2 de outubro de 2006

Sociedade "da abundância" em registo vazio

No outro dia vi em DVD, e pela primeira vez, uma das obras que mais deu nas vistas no ano cinematográfico passado, com direito a nomeações no Festival de Cannes e tudo. Porém, Os Edukadores sofre de um grande problema, à parte da sua vontade excessiva de querer ser alternativo. É convencido... E não há nada pior do que um filme que quer parecer mais intelectualmente interessante do que na verdade é. O cineasta Heins Wangartner cria um triângulo amoroso interessante, formado por três jovens desenquadrados com os valores sociais dos meios cosmopolitas de hoje (até aí tudo bem...). O pior é quando simplifica essa convicção, através de um rapto atabalhoado de um suposto burguês que tramou a vida à jovem protagonista. Daí perde-se o ímpeto revolucionário e a chama crítica de muitas das fragilidades que as democracias consumistas de hoje estimulam. E Os Edukadores consegue ser mais cansativo do que uma tarde de novelas da SIC. Na verdade, esta obra alemã possui pontos fortes - a crueza da forma de filmar é incisiva - mas desperdiça uma vontade de ter um olhar introspectivo. É, acima de tudo, um olhar vazio.

Pecado do Dia: Soberba

Em Os Edukadores, a crítica à sociedade da "abundância" resulta num discurso politizado, cheio de pequenas nuances revolucionárias, mas... vazio. Esta metáfora política, que surge numa co-produção germano-austríaca estilizada, apresenta-nos Jule, Peter e Jan, três jovens que se envolvem romanticamente, e que partilham o gosto por passarem mensagens de ordem contra o progresso através de pequenos actos de rebeldia. É precisamente o triângulo amoroso que se forma, e que vai ganhando espessura com o desenrolar da história, que corrompe as motivações do filme e tornam este candidato à Palma D'Ouro do ano passado do Festival de Cannes, um projecto que quer chegar longe mas que... não chega a lugar nennhum. E é por isso que termina como começa, sem as personagens terem crescido, apesar de andarem em deambulações ocas, corrompendo o exterior porque... sim. O DVD lançado agora pela Atalanta possui alguns extras interessantes, mas não chegam para dar mais vitalidade a um relato também não muito estimulante sobre a juventude culta mas sem referência das sociedades ocidentais. * *

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