7 de dezembro de 2008

OS SETE PECADOS DE... Novembro 2008

GULA. É a altura certa para todas as homenagens: os cem anos de Manoel de Oliveira, que se celebram a 11 de Dezembro, já deram origem a um tributo de respeito. A caixa de DVD recentemente lançada, que contém 21 longas-metragens (algumas das quais, nunca antes editadas em formato digital), livros e documentários merece ser vista com toda a atenção. É uma edição de luxo consistente e apropriada, que nos recorda o século de um cineasta, nem sempre bem aceite, mas fundamental para se entender o cinema português desde a sua génese. Uma boa ideia!

SOBERBA. Juntar a voz de Jack White, dos White Stripes, à soul de Alicia Keys pode não ter parecido a melhor das ideias, mas o resultado do tema do último filme de 007, Another Way to Die, é bastante acima da média. E tem um power que assenta como uma luva ao James Bond com cara de poucos amigos de Daniel Craig.

AVAREZA. Com poucos meios, um grande filme. Volto a insistir em «A Turma», o belo filme que se apresenta em jeito de documentário, mas que quer ser, antes de mais, uma poderosa reflexão sobre a escola e o que é aprender. O realizador Laurent Cantet soube filmar este espaço, cenário de muitas mudanças... e polémicas.

IRA. A crítica lançou-se com unhas e dentes a «Ensaio Sobre a Cegueira», de Fernando Meirelles. As acusações de que simplificam demasiado a obra de Saramago, esvaziando-lhe o seu sentido alegórico é inteiramente exagerada. Um filme é um filme, um livro é um livro. E já se tornou fácil criticar as adaptações, dada a densidade de um bom livro que é impossível de recriar em filme. Pois bem, gosto de ir contra-corrente: a nova obra do realizador de «Cidade de Deus» é um poderoso trabalho, muito cuidado tecnicamente e, sim, que faz juz à excelente narrativa semi-apocalíptica de Saramago. É certo que o livro vai muito mais fundo na análise das consequências de uma misteriosa cegueira, mas Fernando Meirelles capta muito bem os lugares turvos da moralidade e os dilemas de uma nova (e perversa) noção de comunidade. Depois, há uma excelente fotografia, um enorme e meritório esforço em ilustrar a cegueira descrita pelo Nobel português e boas interpretações - com particular ênfase para a extraordinária Julianne Moore. Um grande filme, injustamente condenado.

LUXÚRIA. Ao recordar os primeiros filmes de Woody Allen, voltei a deliciar-me com os jogos «orgásmicos» entre Diane Keaton e Woody Allen (entre outros)... num futuro «já algo nostálgico», em que o prazer carnal surge ao carregar num botão. Hilariante!

INVEJA. Um CD adquirido recentemente compila a música dos muitos filmes de Pedro Almodóvar. As memórias cinematográficas que as canções nos convocam também remetem para o excelente bom gosto do realizador espanhol. Que usa a música como outra espécie de imagem, além de procurar ir às raízes da «sua» Espanha.

PREGUIÇA. As matinés de fim-de-semana dos canais privados estão cada vez mais sensaboronas. Além de repetições de êxitos que já se viram dezenas de vezes, os ditos canais ainda decidem exibir os referidos filmes contra todas as antevisões anunciadas nas secções de televisão de jornais e revistas.

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