11 de junho de 2009

Elogio da simplicidade












AVAREZA. «Um caloroso elogio da amizade, do espírito de comunidade, da sociabilidade civilizada, dos rituais compartilhados que unem as pessoas e da unidade familiar Eurico de Barros in Cinema 2000

As melhores coisas são as mais simples. Até no cinema. Lembro-me disso quando vejo CHUVEIRO, cuja mensagem é precisamente a de enaltecer os pequenos nadas que formam a personalidade.

O prazer do convívio, a necessidade de nos sentirmos em família são mensagens universais que o realizador Zhang Yang soube decompor com as doses certas de integridade artística.

E de que nos fala este caloroso filme? Sobre o confronto entre tradição e modernidade, mas de um modo poeticamente singelo, com direito a breves reflexões sobre o que realmente interessa.

Um homem de pele enrugada e corpo seco pelo peso do trabalho parou no tempo. Juntamente com o filho mais novo, que possui atraso mental, dirige um balneário inserido numa pequena comunidade que resistiu até agora à transformação cosmopolita de Pequim.

Neste espaço, o tempo pára e um rol de personagens que se conhecem como a palma da mão usam o ritual do banho público não só para limparem o corpo como também o estado de espírito.

No local, há episódios cómicos que preenchem a história e lhe dão a vivacidade precisa para ser maior. Seja o par de idosos que se insulta diariamente mas que não consegue viver sem a respectiva companhia, o jovem tímido que só ousa soltar a sua voz de rouxinol quando está no banho, ou o casal que recupera a líbido, com uma ajudinha do mestre dos banhos públicos.

A vida dá nova volta quando o filho mais velho, que se havia retirado para a grande cidade em busca de sucesso, regressa a casa preocupado com o estado de saúde do pai. Falso alarme, mas ainda assim o suficiente para se perceber que aquele que saiu à procura do êxito é um estranho. Não só para quem usa o balneário como para o próprio pai e irmão.

Haverá tempo para inverter esta situação? Claro que sim, até porque Zhang Yang não quer falsas surpresas que comprometam a vida destas personagens. CHUVEIRO é caricatural e até previsível, mas só no lado bom destes conceitos.

Os afectos ganham peso de dia para dia, na mesma certeza como os banhos públicos abrem as suas portas para quem quiser limpar o peso da vida quotidiana. A paz tem morada certa em nome de uma tradição que aqui se debate com o futuro massacrante.

A dualidade pode parecer primária e simplista, mas a mensagem deste filme não o é. CHUVEIRO (estreado em 1999, com o título original Xizao) respira relações humanas e «limpa» tudo o que é supérfluo. Só fica aquilo que importa: as coisas simples.

Sem comentários: