10 de junho de 2009

Dar umas luzes aos irmãos Lumière (VIII)












Caros irmãos Lumière,

Da recente viagem que fiz à Grécia apercebi-me que o país ainda tem grande tradição de sessões de cinema na esplanada, em particular nas suas ilhas. O ritual deu-me saudades e alguma pena por pensar que, com excepção da Cinemateca no Verão, contam-se pelos dedos de uma mão as experiências semelhantes por cá.

Ver cinema ao ar livre é outra coisa. Coloca a brisa da noite como personagem secundária do filme que estiver a dar, enaltece o espírito de experiência colectiva e até permite, em muitos casos, ceder aos vícios de uma bebida ou de um cigarro.

Resumindo: aligeira o acto, sem lhe retirar o mínimo de autenticidade. É certo que para se ver cinema ao ar livre tem de se escolher a noite, período por excelência para a contemplação. Não só porque o luar se assume como a luz perfeita de fundo, mas também porque esta é a altura indicada para digerir as experiências acumuladas durante o dia, além do silêncio. A noite traz consigo o silêncio retemperador que também possibilita mais concentração.

Experiências positivas ao ar livre? Ver A MÚMIA, de Karl Freund, nunca foi tão divertido. Até porque obras ligeiras parecem mais elevadas neste tipo de sessão. O próprio Boris Karloff, apesar do rosto sisudo, combinou bem com as estrelas de um serão soalheiro.

Houve também «Big Fish», esse conto sobre a própria arte de contar um conto que a mão engenhosa de Tim Burton converteu em fantasia intimista; ou «Avanti!», a obra que respira Verão por todos os poros de Billy Wilder, com Jack Lemmon a enterrar um corpo e a soltar o seu numa soalheira e pitoresca Itália.

Vivências deste tipo não se esquecem. Os filmes parece que ficam ainda mais entranhados na retina. Por isso soube bem perceber que ainda há grande tradição do cinema ao ar livre por esse mundo fora. Que tal voltar ao hábito por terras lusitanas?

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