16 de novembro de 2006

Uma família às avessas com... a religião

A comédia espanhola é um género a considerar, embora o preconceito de ver cada filme de "nuestros hermanos" tomando por referência a fase mais desbragada de Pedro Almodóvar possa comprometer a análise e o desfrute de viver cada cena com um sorriso. A última surpresa neste campeonato pouco expressivo tive-a por intermédio de um lançamento recente em DVD de Querida Família, sátira da dupla Teresa de Pelegrí e Daminic Harari que aborda as repercussões ideológicas de quem herdou genes palestinianos e israelitas, embora toda a acção se desenrole num bairro urbano de Barcelona. Na verdade, Querida Família é mais uma comédia familiar (ou melhor, sobre a inclusão de um namorado na família da amada) que combina o ritmo frenético das "sitcoms" televisivas com os efeitos humorísticos de outras obras mais mediáticas, como Um Sogro do Pior. Porém, aqui as ambições narrativas são mais complexas e os efeitos na moldura familiar mais estridentes também. O que não inviabiliza uma consequente "lufada de ar fresco" na construção de personagens à beira de um ataque de nervos. Rir do próximo é, no fundo, reconhecer nos outros as nossas imperfeições. Ou aquelas que conhecemos mas que voluntariamente evitamos.

Pecado do Dia: Ira

Há um lado negro na história de Querida Família que surpreende: a vida de Rafi (Guillermo Toledo) não vai ser a mesma depois de ir jantar com a família da namorada, de origens israelitas ao contrário deste professor universitário que se orgulha de ser palestiniano. Com este ponto de partida, que dá azo às mais desvairadas peripécias, tudo o que tem para correr mal, acontece mesmo e a família da sua namorada foge a sete pés das convenções: a mãe vive amargurada, o avô é cego e tem traumas de guerra, a irmã é ninfomaníaca e o pai... leva com sopa congelada na cabeça e pode estar à beira da morte. Na verdade, a premissa da ruptura religiosa é só um efeito secundário nesta sátira extrema aos laços afectivos e, apesar de nem sempre o filme conseguir escapar das armadilhas da caricatura, consegue assumir-se como entretenimento ligeiro e constante. Escapando da natureza de seriado televisivo e encenação humorística graças à filmagem ágil. E é como se costuma dizer: "De Espanha, nem bons ventos, nem bons casamentos!" * * *

1 comentário:

Proud Bookaholic Girl disse...

Eu também já vi esse filme e achei-o simplesmente genial! ;)