se safa com cenas sucessivas de um desempenho tétrico, mas acima do que a premissa fraquinha do filme exigia. Depois, há pior para lá dos actores: uma fotografia cinzenta, sustos formatados e uma gigantesca incompetência do realizador Rand Ravich (tão desconhecido, que perdeu aqui uma oportunidade para se impor...). Nem se percebe o que Joe Morton lá faz como secundário. Enfim... Ninguém está livre de um fiasco. Mas Depp não tem de se preocupar com ele. Até ajuda a aumentar a mística em seu torno.

CRÍTICAS DE FUGIR:
- THE NEW YORK TIMES: «A Mulher do Astronauta» é ridiculamente derivativo!
- SAN FRANCISCO EXAMINER: Paguei para este filme, você não precisa de o fazer.
- SEATTLE TIMES: Os protagonistas mereciam estar numa produção melhor.
- TORONTO STAR: No espaço, ninguém é capaz de te ouvir... a ressonar.
- USA TODAY: «Houston we have a problem: é "A Mulher do Astronauta".»

14 de junho de 2007

NA SALA ESCURA: Cinema vazio de emoção

SOBERBA. «Ele não pretendia um tributo, nem uma música ou um monumento ou ainda poemas de guerra e de valor. O seu desejo era simples: "Lembrem-se de nós", disse-me.» DILLIUS (David Wenham), «300»

O que se passa com as grandes produções de Hollywood? O fenómeno arrasta-se há alguns anos, mas tem vindo a sofrer uma mutação com a predominância das tecnologias digitais que se infiltram e desvalorizam, cada vez mais, a história e corrompem o lado genuíno das imagens. Em duas recentes experiências cinematográficas, o resultado foi o mesmo: sentir um fascínio pelas potencialidades visuais do novo cinema, mas sentir um vazio de emoção. Tanto 300 como OS PIRATAS DAS CARAÍBAS - NOS CONFINS DO MUNDO são aventuras que pretendem resgatar ímpetos de valentia antigos, mas o que passa são sons ensurdecedores, demasiadas peripécias e reviravoltas previsíveis de argumento, além de haver um distanciamento crescente das personagens em relação ao espectador. Um exemplo: Jack Sparrow começou por ser uma deliciosa inversão que Johnny Depp construiu do chavão de um pirata, mas neste terceiro filme pouco mais faz do que arrastar-se até ao fim da história. Nem mesmo a inclusão de Keith Richards espevitou o pirata, comodamente instalado nos seus tiques e expressões. Por outro lado, em 300, a personagem de Gerard Butler dá mais nas vistas pelos seus abdominais e gritos de motivação do que por um pingo de humanidade. Neste último caso, é impressionante como a descrição de uma missão humanista é completamente eclipsada pela beleza estrondosa de imagens que ficam a meio caminho entre a BD e os desenhos animados para adultos. Tanto um, como outro filme são prodígios visuais. Mas é que o espectador também costuma ter cérebro (pelo menos, alguns) e nenhuma das duas fitas consegue criar um verdadeiro fascínio ou efeito-surpresa. É bom ir ao cinema e ser estarrecido por acção em larga escala. Mas... onde paira tudo o resto? Será que Hollywood vai caminhar inexoravelmente para a beleza estética e descurar o conteúdo? Nada de radicalismos. Só chateia que sejam estes filmes que encham os cofres da indústria!

PS - E alguém ainda tem pachorra para sequelas? Só este mês estreou-se o fim da trilogia dos PIRATAS DAS CARAÍBAS, o terceiro HOMEM-ARANHA, o segundo QUARTETO FANTÁSTICO, o terceiro OCEAN´S 11 (que é como quem diz mais do mesmo, OCEAN'S 13), e vêm a caminho o terceiro SHREK (quando o quarto está já em pré-produção) e o quarto DIE HARD (com um Bruce Willis ainda para as curvas em matéria de cinema de acção)!!! Socorro! Crise de imaginação! Totalmente... Alguém disse que os «blockbusters» estão cada vez mais desinteressantes?

300
de Zack Snyder (2006)
* * *
É surpreendente o que a animação digital já consegue fazer na articulação com a imagem real. 300 convence por isso, pelo primor visual, pela estilização extrema que gerou um culto semelhante a SIN CITY, ou não fosse este mais um caso de uma habilidosa adaptação para cinema da BD para adultos de Frank Miller. Mas um filme não é só imagem. E é aí que 300 enfraquece... Personagens que são meras caricaturas, um vilão que quase não existe (desculpe, sr. Santoro, mas o seu desempenho podia ter sido feito por qualquer outro actor, o efeito é o mesmo), demasiados gritos de motivação e esvaziamento de fintas ao argumento. O novo cinema vai ao passado buscar histórias de heroísmo mas o que convoca é só mais uma lição que, por exemplo, BRAVEHEART já nos tinha dado com muito mais pertinência e... emoção.


PIRATAS DAS CARAÍBAS:
NOS CONFINS DO MUNDO

de Gore Verbinski (2007)
* *
O fim da saga chegou finalmente? Parece que existem possibilidades da história voltar. Mas para quê? Não se poderia ter ficado apenas pelo capítulo inicial? Aqui, a equipa regressa e já a personagem de Johnny Depp, a força-motriz desta trilogia, parece cansada, sem chama. O verdadeiro salva-vidas desta terceira parte é o Capitão Barbossa de Geoffrey Rush. O resto é... demasiado. Demasiados efeitos especiais. Demasiadas personagens. Demasiadas reviravoltas. Demasiado! Embora a história de Elizabeth e Will fique encerrada de uma forma particularmente original, tudo o resto é uma cansativa montanha-russa de peripécias desconexas para chegar a lado nenhum. O ímpeto aventureiro já é muito pouco... Enfim, chegou ao fim. Mas eu continuo a preferir o primeiro.

9 de junho de 2007

Mais uma oportunidade desperdiçada...

PREGUIÇA. «Gosto de comida portuguesa.» ROBERT DE NIRO
É o costume. O jornalismo nacional não sabe lidar com grandes estrelas de cinema. Já o suspeitava pelas entrevistas que Mário Augusto conduz há anos na SIC - não duvido do seu mérito, aprecio a personagem e percebo os condicionalismos de ser uma conversa sempre para televisão (para um público mais generalista), mas isso não invalida que 80 por cento das perguntas feitas nas suas divertidas conversas sejam sobre trivialidades... Agora com a vinda de Robert De Niro a Portugal, para apresentar de uma assentada o Lisbon Village Festival e uma exposição de pintura do seu pai, em exibição no Palácio das Galveias, o panorama repete-se. Mais uma vez, um punhado de jornalistas acompanhou a vinda do mítico actor (um dos maiores, há que reconhecer, apesar dos desaires recentes de uma carreira em mera auto-gestão), para lhe perguntar o quê? Gosta de Portugal? E da comida portuguesa? Conhece o cinema nacional? Como se as respostas a estas perguntas - quaisquer que elas fossem - nos ajudassem a perceber quem é o actor perfeccionista por detrás de composições únicas em O TOURO ENRAIVECIDO ou ERA UMA VEZ NA AMÉRICA. Tudo bem, o senhor estava de poucas falas... o momento era demasiado formal. Ainda assim, não entendo a superficialidade... Não é a primeira vez que assisto a isto, até eu próprio já estive no meio de uma multidão para a única pessoa que consegue falar por uns segundos, perguntar a Gerry Butler (na altura, protagonista da versão de Joel Schumacher da obra O FANTASMA DA ÓPERA) se, ao ter de cantar para o filme, o costuma fazer no duche... Que fazer? Esperar por um exclusivo que nunca há-de chegar. Bem, De Niro lá anunciou que vai começar a rodar um filme com Al Pacino em Agosto. Nem tudo é mau!

8 de junho de 2007

Um ponto de chegada para novas partidas

AVAREZA. «O gosto é resultado de mil desgostos.» FRANÇOIS TRUFFAUT
Numa fase em que me apetece regressar à infância, recordo uma pérola que descobri recentemente e que, de uma certa maneira, representa um retorno à descoberta de ser criança, embora neste caso a premissa vá mais longe: como aprender a ser civilizado? A resposta surge não na modalidade convencional, com prinícipio e fim pré-determinados, ou não fosse este um dos belos trabalhos de François Truffaut. Embora com capitais americanos, o realizador francês optou pela contenção para transpor para imagens o conto sofrido de O MENINO SELVAGEM, adaptação de um caso verídico sobre um rapaz, encontrado a viver sozinho nos bosques franceses no ano de 1700. O doutor Jean-Marc Gaspard Itard (interpretado pelo próprio Truffaut) aceita a árdua tarefa de provar que o jovem assustado, de cabelos longos e rosnar animalesco pode evoluir enquanto ser humano, habituando-se a normas sociais e a características psicológicas complexas, como a memória, para quem modelou a sua existência tendo em vista as meras leis da sobrevivência. E por que falo de O MENINO SELVAGEM? Porque este é um exemplo precioso que Truffaut nos dá sobre a pureza de ser criança e um interessante tratado sobre as motivações da sociabilização. A caminhada do rapaz, baptizado de Victor, não é descrita à pressa e com moralismos fáceis. Mais uma vez, Truffaut mostra que conhece todas as regras do melodrama, embora neste caso de contornos científicos, e cria um envolvente e puro clássico assente nos avanços e recuos entre doutor e paciente. Com direito a um final cheio de esperança, mas não demasiado redutor. E isso basta! Porque o cinema quer-se um ponto de chegada para novas partidas. E o cinema de Truffaut - pelo menos o que já conheço - cumpre esses requisitos na perfeição.

7 de junho de 2007

NA SALA ESCURA: Descobrir a inocência

GULA. «Fecha os olhos e mantém a tua mente bem aberta.» Leslie Burke

Foi uma boa surpresa aquela que descobri num singelo visionamento a convite, num sábado de manhã e com uma sala apinhada de crianças, mas do qual na altura me esqueci de partilhar as impressões. Agora tenho vontade de escrever sobre O SEGREDO DE TERABÍTIA, uma doce fábula sobre o poder da imaginação que se encontra nos antípodas das recentes investidas do género do cinema fantástico como HARRY POTTER ou AS CRÓNICAS DE NÁRNIA. A vontade talvez venha porque há poucos dias (quase uma semana) fui tio, de uma minúscula Clara que já é grandiosa na sua vulnerabilidade de quem dá os primeiros suspiros, choros, gestos e expressões num mundo que se toca pela primeira vez. A sua pureza e inocência extremas, de quem descobre os primeiros reflexos do que é a vida (primeiro corpo e impulsos e só mais tarde mente e afeições) fez-me ter vontade de ser novamente criança, descobrir tudo pela primeira vez e perceber que a ingenuidade é talvez das sensações mais confortáveis de todas. No filme, muito bem construído e mais contido do que se poderia prever numa produção para crianças, o que se conta é a amizade oscilante entre duas crianças vizinhas (excelentes Josh Hutcherson e Anna Sophia Robb) que, face ao cinzentismo do dia-a-dia, se isolam num bosque e simulam aventuras, vivem peripécias «guerreiras» em que a imaginação é a força motriz e se deixam absorver pelas leis que só o pensamento em convulsão, como o é o da infância, consegue criar e pôr em prática. Apesar do final não ser totalmente feliz, faz sentido e não corrompe a história, uma das mais bem contadas do cinema comercial dos últimos anos. No final, também eu quis voltar para o meu mundo de fantasia paralelo dos primeiros anos. Não o fiz. Mas voltei a lembrar-me dele quando há poucos dias a Clara teve um dos seus primeiros pestanejares nos meus braços. Já quer abrir os olhos para a vida. Aquela enorme que tem pela frente. Bem-vinda!

O SEGREDO DE TERABÍTIA

de Gabor Csupo (2007)

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Este singelo retrato sobre a amizade de contornos oníricos entre dois jovens inadaptados na escola, e que resolvem refugiar-se num mundo imaginário de criaturas fantásticas e missões impossíveis, é tão simples que parece estranho nunca ter sido concebido antes... E tudo bate certo: o elenco é tocante, o humor genuíno, as convulsões da história fazem sentido e os sentimentos impõem-se sem lamechices. O desconhecido realizador Gabor Csupo acertou em cheio nesta sua primeira longa-metragem infantil, que é mais adulta do que muito filme para maiores de 18. Recomenda-se: a ver, com o sorriso da ingenuidade no canto dos lábios.

4 de junho de 2007

De mansinho se ganha uma Palma d'Ouro

AVAREZA. «Espero que este prémio represente boas notícias para pequenos cineastas de países pequenos, porque não parece ser necessário um grande orçamento e um monte de estrelas», Cristian Mungiu, no discurso de entrega da Palma d'Ouro

A diferença entre os Óscares e a Palma d'Ouro de Cannes é, além do sopro europeu que envolve todo o festival, a capacidade deste último ainda surpreender. E a surpresa voltou a ser notícia na última edição, graças ao prémio principal ser entregue ao drama romeno 4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS, do (relativamente) jovem Cristian Mungiu, que conquista o galardão cobiçado por muitos cineastas veteranos ao fim da sua segunda longa-metragem. Um sinal de que Cannes ainda olha para as singularidades de cinematografias mais pequenas (alguém se lembra de um bom filme romeno que tenha visto ultimamente?) e desdenha obras grandiosas, muitas vezes feitas a pensar cirurgicamente nas entregas de prémios. Diz, quem viu, que 4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS é um tocante olhar da Roménia nos últimos anos de regime comunista, com o melodrama de dois jovens a braços com uma gravidez indesejada. Quem não viu, vai poder fazê-lo mais tarde, porque já está assegurada a exibição desta obra lá mais para o final do ano. Boas notícias, num cartaz cinematográfico que se iniciou trôpego e à mercê das inevitáveis sequelas da «rainha» Hollywood. Esperam-se também, até ao fim do ano, as exibições das últimas obras de Michael Moore, Quentin Tarantino ou Wong Kar-Wai. Quem espera desespera.

1 de junho de 2007

NA SALA ESCURA: A obsessão de não saber

IRA. «Eu... Preciso de saber quem ele é. Preciso... de me manter ali, olhar para ele nos olhos e preciso de saber que é ele!» ROBERT GRAYSMITH (Jake Gyllenhaal, ZODIAC)

Já se sabia que o cinema de David Fincher era essencialmente dominado por uma obsessão: fosse de um serial killer perante o seu sentido de missão, como em SETE PECADOS MORTAIS, de um grupo de resistentes para matar um ser alienígena como em ALIEN3 - A DESFORRA, ou de um homem em torno do seu modelo de identidade, como em CLUBE DE COMBATE. Agora, David Fincher regressa ao género que o tornou famoso, o thriller sufocante em torno de um assassino em série real, que se confunde com grande parte da história dos Estados Unidos nos últimos 30 anos. ZODIAC é um thriller excepcional e o seu principal mérito reside no facto de não ser a identidade do criminoso o mais importante, mas antes a forma como a necessidade de querer saber a identidade do mesmo corrói a vida e a mente de quem com ela se confronta. Ou seja, este é antes um ensaio sobre o thriller, os seus mecanismos e o medo de desconhecer verdadeiramente a identidade de quem mata sem grande razão uma série de indivíduos não relacionados entre si... E Fincher é soberbo no modo de desconstruir as regras do policial, na construção dos perfis humanistas das pessoas que seguem o famoso criminoso e na direcção do seu elenco. Se Jake Gyllenhaal confirma o seu dom para personagems complexas, Robert Downey Jr. é um excelente secundário e Mark Ruffalo volta a dar uma lição de discrição. Depois há aqueles planos que Fincher demora dezenas de takes a conseguir obter. O cinema de Fincher cheira a perfeccionismo compulsivo e ele é já um dos nomes do cinema mais recente norte-americano a merecer créditos por re-inventar os vários géneros que já experimentou. E nunca com a solidez e complexidade dramática de ZODIAC.

ZODIAC
de David Fincher (2007)
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Um assassino comunica com cifras e faz uma nação tremer de medo. Ao certo ninguém fica a saber quantas baixas o criminoso fez e quem investiga o caso começa a perder a razão. Fincher filma a dúvida e o desespero com um perfeccionismo desarmante e constrói um dos mais interessantes policiais dos últimos anos onde o que mais interessa não é saber quem matou mas analisar as repercussões psicológicas que essa dúvida gera num grupo de polícias e jornalistas. O resultado final é excelente. Destaque para a sequência passada na casa de um idoso que supostamente desenha cartazes de cinema. Quem cria um efeito de sugestão como esse só pode ser um grande realizador. Dos maiores.