11 de novembro de 2007

Novo festival rima com Almodóvar e Lynch







INVEJA.
«A inspiração não surge como uma revelação. Estou a tomar café e as notícias do 'Telediario' despertam-me histórias, assim como aconteceu com o filme 'Saltos Altos'.» PEDRO ALMODÓVAR

Passou discreto, com ar informal e acompanhado de mulheres. Pedro Almodóvar esteve em Lisboa, mas não apareceu em grande, com o foco que talvez merecesse por ser o cineasta prestigiado que hoje é aplaudido.

Veio dar o arranque do primeiro Festival de Cinema Europeu de Lisboa, um projecto em grande que o produtor Paulo Branco conseguiu concretizar.

As ambições do mesmo talvez pareçam desadequadas perante a nossa realidade cinéfila, mas continua a ser importante termos alguém entre nós que pensa em grande, ousa, comete erros, mas que se levanta novamente de cabeça erguida, com mais ideias sumptuosas do que antes. Paulo Branco está por isso de parabéns.

Ainda que a programação desta primeira edição seja extensa e demasiado heterogénea tem retrospectivas a ter em conta, nomeadamente as dedicadas a David Lynch (que é norte-americano, o que se estranha dado este ser um festival que pretende mostrar o que se faz no Velho Continente) e, claro, a Pedro Almodóvar.

O cineasta espanhol foi alvo, mais uma vez, das perguntas da praxe de «Como é que se sente?» e «Gosta de Portugal?». A novidade, dispararam os media portugueses, é que o realizador de «Má Educação» gostava um dia de filmar com Maria De Medeiros. Quando, não especificou... A sua obra é um verdadeiro case study que já tem longevidade suficiente para se perceber as suas tendências, fases e transições.

Depois de um início mais arrojado, ácido e sexualmente desinibido, o percurso de Almodóvar parece agora mais sentimental, maduro e a olhar fixadamente para a ideia de morte. Depois, depois há as mulheres, protagonistas de narrativas dignas da mais realista telenovela que Almodóvar coloca sempre em situações-limite.

Os diálogos são intimistas, o humor é contagiante, as reviravoltas fazem-se mais ao nível do coração do que da acção. Assim, é o cinema de Almodóvar, como se comprova no filme que o tornou num nome sonante, MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS (e que o festival transmite esta quinta-feira, às 17h30): na vida de Gloria (Carmen Maura), o caos afectivo é um passo que tanto a leva à loucura como a torna mais comovente.

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