3 de janeiro de 2008

Os heróis deviam morrer de pé







INVEJA.
«Não vou a lado nenhum. Estou a morrer e quero morrer aqui mesmo.» JOHN BERNARD BOOKS (John Wayne)

Os heróis deveriam morrer de pé. Ou pelo menos com a dignidade merecida. Tendo em conta a sua dimensão no cinema clássico, John Wayne teve essa oportunidade, graças ao final simbólico que conheceu no seu derradeiro filme, O ATIRADOR. Vi-o pela primeira vez há poucos dias e acho que foi a homenagem merecida para que o eterno «cowboy» se despedisse do cinema-espectáculo pela porta grande.

Já pesado, de rugas salientes, cabelo grisalho e a agilidade a conhecer as suas primeiras hesitações, John Bernard Books é um veterano que se confunde com o próprio John Wayne
.

Vítima de um cancro galopante, escolhe a pacífica Carson City para morrer. Antes, recebe o diagnóstico pela sapiência do Dr. Hostetler (interpretado por outro actor de primeira água, um James Stewart de olhar cansado) e tenta encontrar consolo no lar de uma viúva (excelente Lauren Bacall) e passar a sua experiência de vida a um jovem (vivido pelo agora realizador Ron Howard).

É este o cenário de O ATIRADOR, ou as premissas perfeitas para o anti-herói ir de encontro ao seu destino. Previsível, ele emerge em toda a sua grandiosidade, num duelo final em que Books consegue honrar a sua longa experiência, mais sabido do que uma velha raposa, embora cansado por um corpo que o acaba por trair.

As coisas assim fazem sentido e apraz-me ter descoberto O ATIRADOR ainda em 2007, quando se assinalou o centenário do veterano do Oeste. Nascido no estado do Iowa, filho de um farmacêutico, John Wayne entrou para o cinema na década de 30, revolucionando o western com a sua pose de justiceiro duro mas profundamente humanista.

Aos 100 anos, é bom recordar a sua alta estatura, o olhar semicerrado, a voz grave, a pose viril e o sentido de missão que marcaram grande parte de mais dos seus 150 filmes. Marion Michael Morrison, o seu nome de nascimento, nunca se considerou um grande actor e disse, em diversas ocasiões, que nos filmes se limitava «a fazer de si mesmo».

Apesar disso, chegou a receber um Óscar de Melhor Actor por «Velha Raposa», em 1961. A sua entrada para a lista de lendas de Hollywood deve-se em grande parte à cumplicidade artística com o realizador John Ford, com quem colaborou mais de uma dezena de vezes.

Sobre o western, o género que lhe deu reconhecimento, Wayne considerava ser «o mais próximo da arte em relação a qualquer outro no negócio do cinema». Palavras sábias!

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