27 de setembro de 2006

As imagens também dançam

Por motivos diversos (muito trabalho, mudanças, contenção de custos e cansaço apesar da semana de férias há bem pouco tempo...), tenho estado quase de costas voltadas para o cinema em sala escura. Um pecado que prometo compensar um dias destes... Solução imediata para este mal? Consultar a pilha de DVDs que tenho lá por casa (e que consegui reordenar novamente por ordem alfabética, devido a mudança necessária) e escolher ao acaso um filme que me pode marcar o serão pelas melhores razões. Billy Elliot não foi escolha minha... mas ainda bem que o revi, no outro dia, à noitinha, na companhia da pessoa certa. Revi-o pela quarta ou quinta vez e chego cada vez mais à conclusão que este musical inglês (dos produtores de Quatro Casamentos e um Funeral ou O Diário de Bridget Jones) é mais um manual de uma adolescência à descoberta de si própria pela dança do que um mero seguidor dos cânones do musical dançado. E, no final, deu-me vontade de dançar ao acaso, como nas crises de criatividade do jovem protagonista (excelente Jamie Bell). E logo eu, que não sou fã de musicais - há Moulin Rouge, Toda a Gente Diz Que Te Amo e pouco mais do que os clássicos Chapéu Alto ou Serenata à Chuva. O que torna Billy Elliot excepcional é a sua capacidade de restituir o espírito rebelde e ingénuo da juventude, transportando a música para a história como escape para uma realidade mais crua. Esta inserção nada poética e até abrupta é absolutamente performativa. E dá vontade de ver de novo.

Pecado do Dia: Inveja

Foi uma estreia certeira, digna de causar muita inveja pela consistência de uma primeira obra:
Stephen Daldry, hoje ainda mais respeitado porque após Billy Elliot construiu o elenco feminino mais sólido dos últimos anos em As Horas, surpreendeu toda a gente com uma história simples, passada numa Inglaterra provinciana, dilacerada por greves de mineiros durante a governação de Margaret Tatcher, em que um jovem rapaz que deveria praticar boxe, se deixa seduzir pelos movimentos graciosos do ballet. É uma história contada em jeito de Patinho Feio - o número final de O Lago dos Cisnes sintetiza a analogia na perfeição - com a música a ilustrar as imagens com uma imensa comoção. Mais do que isso, há a veracidade dos desempenhos, seja Jamie Bell a construir uma personagem em mutação psicológica permanente, ou uma Julie Walters como a professora de ballet cheia de frustações e exigências. Este conto que é um valente sopro para auto-estimas mais fragilizadas mostra que as imagens também dançam. Sejam as do ecrã ou as que se colam na nossa cabeça. * * * * *

2 comentários:

Deeper disse...

Olá Rui! Primeira passagem pelo teu blog, e tenho a certeza que não será a última. Adorei! Que tu escreves muito bem não é propriamente uma novidade, e a sétima arte é mesmo a tua praia. Escrevermos sobre aquilo que gostamos é sempre um privilégio. Também espero a tua visita, neste novo mundo cibernético. Beijinhos grandes - Ana Catarina Pereira

emot disse...

Grande filme, mesmo! Boa escolha da outra pessoa que não tu... ainda por cima inspirou-te para escreveres sobre essa pérola que é o Billy Elliot.
JT