7 de outubro de 2008

NA SALA ESCURA: Interrogações de Ethan Hawke

PREGUIÇA. «Muita coisa má te vai acontecer. As pessoas não te vão retribuir o que sentes e se queres ser levado a sério como artista, esta deve ser a primeira coisa que tens de aprender.» JESSE (Laura Linney)

Ethan Hawke sofre de um estigma tramado: é uma eterna promessa. Daquelas adiadas, apesar de toda a gente saber do valor que tem.

Não é preciso ir aos tempos de «O Clube dos Poetas Mortos» para recordar o seu talento dramático, até porque o díptico «Antes do Amanhecer/Antes do Anoitecer» o mostra, tal como «Dia de Treino» (pelo qual chegou a ser nomeado para um Óscar de Melhor Actor Secundário) ou o muito recente «Antes Que o Diabo Saiba Que Morreste» também.

Mas Ethan Hawke quer ser levado a sério e até já mostrou ser capaz de dar cartas na música e na literatura. Agora avançou para a realização.

Já o tinha feito antes, mas O ESTADO MAIS QUENTE era suposto ser a sua cartada para provar a quem ainda questiona a sua maturidade artística que tem muito para contar.

Pois bem, o filme até se vê bem, tem uma banda sonora country certinha e um par de diálogos inteligentes (as cenas escassas com Laura Linney são do melhor que o filme tem para oferecer), mas rapidamente a obra se arrasta na tentativa de mostrar como uma relação amorosa se pode desfazer em pedaços «sem ai nem ui».

É até demasiado ingénua na forma como segue os passos de William Harding (Mark Webber) para tentar perceber melhor a mente atormentada da mexicana Sarah (a sempre segura Catalina Sandino Moreno).

Então por que não nos rendemos a este exercício pessoal e percebemos que Ethan Hawke é um grande cineasta? Porque ainda não o é, faltando-lhe densidade nas suas intenções e cunho próprio - há, por aqui, muita inspiração no estilo do amigo Richard Linklater.

Ainda assim, o filme vê-se e assimila-se. Mas sem apagar a imagem de que Ethan Hawke ainda não nos mostrou todo o seu potencial. Ou será que já?

O ESTADO MAIS QUENTE
De Ethan Hawke (2007)
* *
Um rapaz embeiça-se por uma jovem cantora e decidem viver juntos. Tudo corre sobre rodas, o amor é lindo e tal, mas subitamente ela decide pôr um travão em tudo e ele passa a viver na margem, um trapo à espera de uma segunda oportunidade. Neste trabalho que pretende reflectir sobre os altos e baixos da paixão, Ethan Hawke sai-se melhor a descrever os bons momentos do que os maus. Neste ponto, o filme arrasta-se sem chama, revelando até ingenuidade na forma como ilustra a dor. No entanto, para lá do artificialismo e da vontade em querer parecer arty, há pontos positivos na história: Catalina Sandino Moreno é luminosa, há um ou outro diálogo que revelam rasgo, a banda sonora merece ser ouvida com atenção e há planos bonitos, bem pensados, com uma fotografia de cores quentes a condizer. Porém, há falta de coesão em tudo, medo de arriscar e muitos desempenhos subaproveitados - casos de Laura Linney, Sónia Braga (pouco mais do que uma caricatura), Michelle Williams e do próprio Hawke (muito desajeitado na pele do pai do protagonista). Ficamos à espera do próximo projecto, Ethan Hawke. Para vermos se te sais melhor!

1 comentário:

Anónimo disse...

Não acredito que "O Estado Mais Quente" tenha sido a cartada final de Hawke para mostar seu potencial. Pelo contrário. Foi seu segundo filme na direção e ele não nega o quanto tem aprendido nos "sets" de filmagens e com o amigo Richard Linklater. Então, o filme, obviamente, tem muita coisa deste aprendizado. Como Hawke sempre diz...é mais uma forma de crescimento. Crescimento que ele sempre busca nos trabalhos que desenvolve. Acho que Hawke é do tipo de artista que estará sempre em evolução e nós nunca vamos saber o quanto ele ainda tem a oferecer. Aqui no Brasil o filme é chamado Um Amor Jovem apesar de
bem elogiado pela crítica, não foi sucesso de bilheteria. Nos EUA parece ter sido um fracasso. Acho que só as fãs de Hawke foram ao cinema ver The Hottest State, nome original em inglês. Teve algumas críticas bem positivas mas, a maioria acusando-o de ser narcisista por fazer um filme sobre ele mesmo (o filme é semiautobiográfico). Soube que fizeram até uma carta aberta ao ator na qual solicitaram que ele desistisse da carreira de cineasta. Foi uma atitude ridícula que mostra o quanto alguns americamnos são preconceituosos e não aceitam que um ator tão jovem atue em diversos tipos da arte - Literatura, Cinema, Teatro e Música como Hawke faz (ele escreveu o livro quando tinha 24 anos). Adoro os filmes que Hawke escolhe atuar. São sempre filmes com mensagens intrigantes e inteligentes. Ou seja, não é a bilheteria o fator determinante para ele estar ou dirigir um filme.
Então eu continuo aqui no Brasil vendo seus filmes e aguardando seus livros.