27 de maio de 2007

John Wayne: 100 anos de Oeste

INVEJA. «Faço de John Wayne em todos os filmes, para lá da personagem, e não me tenho saído nada mal, não lhe parece?» JOHN WAYNE

Já passaram cem anos. Dez décadas de vida que John Wayne celebraria se ainda fosse vivo... O cinema é isto: memória, nostalgia e cumplicidade. Nunca foi um excelente actor - como, aliás, brinca na citação anterior - mas também não precisava: a alta estatura, o olhar semicerrado, a voz grave, a pose viril e o sentido de missão marcaram mais de 150 filmes. Actor principal de 142 longas-metragens, Wayne é uma figura que se confunde com um género e a culpa deve-se aos mais de 12 filmes que protagonizou às ordens de John Ford. Se este é, por excelência, considerado o cineasta que melhor explorou as emoções inerentes às raízes da América, Wayne é o rosto que melhor soube incorporar os dramas e os valores conservadores de quem ajudou a erigir um país. Sobre o western, o actor, que recebeu finalmente o Óscar em VELHA RAPOSA (1961), chegou a considerar que este género «é o mais próximo da arte em relação a qualquer outro no negócio do cinema». E percebe-se porquê: quando bem dirigido, possui belas imagens, um sentido épico, a emoção necessária e muitos valores a transmitir por personagens quase sempre errantes. E John Wayne foi-o por variadíssimas vezes: A DESAPARECIDA, O HOMEM QUE MATOU LIBERTY VALANCE, OS TRÊS PADRINHOS, FORTE APACHE, OS DOMINADORES ou no seu derradeiro papel em O ATIRADOR. Um ponto final perfeito numa carreira terminada em 1976, três anos antes do cancro o levar para outras paragens. John Wayne é uma lenda, uma marca irrepreensível do bom entretenimento. É por isso de estranhar que este centenário esteja a passar de forma tão discreta. Recomenda-se, por isso, o serão desta noite do Lusomundo Gallery (para quem subscreveu os canais premium): O ASSALTO AO CARRO BLINDADO, que passa às 21.00, ou melhor, a aventura dirigida em 1967 por Edwin L. Marin sobre dois homens que planeiam o roubo de um vagão cheio de dinheiro. O problema é que um deles foi contratado para matar o amigo... Prometedor, no mínimo.

26 de maio de 2007

Revisão da matéria dada

SOBERBA. «É mais confortável se me encarares como um demente.» JOHN DOE, Se7en - Sete Pecados Mortais
Regresso como comecei. Ou melhor, não se podem apagar dez meses de SIN CINEMA, a minha estreia pelo universo dos blogues e, claro, com um pé no cinema e outro em tudo aquilo que, de uma forma ou de outra, me inquieta. Mas regresso ao filme-charneira deste modesto projecto editorial, SE7EN - SETE PECADOS MORTAIS com a única função de pensar as imagens. De forma espontânea e sem muitas regras. Com excepção de uma: associar uma imagem, um filme, um pensamento a um pecado e divertir-me com isso. Agora experimento o negro como fundo, mas a motivação mantém-se. Sempre... sem pedir desculpas por nova ruptura. Afinal, está tudo na mesma, só mudou o cenário. E com uma promessa: actualizações mais regulares e aproximadas dos filmes que estão em sala, no clube de vídeo ou passam na televisão. O cinema é isto: muda connosco todos os dias. Os pecados, esses, são os mesmos, como Brad Pitt e Morgan Freeman bem sentiram na pele nesta realização soberba de David Fincher - que regressou agora com ZODIAC. Promessa: falarei sobre este filme dentro de dias. Até lá... um regresso às origens. É que sabe sempre bem ter outra vez todos os pecados no mesmo saco!

24 de maio de 2007

DVD: O sexo saiu do armário

LUXÚRIA. «Mentimos sobre a sexualidade humana porque mentimos sobre tudo. Se toda a gente mentir, então não existe realidade.» Entre os muitos interlocutores que participam neste documentário, Gore Vidal consegue sintetizar na perfeição a mistura de preconceito e «medo do desconhecido» que a estreia de GARGANTA FUNDA provocou nas salas norte-americanas. As filas chegavam a dar três voltas ao quarteirão dos cinemas (primeiro em Nova Iorque, depois em outros estados norte-americanos e, por fim, no mundo inteiro…) e (quase) toda a gente queria ir ver o filme que introduziu o conceito porn chic. Jack Nicholson acabou por deixar o preconceito de lado e pagou bilhete para ir vê-lo. Warren Beatty e Shirley MacLaine também. Na semana seguinte à ida de Jacqueline Kennedy ao cinema para ver GARGANTA FUNDA, as vendas do filme pornográfico duplicaram. E, ao fim de pouco mais de 30 anos, este clássico dirigido com o amadorismo típico das fitas para adultos tornou-se o filme mais rentável de todos os tempos: custou 25 mil dólares e seis dias de rodagem, rendendo 600 milhões. Mas mais do que uma obra pornográfica que partia de uma curiosa premissa – a de uma mulher que, insatisfeita por não atingir o orgasmo, descobre que possui o clítoris na garganta –, GARGANTA FUNDA inscreveu um novo género ficcional (outrora clandestino) nas salas de cinema, dividiu opiniões entre os que defendiam a liberdade de o poder ver e os adeptos da censura, gerou ódios, processos judiciais, réplicas mais duvidosas e, acima de tudo, muito dinheiro. Como case study, o filme protagonizado pela estrela Linda Lovelace foi alvo de um pertinente documentário que decidiu abordar sem rodeios o fenómeno, desde a sua origem (em 1972) até às repercussões que teve no mercado de entretenimento para adultos nos dias de hoje. E fala dos medos que Hollywood sentiu com o boom do sexo no grande ecrã e na possibilidade desta tendência se fundir com as grandes produções de cinema, deitando por terra o património dramático da “fábrica dos sonhos” – receios que nunca se vieram a concretizar também porque o surgimento do videogravador privatizou o consumo da pornografia. A dupla de realizadores Fenton Bailey e Randy Barbato consegue, com DENTRO DA GARGANTA FUNDA, uma análise simbólica e sociológica sobre o papel da sexualidade no meio audiovisual, questionando até que ponto termina a arte e começa a infracção. Pelo meio, traça-se o percurso oscilante de Lovelace (estrela em ascensão que, pela falta de talento, regressaria à ribalta anos depois admitindo “ter sido violada” durante a rodagem da fita dirigida por Gerry Damiano), recorda-se o processo de acusação do “actor” Harry Reems ou o uso do filme para fins políticos. Tudo intercalado com depoimentos de gente tão díspar como o empresário da marca Playboy Hugh Hefner, o escritor Gore Vidal ou o realizador Wes Craven (que admite ter iniciado a sua carreira neste meio).
DENTRO DA GARGANTA FUNDA * * * *
Além do excelente documentário, a edição em DVD de DENTRO DA GARGANTA FUNDA possui um curioso leque de pequenos apontamentos informativos complementares. Com estes extras, descobre-se que existe ainda hoje um clube de admiradores do “actor” Harry Reems, traçam-se pistas para o erotismo e a sexualidade neste novo século, esclarece-se o papel das manifestações feministas contra a obra e testemunha-se a actriz pornográfica Marilyn Chambers a mostrar até que ponto os actos de Linda Lovelace no filme são convincentes. No final, em pouco mais de duas horas, discute-se a pornografia sem se precisar de ir muito longe nas imagens e percebe-se que, pelo seu papel na definição ideológica e moral dos Estados Unidos, GARGANTA FUNDA é uma das obras mais influentes da história do cinema: levou as pessoas a discutirem o sexo.

20 de maio de 2007

A saga dos DVD grátis continua...

GULA. O preço do DVD continua a deflacionar todas as semanas... Uma prova? Depois da estratégia do semanário «Expresso» para travar o nascimento do «Sol» com uma série de DVD sem custos adicionais, que passavam por LOST IN TRANSLATION, ou da «Visão» para salvaguardar o seu refresh gráfico, eis que há cerca de três semanas estive em Barcelona a visitar uma amiga e a espairecer dos dias cinzentos de uma Lisboa que continua com Primavera envergonhada e eis que numa banca encontro uma revista de cinema espanhola, a CINEMANIA, que no seu número de Maio, além de apresentar o novo capítulo das aventuras de Jack Sparrow, entregava, sem custos adicionais, o primeiro DVD de uma série nova chamada apropriadamente de «Clássicos Ocultos». Lá dentro, não um mas dois filmes prometedores: DEMENTIA 13, a obra de estreia de Francis Ford Coppola, e O HOMEM QUE SABIA DEMASIADO, de Alfred Hitchcock (não, não é a versão com o James Stewart mas antes o filme britânico da década de 30...). Assim, sem mais nem menos... Com extras e tudo. Não resisti e já encomendei até à amiga Kat a missão de me comprar os próximos números da revista, dado que a colecção vai incluir pérolas como A NOITE DOS MORTOS VIVOS. Nunca foi tão fácil explorar o potencial do DVD e a portuguesa «Premiere» deveria aprender que não é assim tão caro aliciar os seus leitores com experiências do género. A «nossa» revista não é má, salvo os textos menores das estreias do mês e o desarranjo gráfico que nunca soube resolver... mas, pronto, que fazer? Espanha está à frente até nas colecções de DVD. Basta parar 30 segundos num quiosque para ver que há colecções a preços apetecíveis com critérios como cá nunca vi. Desde films noir, a western, a cineastas como Woody Allen ou John Carpenter, rapidamente se pode rechear a videoteca por cerca de 6,50 euros por filme... Entretanto, o «Correio da Manhã», talvez para travar as investidas recentes do «DN» no seu campeonato, também já reagiu com uma colecção de filmes sem preço adicional às sextas, sábados e domingos. Títulos como À PROCURA DA TERRA DO NUNCA ou EMA podem ser adquiridos por apenas 1,20 euros. Ah! e trazem um jornal com eles. Sinal dos tempos modernos em que os brindes se podem sobrepor facilmente ao produto principal...

17 de maio de 2007

NA SALA ESCURA: Tati e a sociedade de consumo

GULA. «A vida é bastante confusa se perdermos tempo a olhar para ela.» O cineasta Jacques Tati dificilmente poderia sintetizar melhor a sua forma de fazer cinema. A carreira, aliás, foi curta cingindo-se a quatro longas-metragens que não por acaso são obras-primas, por operarem uma proposta de cinema de humor físico numa época em que o som já se havia instalado no grande ecrã. E como Tati conseguiu tirar partido dele... Para o perceber basta ver O MEU TIO, na única sala de cinema onde está a ser exibido - o Nimas - para entender a magia de usar o som como metáfora de um progresso desumanizante, mas que nem por isso apela à curiosidade e ao percalço. Aqui, há uma arquitectura do olhar para um futuro retro que afecta desde a casa ao jardim, passando pelo local de trabalho ao automóvel. O Sr. Hulot (o alter-ego do realizador, que é interpretado pelo próprio e que traz reminiscências de Chaplin ou Buster Keaton) sente-o na pele quando vai visitar a casa da irmã e embirra com a porta da garagem com abertura automática... Na verdade, as únicas personagens com quem o protagonista se identifica neste labirinto confuso do progresso consumista (e que o realizador explorou a uma escala mais cosmopolita em PLAYTIME) são os cães que deambulam na rua ou as crianças que brincam à moda antiga. No meio de tanto cinema ensurdecedor, esta reposição é um valioso contributo para lembrar que o cinema é emoção, humor genuíno e uma profunda ingenuidade.

O MEU TIO * * * * *
Vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1959, este filme é um prodigioso olhar para as repercussões do modernismo e a sensação de desconforto de que tanta tecnologia pode gerar info-exclusão. A mensagem é muito actual e Jacques Tati constrói mais uma enternecedora caricatura de um homem que não quer descurar a sua ingenuidade e se sente perdido na casa da irmã ou na fábrica onde trabalha o cunhado. Com muitos momentos de antologia, este é mais um clássico do cinema francês que não descura o apelo da modernidade, mesmo 49 anos depois...

11 de maio de 2007

BOCAS: Martin Scorsese ganha campeonato de f...!

IRA. «Don't fuck with me, Al! Don't make a fuck out of me! You want to embarass me and make a fool out of me? You didn't gamble? Tell me you gambled the fuckin' money, I'll give you the fuckin' money to put the fuckin' heat on! Did you gamble?»Sou fã de «rankings», de números, estatísticas o quanto mais estapafúrdias melhor e, de vez em quando, lá me consigo surpreender com mais uma lista de dados que não me tornam minimamente mais culto mas dos quais não consigo escapar. É aquele «fait divers» inofensivo, o rebuçado noticioso que, de tão supérfluo, chama à atenção. Pois bem: descobri a lista dos 10 filmes mais asneirentos do cinema norte-americano. Ou melhor, o «Top 10» da «f... word» e não espanta o primeiro lugar até pela amostra da expressiva personagem de Robert De Niro em CASINO. Já se sabia que Martin Scorsese tinha o dom de tornar interessante o quotidiano da máfia. Daí que além do primeiro lugar com o filme referido, o recém-oscarizado surja também na sétima posição com TUDO BONS RAPAZES. Aqui fica a lista, mas deixo uma nota: os filmes SOUTH PARK: BIGGER, LONGER AND UNCUT e TEAM AMERICA não chegaram a entrar neste «ranking» porque só contabiliza os palavrões começados por f... Caso contrário, estariam em posição destacada!!! Só a longa-metragem de SOUTH PARK usa 399 vezes a palavra swearing. Ainda dizem que os filmes portugueses abusam dos palavrões...
1 - CASINO ......................................... 422 vezes
2 - NASCIDO A 4 DE JULHO .......... 289 vezes
3 - O GRANDE LEBOWSKI ............. 281 vezes
4 -PULP FICTION ............................ 271 vezes
5 - DEAD PRESIDENTS (inédito) ... 247 vezes
6 - BOONDOCK SAINTS ................. 246 vezes
7 - TUDO BONS RAPAZES ............. 245 vezes
8 - JAY AND SILENT BOB II ......... 228 vezes
9 - SCARFACE ................................... 218 vezes
10 - AMÉRICA PROIBIDA .............. 205 vezes

8 de maio de 2007

DVD: Diário de um «serial killer» laboral

IRA. «Quando a expressão "destruir a concorrência" é levada muito a sério...» Nos grandes centros urbanos, onde a competitividade é palavra de ordem e a tecnologia de hoje já não é a mesma de amanhã, o mercado do trabalho não está fácil. Que o diga Bruno Davert (José Garcia), quadro superior de uma empresa de papel, que, após anos de dedicação, é vítima de um despedimento na sequência de medidas de deslocalização e redução de pessoal da sua empresa. Depois de tanto tempo de vida activa, que fazer quando o tapete é puxado abruptamente de debaixo dos pés, e toda a experiência e prestígio acumulados ao longo de anos a fio são colocados no caixote do lixo? É assim que o realizador Costa-Gravas (ainda hoje associado aos clássicos de culto Z - A ORGIA DO PODER ou O DESAPARECIDO, mas que tem dado pouco nas vistas nos últimos anos) em poucos minutos nos explica por que razão se observa Bruno, um homem culto, de meia-idade, com família estável e roupa aprumada, de pistola em punho disposto a disparar sem hesitar sobre homens com as mesmas habilitações e igualmente à procura de uma nova oportunidade. E é assim que o protagonista pretende voltar ao activo: aniquilando a concorrência, no sentido literal da expressão, para depois apagar as pistas que o possam incriminar e voltar à vidinha pacata de casa-trabalho. Mas haverá crimes perfeitos? Para concluir este plano diabólico, que se impõe ao espectador por subverter quaisquer regras de convivência numa sociedade cosmopolita, Bruno “só tem” de assassinar (!) cinco pessoas. Um projecto quase impensável de concluir, com direito a muitos percalços dignos de um thriller de Hitchcock, mas sem o perfeccionismo cénico do mestre do suspense.Com uma temática semelhante a outro êxito recente do cinema francês, O EMPREGO DO TEMPO de Laurent Cantet, esta obra polémica foi o filme de abertura da última Festa do Cinema Francês. Presente no evento, Costa-Gravas admitiu que GOLPE A GOLPE é uma obra extrema que procura lançar algumas luzes sobre os paradoxos dos dias de hoje. Onde se apunhala o outro pelas costas (e nem sempre em sentido meramente simbólico…).

GOLPE A GOLPE * * * *
O filme está construído com uma dose de cinismo típica das histórias de Patricia Highsmith – em várias sequências da história, Bruno é uma espécie de Mr. Ripley mas, apesar de tudo, mais lacónico e visceral. E a habilidade dramática de Costa-Gravas é tão grande que leva o espectador a esquecer por momentos o binómio Bem-Mal e a torcer para que Bruno, numa soberba composição de José Garcia, nunca venha a ser apanhado pelos seus crimes – feito que Woody Allen conseguiu há bem pouco tempo com o seu MATCH POINT. A perversão dos argumentos utilizados sobre o rumo das democracias ocidentais e das grandes empresas – que parecem privilegiar todos os caminhos para chegar ao lucro imediato – torna GOLPE A GOLPE num filme incómodo, mas é impossível não se deixar envolver pelo jogo emocional de um herói-vilão à beira de um ataque de nervos. A edição nacional em DVD possui apenas o «trailer» como extra.

5 de maio de 2007

O MAIOR PECADO DE... Jeremy Irons

PREGUIÇA. «Esta interpretação vai perseguir Irons para o resto da sua carreira ou gerar o seu fim abrupto.» LOUIS HOBSON, JAMES! MOVIES
A propósito da sua participação no filme INLAND EMPIRE, de David Lynch, como o realizador que dirige a personagem de Laura Dern para uma produção «amaldiçoada», senti saudades deste actor... Ou melhor de o ver num filme coeso, maduro, como aliás o actor já nos proporcionou em diversos momentos da sua carreira. Há uns tempos, veio a público dizer que estava cansado de ouvir a sua mãe queixar-se de não se sentir confortável de ir ao cinema com as amigas para ver a última obra do filho - talvez estivesse a referir-se a LOLITA, M. BUTTERFLY, BELEZA ROUBADA ou PAIXÕES PROIBIDAS, desempenhos maiores, mas marcados por uma dose de paixão carnal e nudez dramática. Isso não deveria implicar a sua participação numa das mais confrangedoras produções de cinema fantástico em que o actor experimenta um medíocre desempenho de vilão. MASMORRAS E DRAGÕES, estreado no ano 2000, é baseado num célebre videojogo, mas a história adaptada ao grande ecrã é de tal maneira pobre e caricatural que lembra um mau episódio da série juvenil POWER RANGERS. Aqui, é Profion, autoridade de uma nação marcada pela presença de dragões... De meter medo! Neste Natal, voltou ao género em ERAGON, mas nunca com tão fracos resultados.

Críticas de fugir...
-VARIETY: Um episódio de «Xena» ou de «Hércules» demonstra mais interesse visual do que isto.
- RADIOFREE ENTERTAINMENT: Perde muito tempo a imitar o jogo de computador em vez de contar uma história.
-FILMCRITIC.COM: Os fãs do jogo original vão ficar desapontados por verem o mundo, que tão bem conhecem, travestido.

4 de maio de 2007

NA SALA ESCURA: Às apalpadelas no império de Lynch

AVAREZA. «Alguns homens mudam. Ou melhor, não mudam - revelam-se... Revelam-se com o tempo, sabias?» Quem já conhece David Lynch sabe que esta frase de Nikki (personagem difusa e carnal de Laura Dern, com quem o «mestre» já havia trabalhado em ocasiões anteriores... VELUDO AZUL, lembram-se?) não é surpreendente mas que se cola como uma luva às ambições cinematográficas do mais abstracto realizador norte-americano da actualidade. Cada novo filme (excepção feita a HOMEM ELEFANTE e UMA HISTÓRIA SIMPLES, que parecem pequenos ovnis numa carreira iminentemente transgressora) é mais um desafio às expectativas do espectador, ansioso pelo próximo «puzzle» psicológico que Lynch convoca sem pedir licença. Na verdade, o realizador do recente INLAND EMPIRE já é um ícone marginal norte-americano (à semelhança de Woody Allen, por exemplo, no reino da comédia psicanalítica) mas também um cineasta que virou moda para pretensos núcleos alternativos. Não que Lynch não tenha mérito - filma com uma liberdade artística única e profunda, ninguém duvida - mas começa a mexer-me com os nervos o deslumbramento superficial de muita gente que se senta três horas à frente de um ecrã para não conseguir ligar uma cena à outra e sai da sala como se tivesse assistido à revelação pura da imagem. Por esta tendência se estar a tornar recorrente e intencionalmente estilizada pelo realizador, sinto que INLAND EMPIRE é um ponto menos favorável numa carreira inquestionavelmente aliciante. Um Lynch é sempre um Lynch, mas desta vez parece que a contenção de meios o levou por caminhos demasiado paradoxais e herméticos. Que só ele deve conseguir verdadeiramente desfrutar...

INLAND EMPIRE * *
De câmara digital debaixo do braço ninguém o segura... David Lynch aumenta o culto com uma bizarra decomposição dramática em torno de uma actriz que aceita um papel «amaldiçoado»... Aos poucos, as exigência trágicas da sua personagem vão consumindo o bom senso e a integridade de Nikki Grace (excelente Laura Dern, mas... excelente para quê?), dilacerada ainda por uma suspeita de traição. Com os mundos paralelos do costume (a última obsessão são coelhos a imitarem «sitcoms»), as distorções gráficas, as personagens que aparecem sabe-se lá de onde, as vozes que ecoam fora do enquadramento. Este é o Lynch a querer parecer Lynch. Ou melhor, um exercício de abstracção forçado, esquemático, excessivo e doloroso. Tem boas ideias, planos interessantes, uma excelente protagonista e uma aura negra que cativa. Mas não tem sentido. Sinto muito...


PS - Afinal sempre se arranja um tempinho para vir ao SIN CINEMA expiar os pecados cinéfilos. O trabalho é muito, mas dou conta dele. O cinema, em menor dose agora, continua a fazer parte do ócio. E este espaço também. Quem disse que o SIN CINEMA acabou? Na verdade, acabou de (re)começar... Bons filmes. Bons pecados.