
25 de abril de 2007
Sin Cinema - «To be continued...»

8 de abril de 2007
DVD: A raíz dos nossos medos


Embora se arraste bastante tempo até se definir plenamente quanto às suas ambições dramáticas, COISA RUIM é um objecto cinematograficamente sólido, com uma óptima caracterização do núcleo familiar protagonista. Na verdade, é este grupo de personagens movediças que se impõe na história, mais do que o suposto terror que nunca chega verdadeiramente a assustar. A intenção do argumento e da realização também parece ser essa, preferindo-se a velha sensação de desconforto e interrogação. Neste ponto, o trabalho de escrita de Rodrigo Guedes de Carvalho sobrepõe-se ao defender muito bem uma certa aura lendária, que assenta nas crendices rurais de um Portugal ainda estagnado no tempo e muito apegado à religião – como, aliás, a precoce cena de exorcismo o comprova. A recente edição lançada em DVD faz jus ao impacto que COISA RUIM teve não só por alturas do Fantasporto do ano passado, como a nível de espectadores (perto de 30 mil, sendo o filme português mais visto no primeiro semestre de 2006): apresenta a obra com excelente qualidade visual (de onde se destaca uma iluminação e fotografia ímpares) e fornece um completo documentário de rodagem, entrevistas dos realizadores na rádio e televisão, comentários áudio, além dos habituais trailer e teasers.
O MAIOR PECADO DE... Rowan Atkinson

Críticas de fugir...

- EFILMCRITIC.COM: Deveria chamar-se «Jar-Jar Binks - o Filme». Sim, é mesmo assim tão mau.
- THE NEWYORK POST: Esta adaptação da inócua série animada dos anos 70 torna a versão cinematográfica de «Josie and the Pussycats» parecer sofisticada.
4 de abril de 2007
NA SALA ESCURA: Bean parece-se mais com Tati


Com uma mala na mão e uma câmara digital na outra, Mr. Bean segue viagem com destino a Cannes e a mais um punhado de aventuras com muitos efeitos secundários... Atkinson continua a vestir muito bem a pele da personagem que o ajudou a tornar famoso e sabe onde pode ir nas caretas e trejeitos, levando esta viagem por terras francesas a uma simpática homenagem ao humor europeu e ao cinema em geral... Cenas memoráveis? A do restaurante do comboio da estação logo no início ou os esforços de Bean para não adormecer ao volante. O filme não é cinematograficamente de génio mas é dos produtos mais bem feitos dos últimos tempos para toda a família e estende (na medida do possível) a dinâmica humorística do programa televisivo (que a RTP tem repetido sempre que pode...ou se lembra) por cerca de hora e meia. Querem mais? Parece que Rowan Atkinson não. Missão cumprida: Mr. Bean já faz parte do bom imaginário cómico de todos nós.
3 de abril de 2007
BOCAS: A imagem de um génio que reinventou o som

1 de abril de 2007
CINEFILIA: Itália como nos filmes

A propósito ainda de O CAIMÃO, de Nanni Moretti, em exibição nas salas escuras nacionais, lanço a outra novidade temática do SIN CINEMA: o roteiro semanal, que irá sempre que me aprouver com ciclos escolhidos a dedo. As obras apontadas têm sempre um denominador comum e estão disponíveis em DVD ou nas salas de cinema. Por isso, a primeira sugestão vai para o cinema italiano, com sete obras incontornáveis que atravessam a história recente cinematográfica do país, desde o realismo expressivo da década de 50, até à sumptuosidade de Visconti, à sátira intimista de Fellini ou à homenagem a Pablo Neruda. O cinema italiano é fecundo em mensagens, em cenas antológicas e é, a par da indústria francesa, a que melhor soube actualizar-se, acompanhando as exigências dramáticas do espectador. À italiana, os filmes que marcam são símbolos expressivos de um tempo, sinais para uma possibilidade madura de cinema, profundamente popular mas com os traços do mais denso filme de autor. Eis a homenagem em sete capítulos definitivos...
AMARCORD * * * * *
Já foi reposto na sala escura há pouco mais de dois anos e voltou a chamar a atenção: esta ode ao provincianismo italiano no período de Mussolini contém todas as marcas de Fellini, principalmente o seu dom para a comédia genuína, brincando com os valores familiares e o despertar da inocência. Um imenso monumento ao cinema popular - termo que aqui é explorado no seu melhor sentido.
O LEOPARDO * * * * *
Visconti criou a obra mais poderosa dos anos 60, onde se descreve com mestria a decadência de um poder. «Algo tem de mudar para ficar tudo na mesma...» ouve-se a certa altura e foi isso que Visconti fez, construindo brilhantes sequências e destilando ironia palaciana com a subtileza dos grandes mestres. Alguém alguma vez esqueceu aquele serão de baile?
LA DOLCE VITA * * * * *
Entre os seus múltiplos méritos, este clássico de Fellini introduziu o termo «paparazzi» na gíria jornalística, descontruiu as rotinas nocturnas de Roma e imortalizou a Fontana di Trevi onde uma bela Anita Ekberg se banha com a classe das divas ancestrais. Outro toque imortalizante é o desempenho de Mastroianni nesta metáfora sobre as pequenas belezas da vida (e os seus paradoxos...).
UMBERTO D * * * * *
Na sua viagem à Itália em DVD, o realizador Martin Scorsese pára longo tempo em torno do cinema de Vittorio De Sica, o mais emblemático realista italiano. Neste caso, o cineasta mostra-nos a decadência material do protagonista Carlo Battisti e a sua longa jornada para manter a dignidade que lhe resta numa Itália no limiar da pobreza. O final é de antologia, assim como a personagem canina que nos desfaz em sensibilidade.
O CARTEIRO DE PABLO NERUDA * * * *
Filme construído em jeito de poema que chegou a ser nomeado para os Óscares principais em 1995. O seu protagonista, Massimo Troisi, morreu poucos dias depois da estreia em cinema de um imenso êxito popular pela forma afectuosa como descreve a envolvência de um homem simples pela poesia. Esta produção partilhada com a Bélgica e Espanha contém outro vulto insuperável do cinema italiano, e falecido no ano passado, Philippe Noiret.
A VIDA É BELA * * * * *
O mais belo filme de Roberto Benigni tem todos os ingredientes do filme de guerra que nos cola à retina: humor, tragédia e uma metáfora para a II Guerra Mundial que é também uma original lição de vida... A relação da personagem de Benigni com o seu filho é das coisas mais intensas que o cinema já nos deu. Talvez por isso a Academia se tenha rendido e atribuído a estatueta dourada para Melhor Actor e Melhor Filme Estrangeiro.
O CAIMÃO * * * *
Nanni Moretti quis fazer um filme político, de crítica à demagogia de Sílvio Berlusconi, mas o resultado não é o que se estava à espera: um melodrama em torno de um produtor de filmes série B, que se encontra no limbo do esquecimento e que vê o regresso possível com um argumento ambicioso de uma jovem realizadora... Uma crítica dissimulada à política, mas também um belo retrato do divórcio é o que Moretti nos tem para oferecer.