19 de dezembro de 2006

NA SALA ESCURA: Da plasticina para os píxeis

... Em período de festividades natalícias, também eu me rendi à animação. Não há nada a fazer: é tempo de convívio familiar e de desenhos animados. Até mesmo os adeptos fervorosos de "stop motion" Nick Park e Steve Box aceitaram produzir uma obra de financiamento norte-americano em que as doces figuras de plasticina já surgem convertidas aos prodígios do píxel. POR ÁGUA ABAIXO é o divertimento certo para este Natal, com poucos concorrentes à altura, mas já deixa saudades o lado artesanal a que associámos esta dupla. A realização coube desta vez a David Bowers (argumentista de O GANG DOS TUBARÕES), mas é o dedo da produtora britânica que sobressai na construção da história, nos diálogos saborosos e no humor cáustico. Segundo consta, a razão pela opção do digital deve-se às inúmeras cenas envoltas em água (elemento difícil de lidar com os materiais dos bonecos deliciosos da Aardman Productions) e nem tudo correu bem com esta longa-metragem: o orçamento roçou os 150 milhões de dólares e a Dreamworks fez demasiadas pressões sobre a realização. Resultado: nos próximos trabalhos, a Aardman promete voltar a caminhar sozinha. Ainda assim, POR ÁGUA ABAIXO não perdeu com estes solavancos e é um dos mais divertidos filmes de animação desde SHREK. Na verdade, neste Natal, nunca o esgoto pareceu tão apetecível...


Pecado do Dia: Soberba
POR ÁGUA ABAIXO
Nas Salas (Dreamworks) * * *
Os meios são muitos... nota-se na multiplicidade de peripécias em que se envolvem os ratos Roddy (voz de Hugh Jackman) e Rita (voz de Kate Winslet) nesta aventura pelo cano abaixo. O que parece foi que a tradicional história de Rato do Campo, Rato da Cidade foi invertida para os tempos modernos de consumismo e, mesmo nas grandes urbes, existem duas categorias de roedores: os que vivem na pompa de uma habitação e os que convivem no lodo do esgoto. Esta alegoria civilizacional funciona como uma luva para criar as mais diversas personagens e brincar com os preconceitos sociais. Se Roddy é um betinho por ter vivido sempre como animal doméstico, percebe que o mundo no esgoto pode funcionar em comunidade. Nesta fábula distorcida, devido ao ritmo incansável e ácido do humor, a moral está lá, dissimulada, e até mesmo o vilão é patético... O mais importante é a diversão e há momentos de antologia neste novo prodígio digital - as lesmas canoras, o sapo mimo, a habitação oscilante onde Rita convive com a família e algumas armas utilizadas para combater o mal (alguém pensou num pacote de natas para deter um inimigo numas claras em castelo?). Se não for levada demasiado a sério a fragilidade narrativa, POR ÁGUA ABAIXO mantém-se bem à tona enquanto objecto lúdico para todas as idades. O que é que se pode querer mais neste período de festas?

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