
AVAREZA. O realizador turco Fatih Akin já é um cineasta extraordinário, mas anteve-se um futuro radioso. A obra do ano chama-se DO OUTRO LADO e é um conto melancólico sobre vidas divididas entre a Alemanha e a Turquia, ao mesmo tempo que se enleia a morte numa teia muito bem urdida. Há contenção de meios, mas não de ideias cinematográficas. O cinema-emoção tem aqui a sua cartada mais forte.
SOBERBA. Olhar o futuro pode dar azo a muitas interpretações, mas certamente redutoras quando comparadas com a visão da Pixar. WALL-E foi a surpresa animada do ano, que apostou em silêncios e muita metáfora existencialista ao dar um enorme coração ao boneco electrónico dos olhos tristes, que se apaixona por uma robot topo de gama. Carregadinho de conceitos e acção elaborada, o filme vai sair de Óscar debaixo do braço. Afinal há futuro para o desenho animado!
INVEJA. Num só ano, dois filmes dos irmãos Coen. Mas o melhor veio antes: ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS representa o regresso às origens da dupla, que voltam a mostrar ser única na altura de descontruir o thriller enraizado no medo, no engano e na figura do perdedor. Levou as principais estatuetas douradas para casa e revelou o pior penteado de sempre... o de Javier Bardem. Já é um clássico.
PREGUIÇA. Podem acusar Wes Anderson de estar preso a um estilo. Nesse contexto, THE DARJEELING LIMITED é um caso de imensa preguiça. Mas da boa para os aficionados da gestão dramática assente nas relações familiares despedaçadas, nos enquadramentos estáticos, nas falas lacónicas e pejadas de ironia e nos décors muito ricos em pormenores estéticos. Adorar esta história tem algum mal? É o filme cool do ano.
IRA. Tentar fugir às regras do mundo ocidental pode dar mau resultado... mas um belo filme. Sean Penn foi longe neste O LADO SELVAGEM, um conto trágico, baseado em factos reais, sobre a vontade de ter a alma (e o corpo) livre de vícios e apegos, mas correndo-se o risco de perder a própria humanidade. Emile Hirsch tem um dos desempenhos do ano. Mas é a própria visão estilhaçada de Sean Penn que dá mais consistência à obra
GULA. Tim Burton gosta de sangue... e a sua veia negra encaixou como uma luva nesta adaptação sumptuosa de SWEENEY TODD, um musical soberbo com Johnny Depp novamente em auto-superação. O cuidado plástico é único e a veia gótica também ainda lá está. As perversas empadas são a gulodice errante do ano.
LUXÚRIA. Espanto de 2008: O SEGREDO DE UM CUSCUZ. É certo que também pode ser entendido como caso de gula, mas é principalmente um belo retrato humano sobre pessoas desajustadas. São os laços familiares que se testam aqui, por onde passam suspeitas de traição. No entanto, este grandioso melodrama é um filme de personagens. Que merecem todo o respeito.
TOP 10 de 2008
1 - DO OUTRO LADO
2 - WALL-E
3 - ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS
4 - THE DARJEELING LIMITED
5 - O LADO SELVAGEM
6 - SWEENEY TODD
7 - O SEGREDO DE UM CUSCUZ
8 - A TURMA
9 - 4 NOITES COM ANNA
10 - FILHO DE RAMBOW: UM NOVO HERÓI