24 de setembro de 2007

O fim prematuro da PREMIERE







PREGUIÇA
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«Houve uma drástica redução de custos que foi ultrapassada pela redacção com muita criatividade e uma espartana engenharia financeira, ao nível das colaborações externas. No entanto, não houve da parte da Hachette um verdadeiro investimento numa estratégia de marketing que sustentasse o crescimento do título.» JOSÉ VIEIRA MENDES, director de Premiere

Temos de admitir: somos um público inculto, preguiçoso, sabichão mas sem perder muito tempo a ler o que quer que seja. Valha-nos os gratuitos, que não custam nada e até têm textos pequeninos, e o «Telejornal». Para quê perder a atenção com textos longos e rotineiros, com notícias e opiniões que amanhã já são lixo! Às vezes, penso que nós somos assim: preguiçosos, desinteressados.

Ou melhor, sei que não somos todos assim, mas é assim que as grandes empresas - incluindo, pior que tudo, as de media - nos vêem. E, portanto, os jornais, as revistas e tudo o que meta letrinhas pequeninas com excepção da «Bíblia» e de «A Bola» não dá lucro. Logo, aperta-se até explodir.

Foi o que sucedeu com a única (e já histórica...) revista de cinema que conseguiu sobreviver 8 anos, cujo último número sai em Outubro. A PREMIERE merece todos os aplausos por mostrar que a cultura ainda pode ter longevidade
em matéria de publicações escritas mas que, por outro lado, tem sempre um final prometido.

E é assim que, enquanto leitor fiel, vejo perder-se um esforçado grupo de pessoas que tentava ser arrojado na construção da revista. É verdade que tinha muitos artigos comprados de fora, falta de arrojo e coerência no grafismo e até uma apresentação dos filmes do mês pouco trabalhada. Mas, com os meios ínfimos de que dispunha, tenho de dar os meus parabéns: a PREMIERE cumpriu a sua missão.

De forma heróica, mostrou ao longo de quase cem meses que é possível escrever sobre cinema. Criou o seu nicho (vendia cerca de 18 mil exemplares), chamou publicidade para as suas páginas e ainda nos trouxe Criswell, esse cronista que acho que, no fundo, todos sabemos quem é. Criswell: que vai ser feito de ti? É desta que a porta do teu caixão se vai fechar. Que fazer? A culpa não é tua... A culpa é da cultura que não vende, do cinema que não atrai multidões. Da preguiça de todos nós.

Vamos ver quanto tempo o mercado fica sem uma revista de cinema... Uma garantia: a próxima publicação a aparecer tem uma pesada herança e uma existência frágil. Assim que sair para as bancas vai ter a certeza de que o seu final será prematuro. Como foi com a PREMIERE.

1 comentário:

Proud Bookaholic Girl disse...

É triste realmente. Apesar de todos os defeitos da Premiere, que tu apontas muito bem aqui, comprava-a todos os meses. As bancas já não vão ser as mesmas depois de Outubro. O português só gosta é de Caras e afins. :S