
Já passaram cem anos. Dez décadas de vida que John Wayne celebraria se ainda fosse vivo... O cinema é isto: memória, nostalgia e cumplicidade. Nunca foi um excelente actor - como, aliás, brinca na citação anterior - mas também não precisava: a alta estatura, o olhar semicerrado, a voz grave, a pose viril e o sentido de missão marcaram mais de 150 filmes. Actor principal de 142 longas-metragens, Wayne é uma figura que se confunde com um género e a culpa deve-se aos mais de 12 filmes que protagonizou às ordens de John Ford. Se este é, por excelência, considerado o cineasta que melhor explorou as emoções inerentes às raízes da América, Wayne é o rosto que melhor soube incorporar os dramas e os valores conservadores de quem ajudou a erigir um país. Sobre o western, o actor, que recebeu finalmente o Óscar em VELHA RAPOSA (1961), chegou a considerar que este género «é o mais próximo da arte em relação a qualquer outro no negócio do cinema». E percebe-se porquê: quando bem dirigido, possui belas imagens, um sentido épico, a emoção necessária e muitos valores a transmitir por personagens quase sempre errantes. E John Wayne foi-o por variadíssimas vezes: A DESAPARECIDA, O HOMEM QUE MATOU LIBERTY VALANCE, OS TRÊS PADRINHOS, FORTE APACHE, OS DOMINADORES ou no seu derradeiro papel em O ATIRADOR. Um ponto final perfeito numa carreira terminada em 1976, três anos antes do cancro o levar para outras paragens. John Wayne é uma lenda, uma marca irrepreensível do bom entretenimento. É por isso de estranhar que este centenário esteja a passar de forma tão discreta. Recomenda-se, por isso, o serão desta noite do Lusomundo Gallery (para quem subscreveu os canais premium): O ASSALTO AO CARRO BLINDADO, que passa às 21.00, ou melhor, a aventura dirigida em 1967 por Edwin L. Marin sobre dois homens que planeiam o roubo de um vagão cheio de dinheiro. O problema é que um deles foi contratado para matar o amigo... Prometedor, no mínimo.