Todos os anos há filmes-surpresa: aquelas obras de poucos meios que, à partida, ninguém dava nada por elas, mas que o efeito "boca a boca" entre os espectadores que têm a sorte de a ver acabam por gerar bilheteiras generosas e críticas irrepreensíveis. Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos (prefiro muito mais o título original Little Miss Sunshine) lidera as preferências nesta categoria (se é que os "filmes-surpresa" se podem considerar uma categoria...) e tem todas as razões para isso: começou como um projecto marginal de uma dupla de realizadores em estreia, com um naipe de actores interessante mas nenhum deles da primeira divisão (só talvez Steve Carrell, que se tem afirmado como uma das mais recentes estrelas da comédia ligeira norte-americana), deu nas vistas no Festival de Sundance e acabou por gerar 50 milhões de dólares nas bilheteiras. Por cá, a estreia foi discreta, embora a Lusomundo se tenha esforçado por vender o filme como mais uma comédia desbragada e algo acéfala, como é norma na maioria dos produtos do género que ganham mais destaque nas salas dos "multiplexes" - o título português é um esforço nesse sentido. E já se fala de Óscares... o de Argumento Original e Melhor Actor Secundário para Alan Arkin (o avô "muito à frente" desta família desintegrada) ou Steve Carrell são talvez os pontos mais fortes. Vai uma aposta?Pecado do Dia: Avareza
Filme independente que se preze, a palavra contenção não é ponto fraco, mas ponto de honra. A
dupla Jonathan Dayton e Valerie Faris tirou partido disso mesmo para criar uma das histórias mais surpreendentemente cómicas que os estúdios de Hollywood nos ofereceram nos últimos anos. Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos começa como retrato até algo dramático de uma família disfuncional, com uma mãe desesperada, um pai perdedor, um filho que fez voto de silêncio e uma doce menina que sonha participar num concurso de beleza para crianças até aos seis anos (!!). É justamente esta personagem que arrasta toda a família numa longa viagem de carrinha para chegar a tempo ao espaço do próximo desfile de "misses". Rapidamente, o filme transforma-se num "road movie" em alta velocidade, com excelentes números cómicos (as constantes avarias da camioneta e o episódio do hospital são de antologia... bem como o momento final passado no palco do já referido desfile). Simples e bem intencionado, Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos funciona pelo ritmo, os diálogos inteligentes e uma excelente caracterização de cada uma das personagens desta família bizarra. Mas não assim tão distante da nossa. * * * *









pequenas nuances revolucionárias, mas... vazio. Esta metáfora política, que surge numa co-produção germano-austríaca estilizada, apresenta-nos Jule, Peter e Jan, três jovens que se envolvem romanticamente, e que partilham o gosto por passarem mensagens de ordem contra o progresso através de pequenos actos de rebeldia. É precisamente o triângulo amoroso que se forma, e que vai ganhando espessura com o desenrolar da história, que corrompe as motivações do filme e tornam este candidato à Palma D'Ouro do ano passado do Festival de Cannes, um projecto que quer chegar longe mas que... não chega a lugar nennhum. E é por isso que termina como começa, sem as personagens terem crescido, apesar de andarem em deambulações ocas, corrompendo o exterior porque... sim. O DVD lançado agora pela Atalanta possui alguns extras interessantes, mas não chegam para dar mais vitalidade a um relato também não muito estimulante sobre a juventude culta mas sem referência das sociedades ocidentais. * *