7 de junho de 2009

NA SALA ESCURA: Culto ressuscitado












SOBERBA. «Live long and prosper.» SPOCK (Leonard Nimoy)

É um bocadinho irritante constatar que o cinema está cada vez mais sem ideias. Ou melhor: percebeu-se que é mais fácil alcançar o êxito, capaz de pagar as contas, se se for repescar um clássico de outros tempos ou inventar uma sequela menor para uma história que já terminou algumas vezes.

Na semana em que se estreou o novo capítulo de «Exterminador Implacável», fui ao cinema ver finalmente o que o criador de «Perdidos» fez com a saga «Star Trek». Com uma agravante: sempre vi as peripécias da nave Enterprise com algum distanciamento, projecto menor face a outros como o «Espaço 1999» ou «A Guerra das Estrelas».

O que me incomodava particularmente era o culto desmesurado perante um projecto que, a meu ver, não o justificava.

Engoli em seco e lá assenti perceber como é que Mr. Spock e companhia chegavam aos tempos de hoje, depois de uma série de filmes pouco expressivos na década de 90. Basicamente era o tudo ou nada na tentativa de reabilitar a saga, mas Hollywood costuma dar-se bem quando parece que o projecto só consegue segurar-se à custa de electrochoques.

E foi o que aconteceu aqui. STAR TREK é um trabalho certeiro por optar em mostrar como tudo começou e, assim, não só se contentam os fãs como os potenciais admiradores da geração de 90. Mas, mais do que isso, o filme possui uma dinâmica imbatível, descarta qualquer tipo de tempo morto e ainda se diverte a refazer chavões e a convocar glórias do passado - até Leonard Nimoy faz uma perninha numa inventiva distorção temporal.

A acção surpreende o olhar, mas sem ser desmesurada. Há até um tom kitsch que reabilita as imagens e os sons de uma certa ficção científica cristalizada no tempo. Depois, os novos actores requisitados, são apostas sólidas apesar de praticamente desconhecidas, com particular destaque para o novo Mr. Spock (Zachary Quinto).

A surpresa é ainda maior quando se vê Winona Ryder num pequeno papel. Sabe bem recordar a actriz, que veio dizer à revista «Empire» que sentiu esta pequena participação à semelhança - e salvo as devidas distâncias! - da de Marlon Brando no primeiro «Superman».

A saga STAR TREK está viva e os números entusiasmantes nas bilheteiras deixam adivinhar sequelas até mais não. O mérito está na realização descomplexada de J. J. Abrams, um dos nomes a reter no futuro. O novo cinema comercial passa por ele. E se tiver sempre a leveza e o sentido de divertimento deste filme estará em boas mãos.

STAR TREK
De J.J. Abrams (2009)
* * *
Quando se quer reabilitar uma saga nada como baralhar e dar de novo, regressando-se às origens. Foi o que Christopher Nolan fez com Batman e é o que J.J. Abrams escolheu para STAR TREK. Assim, percebemos as circunstâncias do nascimento de Kirk, a sua entrada na Academia Starfleet, o seu antagonismo e posterior amizade com Spock e as batalhas contra os Romulanos. Entre o impulso de Kirk e a racionalidade de Spock, constrói-se uma divertida e enérgica acção que tenta justificar as suas opções em nome do bom espectáculo. Não pede para ser levada muito a sério, tem fragilidades como a presença caricatural de Eric Bana enquanto vilão, mas lembra outros tempos. Actualizados com engenho sem perderem a frescura.

1 comentário:

emot disse...

Concordo. Não sendo um filme brilhante, convence. A minha personagem preferida é o Spock original... é a mais convincente e forte, mesmo que tenha um pequeno papel.
Vi hoje.