13 de fevereiro de 2009

NA SALA ESCURA: Woody e a luz de Barcelona


GULA. «Maria Elena costumava dizer que só o amor não correspondido pode ser romântico.» JUAN ANTÓNIO (Javier Bardem)
A passagem de Woody Allen pela Europa fez-se de um filme sombrio em «Match Point», uma comédia sobrenatural e presa à névoa londrina em «Scoop» e um drama familiar muito negro com «O Sonho de Cassandra». E, ao quarto filme, agora em Espanha, o cineasta descobriu a luz!

«Vicky Cristina Barcelona» possui cores quentes, deixa-se levar pela aura artística da cidade, embrenha-se num jogo de sedução que culmina com um triângulo (ou melhor um quadrado!) amoroso que permite a Woody Allen ser mais ousado do que o costume.

A história das duas amigas norte-americanas que vêm passar umas férias a Barcelona traz, além de uma interessante luminosidade, aquela falsa ligeireza das comédias que brincam com os afectos. Até porque Woody Allen, apesar de ceder a algum conformismo neste filme (nomeadamente na construção de algumas personagens, em particular das masculinas - seja no pintor de Javier Bardem ou no noivo da personagem de Rebecca Hall) e dar demasiado espaço à caricatura, consegue revelar engenho ao mostrar como duas formas de encarar o amor podem trazer indesejáveis consequências: seja a forma «certinha» e linear da personagem de Vicky ou no modo inconstante e intenso da personagem de Cristina.

Para mostrar que está disposto a pisar as regras, o realizador nova-iorquino deu ainda uma grande personagem a Penélope Cruz, mulher depressiva, desequilibrada, que vem para apimentar ainda mais o jogo de paixões que envolve esta história de travo latino, caloroso e vibrante. A actriz volta a sair-se melhor aqui no seu território do que na oscilante carreira norte-americana e não é de admirar que traga um Óscar no próximo dia 22 de Fevereiro.

Com muito bom gosto, o filme convence ainda pela sua fotografia, a subtil banda sonora e a forma terna como Allen filma a cidade sem, ainda assim, se prender demasiado ao panfleto turístico. Espera-se que o hábito de rodar uma obra por ano continue por muitos mais anos.

Outra crítica AQUI

VICKY CRISTINA BARCELONA
De Woody Allen (2008)
* * *
Soube-se que a rodagem foi atribulada, mas Woody Allen saiu-se bem com esta aventura passada em Barcelona. Novamente centrado em atribuladas relações afectivas, o cineasta diverte-se a seguir as peripécias de duas amigas que se envolvem com um artista. Desta vez, Scarlett Johansson fica para trás e chegam-se à frente tanto o actor espanhol Javier Bardem como a extraordinária Penélope Cruz. Só é pena que algumas personagens sejam subvalorizadas - nomeadamente a de Patricia Clarkson - e que a caricatura por vezes se sobreponha a figuras que podiam ser mais densas. Mas estamos no território de Woody Allen e o realizador faz-nos lembrar disso: seja nas interrogações emocionais das protagonistas, seja nos diálogos inteligentes.

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