10 de fevereiro de 2007

NA SALA ESCURA: África, terra bela e corrupta

IRA. O cinema de causas políticas descobriu África como território prolífico para traçar conspirações megalómanas em belas paisagens de uma natureza semi-intacta. Não é novidade para ninguém que o continente africano é uma terra de contrastes e onde "quem tem olho é rei"! Esquecida em inúmeros domínios progressistas, África tem por exemplo uma das indústrias mais pobres em matéria de ficção cinematográfica, com honrosas excepções como é o caso de África do Sul ou o Burkina Faso (palco anual do mais importante festival de cinema do continente, o FESPACO). A carência de projectos de ficção próprios (em São Tomé e Príncipe, por exemplo, não se conhece nenhuma obra fílmica originária desta ex-colónia portuguesa) é facilmente explicável quando ainda milhões de africanos se encontram no limiar da sobrevivência. Pouco dada a cinema, África tem sido palco privilegiado para aventuras, melodramas em tempos conturbados e casos de denúncia séria de conspirações que afectam o mundo inteiro. Pode ser um alvo fácil, mas é também o cenário perfeito e escassa fonte de belas paisagens... Ser uma terra de paradoxos sociais tem destas coisas... Depois de HOTEL RUANDA, O FIEL JARDINEIRO e até mesmo BABEL, um filme de grande orçamento volta a centrar-se num conflito gigantesco para daí extrair sumo narrativo, acção de alta voltagem e mensagem política eficaz. Trata-se de DIAMANTE DE SANGUE, de Edward Zwick, que retorna ao golpe de Estado da Serra Leoa e às políticas de contrabando de diamantes. Para tal, une um mercenário (excelente dicotomia interpretativa de Leonardo DiCaprio, justamente nomeado para o Óscar de Melhor Actor), um indígena que só quer recuperar a sua estabilidade familiar e tem o azar de encontrar um diamante de grandes dimensões (Djimon Houson, nomeado para a estatueta dourada de Melhor Actor Secundário) e uma jornalista em busca da história que possa mudar o seu destino profissional. Uma combinação que faz faísca e contrabalança a habilidade de Zwick em filmar as cenas de conflito. Querem mais? Liguem o telejornal... Entretanto, convém relembrar outras experiências cinematográficas com África como cenário primordial. O "continente esquecido" já foi por diversas vezes lembrado.

DIAMANTE DE SANGUE ****

A obra mais dispendiosa de Edward Zwick (custou mais de cem milhões de dólares de orçamento) é colossal nas cenas de conflito da Serra Leoa, mas contrabalança com mestria os momentos mais introspectivos entre o trio protagonista. Nesta visão corrompida dos países desenvolvidos sobre os mais atrasados, há um "cinema de causas" concreto e ambicioso. Voltou a colocar os média a falar sobre os "diamantes sujos" e apresenta três belas prestações de DiCaprio, Connelly e Houson. Só por isso vale a pena e até compensa algum excesso de dramatismo e descrença na ordem social. Trata-se de um dos mais musculados filmes de guerra dos últimos anos (digno sucessor de O ÚLTIMO SAMURAI, a obra anterior do cineasta), que comprova o engenho de Zwick para desenhar intensas lições de vida em período de conflito (como já o havia feito, no seu melhor, também em TEMPO DE GLÓRIA).

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