28 de maio de 2008

Sydney Pollack era a evolução de Hollywood







INVEJA.
«Não avalio o valor de um filme pelo prazer que tenho em dirigi-lo. Se ele é bom, é porque deu mesmo muito trabalho.» SYDNEY POLLACK

Começou a dirigir no final dos anos 60, discretamente. Foi, a par com Scorsese ou Coppola, um dos cineastas rebeldes dos anos 70 e colocou Hollywood a seus pés na década seguinte.

Menos ambicioso, Sydney Pollack passou os anos 90 a revisitar géneros e a aperfeiçoar o cinema político, que culminou na sua última longa-metragem «A Intérprete», filmada na sede das Nações Unidas.

Morreu no início da semana (dia 26 de Maio), vítima de doença prolongada, e com ele perdeu-se mais um pedaço de Hollywood.


Sim, porque Pollack era um realizador que não pretendia mudar os cânones da indústria, apenas aperfeiçoá-los e dar-lhes o seu cunho. Até porque a ousadia, a reverência aos seus mestres, as convicções e o gosto pelo cinema comercial estiveram lá sempre, bem como as «perninhas» na representação, em obras de Woody Allen ou Stanley Kubrick.

O que nos deixa, Sydney Pollack? Uma boa lição de história de cinema, das últimas quatro décadas, até porque os seus trabalhos souberam como poucos incorporar o estilo e o tom do cinema no seu tempo. Tal como em «As Brancas Montanhas da Morte» ajudou a «enterrar» o western clássico, em «Os Três Dias de Condor» analisou o clima de paranóia do cinema político. Já com «Tootsie» espelhou uma certa abertura sexual e aperfeiçoou a sátira, com «África Minha» mostrou como se faz um clássico romântico do mais alto calibre (ganhou dois Óscares por isso, incluindo o de Melhor Realizador).

Em «Sabrina» rendeu-se aos remakes (optando por ir ao património de Billy Wilder buscar inspiração) e, com a «Intérprete», mostra como os dias de hoje são, a nível planetário, muito movediços.

O que mais lhe podemos pedir? A imortalidade. Depois das mortes de Ingmar Bergman e Antonioni no ano passado, esta é a de maior peso de 2008. Mais um sinal de que o mundo real continua, no seu ritmo inexorável. Ficam os filmes, a suspenderem o tempo.

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