13 de fevereiro de 2007

Outkast: a «soul» reinventada no cinema

INVEJA. Às vezes, quando chegam às nossas salas de cinema «blockbusters» desnecessários em catadupa, dá-me vontade de apelar a um embargo a tudo o que venha do outro lado do Atlântico que tenha mais de cinco minutos de cenas cujo efeito secundário seja um enorme bocejo. Mas também acontece o inverso: na verdade, é cada vez mais frequente os distribuidores nacionais ignorarem produções ambiciosas, só porque não tiveram o efeito desejado nas bilheteiras norte-americanas. Aí sinto inveja... Inveja de haver salas vazias nos Estados Unidos com o último arrojo animado de Richard Linklater, A SCANNER DARKLY (que por cá só chegará ao DVD, depois de umas falsas ameaças de estreia no grande ecrã), ou, mais propriamente, do musical IDLEWILD, da melhor dupla de hip hop sofisticada do momento: sim, os extravagantes Outkast. A culpa é de um disco, a deliciosa banda sonora deste filme que é um sonho antigo de André 3000 e que, segundo consta, está muito à frente da estrutura dramática da longa-metragem, que resgata a tradição do «music hall» no coração negro de uma América cristalizada pelo «swing». E, principalmente, de uma canção, «Idlewild Blue», a mais insinuante balada de «blues» que ouvi nos últimos tempos. A batida, a mescla da tradição vocal negra (bem repescada por André 3000) com os sintetizadores de hoje e o videoclipe (uma envolvente cheia num bar de outros tempos) «obrigam-me» a ouvir o tema e a mantê-lo religiosamente nas músicas mais tocadas do meu mp3. Só por isso anseio por ver o filme e deixar-me ir... ao bom sabor da «soul» reinventada.

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