5 de agosto de 2008

OS SETE PECADOS DE... Julho 2008








INVEJA.
Na habitual abordagem às revistas de cinema lá de fora (sim, porque por cá a oferta não existe...), houve um surpreendente motivo de orgulho. Na prestigiada «Sight & Sound», o filme do mês de Junho foi o português JUVENTUDE EM MARCHA. Sim, o poderoso olhar de Pedro Costa para Ventura e outros habitantes (quase fantasmagóricos...) do Bairro das Fontainhas mereceu duas bonitas páginas desta publicação britânica. E os elogios não faltam: a fotografia é comparada ao «chiaroscuro» das pinturas clássicas, as imagens lembram «fotografias estáticas». O crítico apela a mais do que um visionamento deste trabalho de um «dos realizadores mais talentosos a nível europeu», para se perceber de perto todas as subtilezas de um documento doloroso mas, mais do que tudo, humano. Sabe bem ver que o reconhecimento merecido ainda encontra o seu lugar.


LUXÚRIA. Já havia lido com particular agrado o livro de Somerset Maugham, mas só agora tive a oportunidade de contemplar o entusiasmante desempenho de Annette Bening em «As Paixões de Júlia». Sim, o seu jogo de interesses para se manter no topo das melhores actrizes de teatro resulta numa competente adaptação, sem grande novidade, até demasiado certinha e seguidista dos filmes de género, mas que se supera com o furacão Bening, aqui a oscilar entre um casamento sem sexo com um Jeremy Irons low profile e a relação voraz com um jovem oportunista. O palco é todo seu!

IRA. A natureza pode virar-se contra nós, avisa-nos M. Night Shyamalan no seu mais recente filme, «O Acontecimento», mal aceite pela crítica e que voltou a colocá-lo longe dos dias de glória de «O Sexto Sentido» ou «Sinais». Ainda assim, mais um bom teste de suspense, com premissa aliciante e cenas de terror que assustam, de facto. O talento ainda não se escapou.

GULA. A colecção que o jornal «Público» elaborou a partir de um catálogo da revista «Cahiers du Cinéma» acabou em beleza: um excelente documento sobre o português Manoel de Oliveira, à beira do centenário, é a melhor homenagem que um jornal de referência lhe podia fazer. Muito bem escrito e com olhar minucioso para uma história que se estende por todo o cinema português, este trabalho de Mário Jorge Torres merece ser bem recebido não só pelos cinéfilos, mas também por todos os que se interessam pela cultura nacional. O serviço público andará por aqui...

AVAREZA. Um filme de fantasmas, falado em espanhol e passado numa mansão pode não parecer novo, mas é. «O Orfanato» volta a colocar o terror intimista na ordem do dia e confirma Guillermo Del Toro não só como excelente realizador, mas também como produtor interessado no ponto de vista do espectador.

PREGUIÇA. Aos fins destes meses de mudança, ainda poucos terão entendido a razão porque os quatro canais de cinema premium, agora TV Cine, terão mudado de perfil. Se antes apostavam em géneros, agora cada um exibe os filmes do outro ao lado, pelo que nada os distingue. A pergunta impõem-se perante esta estratégia: por que razão são então quatro e não apenas dois?

SOBERBA. Ir a uma «Sessão na Esplanada» na Cinemateca é um luxo. Daqueles muito simples, é certo, mas que sabem sempre bem. Já são um ritual anual. Este ano a sessão foi «Pintores e Raparigas», uma comédia muito ligeira com Dean Martin a cantar e Jerry Lewis a fazer das suas, enquanto ambos sonham com a glória e tornarem-se artistas de relevo na banda desenhada. A pin up de serviço é «uma estreante» Shirley MacLaine.

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