23 de junho de 2009

Dar uma luzes aos irmãos Lumière (IX)











Caros irmãos Lumière,

Apetece-me falar do
western, esse género cinematográfico que se quer confundir com as próprias raízes norte-americanas, uma espécie de fado da essência cultural de quem manda no cinema.

É certo e sabido que, neste campo, o cineasta John Ford é o maior de todos. Não só por ter a carreira mais extensa, mas pela capacidade em ilustrar em belíssimos enquadramentos a dimensão humana de histórias que se perdem por paisagens áridas. A essência das aventuras do Velho Oeste resume-se quase sempre a uma missão - de natureza tão simples que até incomoda! - e das múltiplas tentativas para a concretizar.

Pelo meio há as convicções, os laços familiares, a amizade imponderável, os inimigos até ao fim, as perseguições agitadas. Um bom
western é isto. É sentir-se o pulsar de quem desbrava caminhos, de quem ousa. E é talvez a intensidade da sua mensagem que matou o género. O datou num tempo, entendido como de glória.

Hoje, a grande maioria dos esforços para reabilitar o género não são mais do que simples simulacros de algo que já se fez. Há honrosas excepções e aí há que tirar o chapéu a Clint Eastwood e ao seu «Imperdoável», mas a nobreza desse filme estava precisamente na habilidade em perceber que se tratava de uma tentativa de ressurreição. Ao não querer revitalizar o seu património, limitando-se a aceitá-lo, Eastwood explica que ser-se veterano não é para qualquer um.

Há ainda outra característica forte do
western: a sua essência dramática, que se faz de novelos narrativos quase telenovelescos. Mas no bom sentido do termo. Lembro-me disso ao ver «Homens Violentos» (1955), filme de Rudolph Maté.

Aqui, Glenn Ford quer ceder o seu rancho ao maior latifundiário da região, vivido por um apagado Edward G. Robinson, que, para mais, não consegue andar após um acidente. O facto de ser aleijado torna-o ainda mais prepotente e vítima de manipulação quer pela mulher (extraordinária e sempre cínica Barbara Stanwyck), quer pelo seu capataz.

O excesso de poder manifestado pelo vilão da história leva a personagem de Glenn Ford a mudar de ideias e a ficar na sua terra para lutar pela sua propriedade e o direito à independência.

É claro que nada disto será fácil e o rumo de «Homens Violentos» confunde-se com um imenso retrato de personagens desencantadas. Parece que ninguém tem nada a perder e por isso ousa viver no limite.

Aqui o óbvio destaque vai mais uma vez para o papel da mulher irascível vivida por Barbara Stanwyck. Diz-se que, muitas vezes, as mulheres são submissas no
western. Aqui é o oposto: é ela a mais pérfida encarnação do mal. O que torna tudo mais interessante...

«Não me obrigues a lutar porque não vais gostar da minha maneira de lutar», alerta a certa altura John Parrish, o herói tímido de Glenn Ford. No
western, os homens parecem ainda maiores. E dos fracos não reza a história!

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