16 de agosto de 2008

Rindo sobre telhados de vidro








AVAREZA.
«Sempre quis ser um Tenenbaum.» Eli (Owen Wilson)

Sou um acérrimo defensor do estilo de Wes Anderson, desde o tímido «Gostam Todos da Mesma» à viagem espiritual de «The Darjeeling Limited».

E o que já se nota na sua obra? Um lado cénico forte, diálogos mordazes de fazer inveja e uma permanente inquietação com a perda da união familiar.

Lembro-me disso com OS TENENBAUMS - UMA COMÉDIA GENIAL, obra maior que colocou actores de elevado calibre a darem corpo, com afinco, a um conjunto de personagens fragilizadas precisamente pela ausência de uma estabilidade familiar.

Neste ponto, o filme é talvez o mais característico da carreira de Anderson. A história assume contornos satíricos, enquadrados numa estrutura literária bem conseguida, fazendo lembrar um qualquer romance de cordel.

A espontaneidade das intenções argumentativas bate certo com o fino recorte humorísitico que domina toda a fita. Royal Tenenbaum (Gene Hackman) é o patriarca ausente do contexto familiar por muitos anos, que um dia decide voltar ao convívio do lar.

Porém, aquilo com que se depara mostra um vazio emocional que é partilhado tanto pela sua esposa (Anjelica Houston) como pelos seus três «geniais» filhos: Chas (Ben Stiller), o mais velho, um investidor milionário deprimido com a morte da mulher; Margot (Gwyneth Paltrow), a filha adoptiva, escritora de sucesso que tem um casamento infeliz; e Ritchie (Luke Wilson), um tenista profissional que vive isoladamente apaixonado pela sua irmã.

Royal procura então restabelecer o contacto afectivo com o seu clã, mas logicamente é desprezado por todos.

O filme relata então o desejo de aproximação e a busca por um novo elo familiar, que se esbate no confronto com o lado neurótico e absurdo de todas as personagens. Esta é a fase em que Wes Anderson parece mais seguro da sua forma de filmar, dada não só a minúcia da encenação, como o detalhe dos adereços (também bastante explorado, por exemplo, em «The Darjeeling Limited») ou o lado acutilante dos diálogos.

No fundo, o filme assume-se como um caleidoscópio de neuroses que procura fazer rir das fragilidades alheias. Mas é um riso sincero, pouco malicioso.

Poder-se-ia comparar esta obra a uma espécie de «Beleza Americana» non sense, dada a profundidade com que cada personagem lida com a solidão e as emoções indesejadas.

É como o riso maquilhado de um palhaço, que pode camuflar a tristeza latente do seu espírito, fintando o espectador numa aparente superficialidade das acções, mas que deixa a descoberto um sentido profundamente satírico - expressão macambúzia da personagem de Gwyneth Paltrow é bem paradigmática disso mesmo.

No final, percebe-se que o que se pretende é rir com a delicadeza e a crueldade dos defeitos. Ou melhor, sorrir envergonhado. A nossa família também tem algo de disfuncional...

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente filme!