19 de setembro de 2006

Jornais à procura de um lugar ao sol

E, subitamente, o mercado jornalístico entrou em polvorosa devido à estreia de um semanário com nome de tablóide britânico que, desde o primeiro número, assume que não cede a promoções e espera, em poucas semanas, tornar-se líder do seu sector. Mas alguém acredita que, verdadeiramente, possa fazer mossa ao "saco de plástico"? Há uns meses diria que não, hoje com o "lusco-fusco" gerado dou o largo benefício da dúvida. A estreia foi, de facto, em grande, com um visual arejado (talvez demasiado tabloidizado no que concerne ao caderno principal), muitas ideias e um descomprometimento que já há alguns anos fazia falta. Mas onde está o suplemento de cultura? A boa edição fotográfica? O "Sol" é jovem e ambicioso e precisa apenas de limar umas arestas. A sua entrada no mercado só pode ser louvável, até porque obrigou o "Expresso" a mudar de visual e a perder o quase monopólio dos semanários (depois, gerou um dano colateral: o encerramento há muito anunciado do "Independente", um jornal que guardo num cantinho privilegiado da minha memória). No meio desta picardia, importa não esquecer que, mais do que projectos em constante renovação, o jornalismo precisa de deixar de ser preguiçoso, escrito sempre a partir da secretária, menos dependente das agências externas e procurar histórias próprias. Toda a gente sabe disso, mas como investir quando as vendas caem todos os dias e os gratuitos ganham terreno a cada nova semana? O que é certo é que o jornalismo está a mudar a sua essência com uma rapidez estonteante e, parece-me, que no futuro a informação será cada vez mais um bem "de borla". Este paradoxo será interessante de observar de perto. Muitas vezes, longe da visão saudosista do grande ecrã.

Pecado do Dia: Avareza

Neste período de convulsão jornalística, apeteceu-me recuar às origens, às aulas académicas de jornalismo e à figura de um certo professor de sotaque norte-americano que me deu a ver pela primeira vez, como o cinema de meios escassos e múltiplas ambições deu cartas há mais de 60 anos no olhar atento sobre o jogo de influências que rodeia a imprensa. Apesar de algo datada, a comédia O Grande Escândalo, de Howard Hawks, é um excelente exemplo de como os meandros jornalísticos podem ser os mesmos do cinema clássico. Claro que há um olhar romântico e uma caricaturização excessiva do par protagonista, Cary Grant e Rosalind Russel, em verdadeiro rodopio para conseguirem a "cacha" sobre um condenado à pena de morte. Exemplo perfeito do género "screwball comedy", O Grande Escândalo" apresenta uma guerra dos sexos ambígua, críticas à honestidade do repórter sem escrúpulos, mas acima de tudo, transmite o sentimento genuíno de prazer que a profissão de jornalista comporta. É uma relação de amor-ódio, que invade muitas vezes a esfera pessoal, onde o mérito se negligencia, mas onde, no final, tudo acaba por ter o seu sentido. O mestre Howard Hawks move-se neste meio com a profundidade com que abordou o melodrama ou o western. Ficou famoso em Hollywood por isso mesmo, por uma perfeccionista versatilidade. Neste caso, teve um dos seus pontos altos, criando uma obra-mestra para a comédia e um tratado anedótico sobre as perversidades de uma profissão que, embora hoje muito mais dependente da tecnologia, mantém os níveis de inconstância e adrenalina. Para quem lhe veste verdadeiramente a camisola. Depois há sempre o desabafo da personagem de Rosalind Russel para a de Cary Grant: "Now, get this, you double-crossing chimpanzee, there ain't going to be any interview and there ain't going to be any story. (...) I wouldn't cover the burning of Rome for you if they were just lighting it up. If I ever lay my two eyes on you again, I'm gonna walk right up to you and hammer on that monkeyed skull of yours 'til it rings like a Chinese gong! ." * * * * *

2 comentários:

emot disse...

Jornalistas à procura de um lugar ao sol... na rua (reportagens), nas condições e nas apostas editoriais.

Anónimo disse...

Obrigado por Blog intiresny