24 de maio de 2007

DVD: O sexo saiu do armário

LUXÚRIA. «Mentimos sobre a sexualidade humana porque mentimos sobre tudo. Se toda a gente mentir, então não existe realidade.» Entre os muitos interlocutores que participam neste documentário, Gore Vidal consegue sintetizar na perfeição a mistura de preconceito e «medo do desconhecido» que a estreia de GARGANTA FUNDA provocou nas salas norte-americanas. As filas chegavam a dar três voltas ao quarteirão dos cinemas (primeiro em Nova Iorque, depois em outros estados norte-americanos e, por fim, no mundo inteiro…) e (quase) toda a gente queria ir ver o filme que introduziu o conceito porn chic. Jack Nicholson acabou por deixar o preconceito de lado e pagou bilhete para ir vê-lo. Warren Beatty e Shirley MacLaine também. Na semana seguinte à ida de Jacqueline Kennedy ao cinema para ver GARGANTA FUNDA, as vendas do filme pornográfico duplicaram. E, ao fim de pouco mais de 30 anos, este clássico dirigido com o amadorismo típico das fitas para adultos tornou-se o filme mais rentável de todos os tempos: custou 25 mil dólares e seis dias de rodagem, rendendo 600 milhões. Mas mais do que uma obra pornográfica que partia de uma curiosa premissa – a de uma mulher que, insatisfeita por não atingir o orgasmo, descobre que possui o clítoris na garganta –, GARGANTA FUNDA inscreveu um novo género ficcional (outrora clandestino) nas salas de cinema, dividiu opiniões entre os que defendiam a liberdade de o poder ver e os adeptos da censura, gerou ódios, processos judiciais, réplicas mais duvidosas e, acima de tudo, muito dinheiro. Como case study, o filme protagonizado pela estrela Linda Lovelace foi alvo de um pertinente documentário que decidiu abordar sem rodeios o fenómeno, desde a sua origem (em 1972) até às repercussões que teve no mercado de entretenimento para adultos nos dias de hoje. E fala dos medos que Hollywood sentiu com o boom do sexo no grande ecrã e na possibilidade desta tendência se fundir com as grandes produções de cinema, deitando por terra o património dramático da “fábrica dos sonhos” – receios que nunca se vieram a concretizar também porque o surgimento do videogravador privatizou o consumo da pornografia. A dupla de realizadores Fenton Bailey e Randy Barbato consegue, com DENTRO DA GARGANTA FUNDA, uma análise simbólica e sociológica sobre o papel da sexualidade no meio audiovisual, questionando até que ponto termina a arte e começa a infracção. Pelo meio, traça-se o percurso oscilante de Lovelace (estrela em ascensão que, pela falta de talento, regressaria à ribalta anos depois admitindo “ter sido violada” durante a rodagem da fita dirigida por Gerry Damiano), recorda-se o processo de acusação do “actor” Harry Reems ou o uso do filme para fins políticos. Tudo intercalado com depoimentos de gente tão díspar como o empresário da marca Playboy Hugh Hefner, o escritor Gore Vidal ou o realizador Wes Craven (que admite ter iniciado a sua carreira neste meio).
DENTRO DA GARGANTA FUNDA * * * *
Além do excelente documentário, a edição em DVD de DENTRO DA GARGANTA FUNDA possui um curioso leque de pequenos apontamentos informativos complementares. Com estes extras, descobre-se que existe ainda hoje um clube de admiradores do “actor” Harry Reems, traçam-se pistas para o erotismo e a sexualidade neste novo século, esclarece-se o papel das manifestações feministas contra a obra e testemunha-se a actriz pornográfica Marilyn Chambers a mostrar até que ponto os actos de Linda Lovelace no filme são convincentes. No final, em pouco mais de duas horas, discute-se a pornografia sem se precisar de ir muito longe nas imagens e percebe-se que, pelo seu papel na definição ideológica e moral dos Estados Unidos, GARGANTA FUNDA é uma das obras mais influentes da história do cinema: levou as pessoas a discutirem o sexo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Realmente vc acredita nesse papo de " A Linda Lovelace só foi aos tribunais porque não tinha talento" ? Pela madrugada!!!
Sabia que essa tal de Marylin Chambers foi a cidadã que casou com o Cafetão da Linda?