6 de novembro de 2007

NA SALA ESCURA: Cansados de fantasia?








SOBERBA.
«Há uma melhor razão para me levares contigo. Talvez precises de um segundo par de mãos.» TRISTAN (Charlie Cox)

A trilogia de «O Senhor dos Anéis» teve um óptimo e um mau efeito sobre o cinema comercial: o bom foi mostrar que o cinema consegue ser fiel a obras de um onirismo aparentemente impossível na tradução para imagens e o mau foi que o seu êxito estrondoso deu origem a uma série de sucedâneos de qualidade pouco recomendável.

No meio desta fornada, houve um título que se destacou pela positiva, mas que ficou perdido pela imagem promocional e um rótulo infligido por antecipação que dificultou a sua carreira comercial. Depois, há ainda o título em português que força alguém com mais de seis anos a fugir a sete pés da sala escura: STARDUST - O MISTÉRIO DA ESTRELA CADENTE.

De facto, o que falhou neste filme não foi a sua história, o elenco bem escolhido e a dose de inventividade que teria sido genial se fosse entregue a alguém com a visão gótica de Tim Burton. O que o comprometeu foi a tentativa de o vender como obra para crianças quando o que o filme consegue muito bem é levar os adultos a embevecerem-se com uma história simpática
, cheia de reviravoltas e que tem ainda Michelle Pfeiffer e Robert De Niro a gozarem com as suas imagens mediáticas.

Assim, por detrás de uma premissa «de encantar», está uma jornada bem alinhavada sobre a perda da inocência que é mais complexa do que se podia fazer crer. E há diálogos saborosos, uma moralidade disfarçada por alguma acutilância mordaz e efeitos especiais que não comprometem o todo.

STARDUST - O MISTÉRIO DA ESTRELA CADENTE é apenas uma diversão para quem já cresceu, um conto que aparenta ser de fadas, mas que são as bruxas que ganham destaque. Na missão do jovem Tristan (Charlie Cox), que prometeu ingenuamente à mulher que julga amar entregar-lhe uma estrela cadente, nada faria antever que a própria estrela (Claire Danes) se poderia tornar o objecto da sua afeição. E pior: é cobiçada pelos filhos de um rei com o ar pomposo de Peter O'Toole e por uma Michelle Pfeiffer com queda de cabelo e mais rugas do que uma camisa assim que sai da máquina de lavar.

Um aviso: esqueçam «As Crónicas de Nárnia», «Os Irmãos Grimm» ou mesmo «Eragon». Lembrem-se do lado encantantório de «História Interminável», da aura de «O Senhor dos Anéis» ou da intriga metafórica de «O Labirinto do Fauno». Agora misturem tudo outra vez. Talvez assim fiquem com uma ideia do que é este filme de Matthew Vaughn.



STARDUST: O MISTÉRIO DA ESTRELA CADENTE
De Matthew Vaughn (2007)
* * *

O ritmo do filme é completamente moderno, mas a sua aura é clássica. As personagem parecem saídas de contos de fadas, mas os diálogos e as reviravoltas quase que poderiam ser descoladas de uma moderna produção. Este «vai e vem» dramático torna o resultado convincente, mas algo disperso. Embora interessante e arrojado, o filme passado no mundo mágico de Stormhold parece datado mas é absolutamente moderno e uma afável «montanha-russa» que chama ao apelo pela aventura. Quem é que não gosta de jornadas capazes de mostrar o bom cinema fantástico?

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