

JUVENTUDE EM MARCHA
Nas salas (Atalanta Filmes) * * * *
O Bairro das Fontainhas, na Amadora, volta a ser o cenário desfragmentado que Pedro Costa recorreu para criar o seu ocaso de uma trilogia iniciada com OSSOS e estendida com NO QUARTO DE VANDA. Neste seu derradeiro capítulo, o desnorte mantém-se motivado pela possibilidade das personagens passarem para outras habitações, que possibilitam novas condições mas não amparam o desnorte. JUVENTUDE EM MARCHA é, por isso, uma nova poesia triste e melancólica, traduzida pelo olhar pesado de Ventura e por um revisitar tocante sobre algumas personagens (seres humanos, reais) já conhecidas. E o cineasta, que não passou despercebido no último Festival de Cannes, volta a interrogar as inquietações de pessoas à deriva sem procurar dar resposta ou ceder a moralismos. Resta uma combinação negra de drama e observação documental de poucos meios, que possibilitam ao cinema transgredir as suas noções elementares em nome de um olhar. Acima de tudo, um olhar. Despedaçado, carregado de manchas turvas, mas um simples olhar. Que se estende por quase três horas de duração. Este talvez seja o único ponto fraco de JUVENTUDE EM MARCHA, porque torna a obra mais difícil de digerir. No entanto, o toque dramático das vidas em foco, a atenção aos pormenores, a beleza-fealdade cénica tornam este um dos mais sólidos e intensos filmes nacionais. E com uma temática tão forte, nunca poderia ser fácil de digerir. E de assimilar.
1 comentário:
Depois de ter visto o filme No Quarto de Vanda, versão completa de 4 horas, que não gostei, fiquei reticente em ver este A Juventude em Marcha. Mas vou dar o benefício da dúvida e talvez ainda vá ver... se tu gostaste...
Abraço
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