30 de maio de 2008

NA SALA ESCURA: Salteador depois dos 60







SOBERBA.
«Se querem ser bons arqueólogos... têm de sair da biblioteca.» INDIANA JONES (Harrison Ford)

O cinema está sem ideias. Ou melhor, sempre que se tem uma boa ideia há que multiplicá-la enquanto render. Todos os verões, cada vez mais as sequelas, os «remakes», as prequelas, as continuações não assumidas se multiplicam, quase sempre para deixarem um amargo de boca.

E até trilogias intocáveis são alvo de nova manipulação, tentando restituir o êxito de outrora. Devem ser poucos os que não sentiam saudades de Indiana Jones e consideram os três filmes originais como boas provas de que a aventura se pode inscrever no cinema sem que se comprometa a emoção, a inventividade.

Até porque «Os Salteadores da Arca Perdida» mostrou ao mundo que, se George Lucas e Steven Spielberg eram bons em separado, juntos tornavam-se imparáveis. O tempo passou... o cinema de massas parece preferir outro tipo de aventuras, mais amarradas ao poder do fantástico. Onde se insere a veterania de Indiana Jones neste novo paradigma?

Aproximando-se o mais que possível do mesmo estilo de sempre, preferindo voltar a testar os ponteiros do relógio, evitando os efeitos digitais exacerbados e insistindo nas acrobacias e nos socos como forma de passar obstáculos.

INDIANA JONES E A CAVEIRA DE CRISTAL é tudo aquilo que esperávamos do velho "Indy", com a sua sabedoria lacónica, o gosto pelas curtas palavras, a vontade em salvar o dia
depois de muitas peripécias.

Um filme de Indiana Jones continua a ser uma montanha-russa e Spielberg fez a justa homenagem ao seu herói, mostrando que os cabelos brancos, as rugas e o ar pesado só dão mais sabedoria a uma boa jornada.

Neste tempo de regresso de velhos heróis - sim, Rambo, Rocky, Batman e Super-Homem já voltaram sem pedir licença -, o arqueólogo mais famoso soube actualizar-se, mantendo-se preso ao seu tempo. Não pedíamos mais.

INDIANA JONES E A CAVEIRA DE CRISTAL
De Steven Spielberg (2008)
* * *
O chapéu, o chicote. Haverá Indiana Jones para lá disso? E que hipótese existe para o herói mais humano de todos neste século XXI? Toda, porque os protagonistas de hoje quase sempre parecem descolados da esfera sensível. Não queremos rostos divinizados, mas referências que ajam, se assustem, ironizem e sejam conservadoras à sua maneira. Além de ser o melhor desempenho de Harrison Ford dos últimos 10 anos, este novo filme é um regresso de Spielberg ao seu universo fantástico, genuinamente juvenil, que ainda lhe assenta como uma luva. Sim, há personagens presas a caricaturas (como a de Cate Blanchett), outras algo subaproveitadas (como a da bem regressada Karen Allen), há uma história tão excêntrica que chega a ter graça, e pouca vontade em inovar. Mas também não era isso que queríamos. A vontade era apenas comprovar como Indy se voltaria a safar de mais uma missão. Resultado? Prova superada.

Sem comentários: