12 de novembro de 2008

NA SALA ESCURA: Caminhos vão dar a Paris







SOBERBA.
«Vejo as outras pessoas a viver. Questiono-me sobre quem serão, para onde vão? Tornam-se heróis nas minhas pequenas histórias.» Pierre (Romain Duris)

Acusam-no de ter um estilo manipulatório e caricatural, mas ele continua a sair-se bem na construção de mosaicos. Até parece que Cédric Klapisch não se consegue desprender deles, precisando de várias figuras para dizer ao que vem.

PARIS volta a insistir na fórmula, já explorada (de forma mais impulsiva) em «A Residência Espanhola» e respectiva sequela.

Os tempos são outros, de melancolia, e aquilo que este novo trabalho ambicioso consegue mostrar é uma forma cautelosa de pensar a morte.

O tom é até adocicado perante tão violenta premissa, mas Klapisch é engenhoso na forma como expõe a doença do protagonista (novamente o excelente Romain Duris, em registo particularmente frágil) mas mais ainda no modo como cruza as restantes personagens no seu caminho.

Cruza e descruza porque a beleza neste retrato urbano está na força também do desencontro, fazendo-nos lembrar que um fim gera novos começos.

Mais do que homenagear uma cidade, palco quase secundário perante as vidas que se expõem sem pedirem licença, o que se faz aqui é homenagear valores, sensações, enganos. A força de estar vivo.

Além da boa encenação, o filme tem uma forte mensagem que vale pela sua simplicidade. Depois, ao trazer desempenhos sentidos como o de Juliette Binoche, até se esquece o abuso pontual no tom folhetinesco da obra ou alguma superficialidade na gestão de emoções. Faz falta mais cinema-sensível. PARIS faz bem à auto-estima.

Outra crítica AQUI

PARIS
De Cédric Klapisch (2008)
* * * *
O tom singelo e humanista deste filme é a sua mais-valia. A história que nos transporta para outras histórias é a do jovem Pierre que descobre ter um coração fraco e pode ter poucas semanas de vida. Consequência? Passa a dar valor aos pequenos nadas, aproxima-se da sua irmã amargurada e guia-nos por uma Paris que se faz de gente sensível e desesperadamente a lutar contra a solidão. Com dinâmica e muito estofo na criação de figuras, Cédric Klapisch acerta no tom e embeleza esta homenagem antropológica da Cidade das Luzes. Para desfrutar, apenas. Sem complexos e falsas ideias de que um filme-mosaico tem de ser absolutamente denso e profundo para encher as medidas.

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