Quem gosta de viajar com a mochila às costas, quase à deriva, e para bem longe de tudo e de todos, embrenhando-se no espaço novo, à descoberta, deve ter sentido com mais força aquilo por que viveu Christopher McCandless, cedendo ao poder da vida em comunhão com a Natureza.
É disso que trata o livro homónimo de O LADO SELVAGEM («Into the Wild» no original), um retrato biográfico desesperado que Sean Penn bem soube recuperar, criando um intenso melodrama sobre alguém que quer fugir, até de si próprio.
Ninguém duvida que a tentativa de escape, evasão extrema,personificada por Christopher McCandless se deve a uma existência corrompida desde cedo, por divergências familiares e as aparências que nos podem forçar a sermos alguém que não queremos.
O que choca mais neste relato desesperado, e mais imponente por ser verídico, é mesmo o facto de ter sido protagonizado por alguém lúcido, inteligente, alguém que no despertar para a idade adulta sucumbe à imensidão que representa o sentido de responsabilidade que o contexto social nos impele a seguir.
Quem decide encontrar um atalho, e se rege por causas válidas mas desadequadas da realidade, tem de lutar contra a corrente, evitar olhar para o lado e abraçar o lado natural da vida. Que não é aprazível, como se pensa, mas austero, lacónico e brutal.
Talvez Christopher (que no filme é muito bem interpretado por Emile Hirsh) quisesse reduzir a sua condição de «bicho social» à sua base mais animalesca, mas cai na contradição de negligenciar o seu sentido de humanidade, a sua capacidade de pensar pela sua cabeça, e por consequência, pela dos outros. Há quem defenda que existimos por e pelos outros, pela capacidade de entrega, de sentir, de lembrar.
O (anti)herói desta história de libertação vive o paradoxo de, à medida que se afasta das amarras sociais, poder sentir-se mais puro, mas igualmente mais sozinho e vazio. Como encontrar o equilíbrio? Viver um dia de cada vez, pode ser uma resposta.
O que é certo é que este brilhante filme de Sean Penn consegue levantar muitas questões à custa de imagens poderosas, um sentido de narrativa apurada, que consegue não desvirtuar o que define a missão de um homem à procura do seu lugar no mundo. Mesmo que ele seja no espaço gelado e inóspito do Alasca...
É disso que trata o livro homónimo de O LADO SELVAGEM («Into the Wild» no original), um retrato biográfico desesperado que Sean Penn bem soube recuperar, criando um intenso melodrama sobre alguém que quer fugir, até de si próprio.
Ninguém duvida que a tentativa de escape, evasão extrema,personificada por Christopher McCandless se deve a uma existência corrompida desde cedo, por divergências familiares e as aparências que nos podem forçar a sermos alguém que não queremos.
O que choca mais neste relato desesperado, e mais imponente por ser verídico, é mesmo o facto de ter sido protagonizado por alguém lúcido, inteligente, alguém que no despertar para a idade adulta sucumbe à imensidão que representa o sentido de responsabilidade que o contexto social nos impele a seguir.
Quem decide encontrar um atalho, e se rege por causas válidas mas desadequadas da realidade, tem de lutar contra a corrente, evitar olhar para o lado e abraçar o lado natural da vida. Que não é aprazível, como se pensa, mas austero, lacónico e brutal.
Talvez Christopher (que no filme é muito bem interpretado por Emile Hirsh) quisesse reduzir a sua condição de «bicho social» à sua base mais animalesca, mas cai na contradição de negligenciar o seu sentido de humanidade, a sua capacidade de pensar pela sua cabeça, e por consequência, pela dos outros. Há quem defenda que existimos por e pelos outros, pela capacidade de entrega, de sentir, de lembrar.
O (anti)herói desta história de libertação vive o paradoxo de, à medida que se afasta das amarras sociais, poder sentir-se mais puro, mas igualmente mais sozinho e vazio. Como encontrar o equilíbrio? Viver um dia de cada vez, pode ser uma resposta.
O que é certo é que este brilhante filme de Sean Penn consegue levantar muitas questões à custa de imagens poderosas, um sentido de narrativa apurada, que consegue não desvirtuar o que define a missão de um homem à procura do seu lugar no mundo. Mesmo que ele seja no espaço gelado e inóspito do Alasca...
De Sean Penn (2007)
* * * * *
Já se sabia que o talento de Sean Penn não se circunscrevia à interpretação (alguém duvida de que ele é um dos grandes nomes do actual cinema norte-americano?), até porque «Acerto Final» ou «A Promessa» tinham deixado perceber que o cinema de Penn é um cinema de causas e estilizado pela convicção de que o filme deve reflectir uma intenção. Ora, parece que é nesta bela e triste história de um jovem, a querer fugir da civilização e do passado, que Sean Penn acertou em cheio no estilo, criando uma obra árida, que se deixa contaminar visualmente pelas paisagens que convoca, e que passa a mensagem sem precisar de se perder em demasiadas palavras. Tudo bate certo aqui: desde a entrega do protagonista Emile Hirsh à banda sonora ou aos desempenhos secundários (Marcia Gay Harden, William Hurt, Catherine Keener e o veterano Hal Holbrook - nomeado para o Óscar de Melhor Actor Secundário - são irrepreensíveis...), há uma coesão nisto. Das mais arrebatadoras e impressionantes que o cinema norte-americano nos deu nos últimos tempos.
1 comentário:
Bem, cinco estrelas! É obra. Também adorei o filme. Fabuloso. Eu ficava-me pelas 4,5/5
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