16 de novembro de 2007

A América de novo à beira da colisão







IRA.
«Uma nação debaixo de fogo.» (Mote de Pesadelo Americano)
Mesmo para quem não gostou particularmente de «O Último Rei da Escócia», a estatueta dourada entregue este ano ao actor Forest Whitaker nunca foi posta em causa, não só pelo desempenho intenso na pele do despótico líder do Uganda Idi Amin, mas também porque o Óscar soou a reconhecimento justo para um comprometido talento que há muito se desdobra em projectos marginais, não só como actor, mas também como realizador, produtor e argumentista.

Embora os holofotes raramente se tenham voltado para este texano, Whitaker já deixou (apesar dos altos e baixos) o seu nome inscrito no firmamento de Hollywood, graças a obras-primas como «Bird – O Fim de um Sonho», «Jogo de Lágrimas», «Fumo» ou «Ghost Dog».

Talvez pelo reconhecimento que «O Último Rei da Escócia» lhe ofereceu, foi lançado em DVD um projecto discreto, de grande actualidade narrativa, mas que nunca despertou as atenções da exibição cinematográfica.

PESADELO AMERICANO é um filme-mosaico em que Whitaker, além de protagonista, foi produtor-executivo. A obra, de 2005, chamou pouco à atenção muito por culpa do interesse gerado em torno de «Colisão», filme de Paul Haggis que mostrava uma multiplicidade de personagens que sentiam na pele os efeitos menos positivos do melting pot americano e que levou para casa três Óscares no ano passado.

Em PESADELO AMERICANO, também encontramos um naipe de figuras que se sentem desajustadas num país onde os alunos entram na escolas de armas em punho e a violência é legitimada por uma permanente sensação de insegurança
.

E é precisamente no rescaldo de uma tragédia escolar, em que um jovem mata a sangue frio vários colegas, que esta obra de estreia do desconhecido Aric Avelino encontra as suas premissas, preferindo centrar o foco da acção nas repercussões afectivas e sociais da mãe do jovem assassino (interpretada por uma Marcia Gay Harden em grande forma) e do seu irmão mais novo.

É neste contexto extremo, que entra em cena mais uma densa composição de Forest Whitaker, na pele do director de uma escola obcecado com os impulsos imprevisíveis dos alunos, instalando detectores de metais e comportando-se como um polícia turbulento que tem dificuldade em comunicar com a própria família.

Ao tentar que cada história descodifique os vários paradoxos de uma sociedade que vive na sombra da lei da bala, cada episódio de PESADELO AMERICANO apresenta uma textura visual diferente e não existe a tentação de moralizar as personagens, apenas confrontá-las com um legítimo sentimento de insegurança.

Na verdade, a estética e a aposta narrativa do jovem cineasta Aric Avelino (de quem se espera um futuro risonho na direcção) apontam mais para o minimalismo de «Elephant» do que para a visão exacerbada que Michael Moore criou – e bem! – em «Bowling For Columbine». No final deste mosaico, não há necessidade de querer forçar a união entre as várias histórias expostas, nem mesmo com uma canção – opção que «Colisão», por exemplo, copiou de «Magnólia».

Este é mais um ponto a favor de PESADELO AMERICANO: parece ser feito a pensar no espectador que percebe que, ao centrar-se no tema da violência, raramente se podem vislumbrar no filme finais felizes óbvios. Por outro lado, essa pode ser também a razão para que a obra, que se estreia em DVD apenas com o trailer como extra, tenha aguardado dois anos por uma exibição no circuito comercial.

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